sábado, 10 de fevereiro de 2018

UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS - A redenção da Discovery Publicações!

Olá.
Já está na hora de dar uma agitada neste blog. Já está no momento de diminuir os hiatos entre postagens. Por esses dias, estive, sim, produzindo material inédito – ilustrações, tiras, etc. – para acompanhar as postagens. Mas sobre o que escrever neste momento, para acompanhar as ilustrações?
Hoje, resolvi trazer a vocês mais uma leitura nerd que eu descobri recentemente. Mais um livro sobre cultura pop, sobre quadrinhos de super-heróis (como continua tendo filmes de super-heróis saindo, esse assunto não sai da nossa pauta), publicado pela atual editora (pretensamente) especialista no assunto, a Discovery Publicações. Mas esta publicação tem um quê de diferente das demais que eu já resenhei aqui.
Hoje, então, vou falar de UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS, de Alexandre Callari.

Já resenhei outros livros com nome parecido com este, que tratam de temas similares, de editoras similares. Mas UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS é um livro que se diferencia graças a um aspecto: a qualidade de seu texto. Já volto a esta parte.
A única informação de que não disponho no momento é o ano de publicação do volume, mas é provável que tenha saído entre 2016 e 2017. Já sobre Alexandre Callari, ele é um autor conhecido – editor e apresentador do programa Pipoca & Nanquim (https://pipocaenanquim.com.br/), especializado em quadrinhos e cinema; colecionador de HQs, autor de vários livros e tradutor. São dele, por exemplo, os livros das séries Quadrinhos no Cinema, da editora Europa, e Apocalipse Zumbi, da editora Generale – cada uma com três livros. Só para ficar no essencial... (fonte: https://www.skoob.com.br/autor/5470-alexandre-callari)
Quem conhece o que já foi publicado pela Discovery já meio que sabe de antemão quais são as principais características físicas do livro: 80 páginas, capa cartonada, com muitas ilustrações coloridas (mais de 200) de divulgação estrategicamente distribuídas entre o texto.
Mas podemos dizer que UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS é o melhor livro da linha de leituras nerds da Discovery, depois de 400 Imagens – Mangá do Começo ao Fim, de Sérgio Peixoto, e 100 Super-Heróis, de Guilherme Kroll. Os outros livros da linha, como Almanaque dos Quadrinhos – 120 Anos de História, de Franco de Rosa, e 300 Mangás, de Heitor Pitombo, já resenhados aqui, meio que correm por fora em relação a esses.
É que a Discovery às vezes comete muitas “barbeiragens” com suas publicações sobre cultura pop – lembremos, por exemplo, do Almanaque Heróis do Anime e do Almanaque Ilustrado do Desenho Animado na TV, que continham diversos erros de edição e que não satisfaziam totalmente ao leitor interessado em informações a preço popular.
Com UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS foi diferente. A editora se preocupou em diminuir os deslizes na edição – houve um erro detectável de edição, mas este é perdoável. O autor também teve a preocupação com o leitor. Seu objetivo, conforme explícito no texto introdutório do livro, é despertar a curiosidade do leitor para o universo dos super-heróis... dos quadrinhos. A preocupação mesmo foi com o universo dos quadrinhos e da literatura, das quais o universo cinematográfico foi uma consequência, um derivado. O foco do autor ficou nos super-heróis dos Estados Unidos e do Brasil – ele se desculpa pela não inclusão dos heróis de outras nacionalidades, como os japoneses e os italianos. Você leu certo: há um capítulo deste livro dedicado aos super-heróis de HQ criados no Brasil.
São sete capítulos no total, todos com as informações básicas sobre os referidos super-heróis, como histórico e intérpretes em outras mídias, além de informações essenciais sobre suas publicações no Brasil – que editoras publicaram os personagens, e algumas confusões que elas porventura cometeram. E o texto procura casar perfeitamente com as ilustrações dispostas à margem dos textos. Às vezes, aparece uma caixa cinza com curiosidades adicionais.
Começando pelo capítulo introdutório, tendo como marco inicial para contar a história dos super-heróis nos quadrinhos, o aparecimento do Yellow Kid, de R. F. Outcault, em 1895. A grande maioria dos especialistas em HQ concorda que o Yellow Kid é o marco inicial para qualquer história das HQ, já que esse trabalho, além de ter sido a primeira narrativa sequencial de grande alcance popular, foi uma das primeiras a utilizar as características icônicas das HQ, como os balões. Na esteira do Yellow Kid vieram as outras tiras de HQ, e o desenvolvimento do estilo que culminaria nos super-heróis. Vocês me entenderam. O capítulo ainda cita Winsor McCay e seu Little Nemo, George Herriman e seu Krazy Kat e Harold Gray e sua Little Orphan Annie.
