Olá.
Estamos
nos dias da festa popular mais típica do Brasil, o Carnaval. Mas o que tenho
para falar hoje não é relacionado ao Carnaval, mas a um assunto mais sério.
Vamos falar de quadrinho brasileiro. Lançamento recente.
Há
mais de um ano, em dezembro de 2014, o veterano quadrinhista brasileiro Klebs
Junior lançava sua nova empreitada artístico-comercial: o primeiro volume da
série em três partes PÁTRIA ARMADA. Que inclusive ganhou uma indicação ao HQ MIX, o "Oscar" das HQ brasileiras.
E,
um ano depois, em dezembro de 2015, quase exatamente um ano depois, Klebs
Junior consegue lançar a segunda parte! PÁTRIA ARMADA # 2, enquanto escrevo,
ainda está disponível nas bancas e livrarias!
Vamos
relembrar rapidamente. Klebs Junior, quadrinhista veterano com trabalhos para
editoras estrangeiras no currículo, já lançou vários projetos de HQs autoriais
que, no entanto, nunca foram levados até o fim – por causa da conhecida
dificuldade do quadrinhista brasileiro emplacar projetos próprios junto ao
mercado e ao público, diante dos comics e dos mangás. Fundou, com colegas, a
Escola de Artes Impacto Quadrinhos, que, mais tarde, se tornou o Instituto dos
Quadrinhos, e agora não é apenas uma escola de artes, como também uma editora.
O
primeiro grande projeto de Klebs Junior e colegas, sob o selo Instituto dos
Quadrinhos, foi PÁTRIA ARMADA, viabilizado através de campanha de crowdfunding
(financiamento coletivo) no site Catarse. A bem-sucedida campanha viabilizou o
lançamento do primeiro volume. E o Instituto dos Quadrinhos não parou por aí.
Em
2015, o Instituto lançou mais três álbuns nacionais, todos de ex-alunos da
instituição: Nikkei – Implacável Natureza
Mestiça, de Guilherme Raffide e Leandro Casco; Aurora, de Felipe Folgosi e Leno Carvalho; e O Caminho, de Roberto de Souza. Além, é claro, de PÁTRIA ARMADA #
2. E estão prometidos mais álbuns sob o selo Instituto dos Quadrinhos...
Bem.
PÁTRIA ARMADA é ambientado em uma realidade alternativa do Brasil. Combinando
política, ficção científica e guerra, traz uma realidade brasileira diferente:
em que o Regime Militar (1964 – 1985) não aconteceu; foi abortado, mas isso
resultou em uma guerra civil entre os Legalistas, defensores da democracia, e o
Federalistas, que querem instaurar uma ditadura militar. Tal conflito resultou
na detonação de duas bombas químicas em duas grandes capitais brasileiras, que
mataram pessoas e contaminaram muitas outras – e os contaminados, com o tempo,
se tornaram paranormais, ou melhor, ganharam superpoderes. E esses seres
superpoderosos estão sendo aproveitados nas fileiras de ambos os exércitos...
Até
aqui, Klebs Junior já nos convida a questionar: teria sido o Golpe de 1964 um
mal que veio para o bem? Estamos, amigos, em tempos em que já não sabemos mais
em quem acreditar quando se trata de História: de um lado, os “esquerdistas”
defendendo que o Regime Militar não trouxe nada de bom ao Brasil de hoje; de
outro, os “direitistas”, defendendo que o Regime Militar foi um mal necessário.
Tão necessário, que há gente, nos dias de hoje, defendendo o retorno doo
militares ao poder, afinal, “a democracia não serviu pra nada, naquele tempo
sim havia mais respeito às instituições, mais patriotismo...”, e por aí vai. Eu
prefiro não me posicionar quanto ao assunto, li tantos argumentos, de ambos os
lados, e não sei mais em quem acreditar; do lado de quem acabe me posicionando,
acabo sempre me dando muito mal ao entrar em discussões com a gente estúpida
das redes sociais, que, ao defenderem suas posições