No segundo capítulo, temos A Era dos Heróis da Aventura, ou dos personagens de HQs não cômicas, voltadas para o gênero de aventura, que servem de protótipo para as HQ de super-heróis. Não apenas nos quadrinhos; desde os pulps (livrinhos populares de contos de aventura), nos quais surgiram os primeiros personagens de aventura, com ou sem poderes. Os focos do capítulo ficam em Tarzan (desde E. R. Burroughs até Russ Manning, passando pelos icônicos ilustradores Hal Foster e Burne Hogarth), nos personagens de Robert E. Howard – Conan e Solomon Kane – nos heróis do rádio – Sombra, Cavaleiro Solitário (que, sabe-se lá por quê, por muito tempo foi chamado de Zorro no Brasil) e Besouro Verde – no Fantasma, e nos heróis de Alex Raymond – Flash Gordon e Rip Kirby (Nick Holmes).
Aí, chegamos à Era de Ouro, próximo capítulo, sobre a aparição dos primeiros super-heróis, consolidando nos EUA o formato comic book de histórias criadas exclusivamente para as revistas (basta lembrar que os primeiros comic books dos EUA, os populares gibis, quando apareceram nos anos 1930, eram compostos basicamente por republicações de tiras de jornal). A Era de Ouro dos gibis, como sabemos, tem por “marco zero” a aparição do Superman, em 1938 (as tiras de jornal também viviam a sua Era de Ouro, que vem desde muito antes do Superman). Os focos do capítulo ficam com: Superman (é claro); Batman (que dúvida, né?!); a editora Timely (futura Marvel Comics) e seus heróis pioneiros – Namor, Tocha humana e Capitão América (este tem por mérito ser o primeiro super-herói de sucesso a começar sua carreira em título próprio, no tempo em que a política era, antes, testar personagens novos em uma antologia com outras HQ, antes de arriscar o título solo); Capitão Marvel (futuro Shazam); o trio de ouro da All-American Publications (posteriormente incorporados à futura DC Comics) Flash, Gavião Negro e Lanterna Verde; Aquaman; Mulher Maravilha; e o caubói Cavaleiro Negro – vítima de uma falcatrua de sua editora brasileira, a RGE (futura Editora Globo).
O próximo capítulo trata da Era de Prata, marcada pela renovação do gênero heroico após a devastação provocada pela tétrade Segunda Guerra Mundial – Macarthismo – Fredric Wertham – Comics Code Authority, que quase acabou com o gênero heroico e com o formato comic book (por causa das HQ de crime e de terror). O marco inicial da Era de Prata foi a reformulação do Flash, em 1956 – na esteira, heróis antigos como o Lanterna Verde e o Gavião Negro ganharam novas identidades, uniformes, conceitos. As aventuras dos novos super-heróis, a partir daquele ano, passaram a ser mais calcadas na ficção científica que na magia e na mitologia. E é nesse contexto que começa a revolução promovida pela agora denominada Marvel Comics, sob a liderança da dupla Stan Lee e Jack Kirby, capitães do conceito dos super-heróis com problemas humanos e maior identificação com o leitor, marca registrada do período. Todos sabem: começou com o Quarteto Fantástico, em 1961; depois vieram Homem Formiga, Hulk, Thor, Homem Aranha, Homem de Ferro, Vingadores, Nick Fury, X-Men, Surfista Prateado, Inumanos... Meio que por cima, são citadas inclusive as mudanças ocorridas ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990 (até o Deadpool é mencionado neste capítulo). O capítulo ainda faz uma menção à editora Charlton, e seu respeitável catálogo de heróis (Besouro Azul, Capitão Átomo, etc.) que posteriormente seria incorporado à DC. Os heróis da Charlton serviriam de base para o personagens do Watchmen de Alan Moore – esta série, aliás, é citada esporadicamente ao longo do livro, sem maior aprofundamento.
No próximo capítulo, a Era de Bronze, a era (início dos anos 1970) em que as HQ de super-heróis passaram por novas mudanças temáticas. Com o afrouxamento das regras do infame Comics Code Authority, que havia prendido os quadrinhos de gibi a uma série de regras que não ofendessem a sociedade dos anos 1950, foram feitas muitas experiências que arejaram as HQ americanas e permitiram a liberdade criativa sem limites: doses maiores de violência (já que Conan chegava às HQ naquela época), conscientização social, histórias que falavam sobre drogas, o retorno dos então banidos quadrinhos de terror (que levou à criação: pela Marvel, do Motoqueiro Fantasma e de sua cultuada série do Drácula, de onde sairia Blade; pela DC, do Monstro do Pântano, e pela Warren, de Vampirella), personagens que pegavam carona nas modas da época, como a justiça urbana (Justiceiro) e os filmes de artes marciais (Mestre do Kung-Fu, Punho de Ferro)... o capítulo ainda cita: a criação dos Guardiões da Galáxia, o surgimento de uma nova leva de heroínas – Capitã Marvel, Mulher Hulk, Poderosa; a criação do selo Epic, o primeiro “selo adulto” de HQs da Marvel (precursora da Marvel Max), de onde saem Irmandade do Aço, Dreadstar, Marshall Law e Groo; as contribuições da editora First Comics, especializada em títulos para leitores maduros; a aparição das Tartarugas Ninja; e os contra-ataques da DC Comics, com Jonah Hex, Quarto Mundo (depois que conseguiu tirar Jack Kirby da Marvel)...
Capítulo seguinte: a Era Moderna, pós anos 1980, uma era que não é consenso entre especialistas: se já terminou, ou se pelo menos começou. O marco zero teria sido o ano de 1986, quando saíram as revolucionárias séries Batman – O Cavaleiro das Trevas e Watchmen, que abriram uma nova era de violência, brutalidade e artes experimentais. O capítulo se detém basicamente em Hellboy e em um breve histórico da Image Comics, responsável pelo “grande estrago” dos anos 1990. E aqui termina a parte referente aos Estados Unidos.
O último capítulo do livro foi reservado aos Heróis Nacionais, explanação breve sobre as tentativas mais bem-sucedidas de criação de super-heróis brasileiros. Do Capitão 7 a Zé Gatão, o autor cita vários heróis brasileiros e no que os seus criadores e as editoras que publicaram esse material contribuíram para a Nona Arte brasileira. São citados, após o Capitão 7: Raio Negro, Homem Lua, Hydroman e outras contribuições de Gedeone Malagola e da editora ICEA; Mirza, a Mulher Vampiro; as publicações das editoras Escala e Metal Pesado; Velta; Flávio Colin; Judoka, Jerônimo, o Herói do Sertão...
Que pena que foram apenas 80 páginas. Talvez por outra editora, Callari consiga realizar uma versão revista e ampliada do livro, pois tem muita coisa que dá vontade de saber mais a respeito. E tem muita coisa que faltou – como, por exemplo, as “invasões” dos desenhistas filipinos e dos roteiristas britânicos aos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980, respectivamente. Faltou falar mais de Frank Miller, Neil Gaiman, Alan Moore... Além disso, o texto de Callari procura ser descontaminado de preconceitos e parcialidades que geralmente acometem os que se atrevem a falar de cultura pop – já vi muita gente, em livros, sites e redes sociais usando de grosseria, argumentos sem fundamento e/ou calcados em opinião totalmente pessoal (geralmente equivocada), preconceito e ofensas para defender seu gênero favorito de HQ.
Callari quis que a gente pudesse voltar a reler seu livro, e procurar os trabalhos que ele cita. Bem, a Discovery Publicações já pode se considerar redimida.
Atualmente o livro se encontra à venda em saldos de estoque, a preço mais baixo que os R$ 19,90 originais. Este aqui vale a pena ter na estante, vale sim.
Para encerrar: não tendo outra ideia do que colocar, resolvi fazer algumas ilustrações especiais – arte-finalizadas a caneta esferográfica, só peço que não estranhem a qualidade – de super-heróis que eu criei. Todo desenhista amador sonha em criar seu super-herói, mesmo com as ideias originais para o gênero já escassas, por que comigo seria diferente?
Um dia pretendo aproveitar esses personagens. Já tenho em mente as histórias, origens e motivações dos personagens. Se alguém quiser informações sobre estes heróis, entre em contato que eu dou maiores detalhes. E, de preferência, divulgo ilustrações mais bem feitas que estas.
Aguardem novidades.
Até mais!

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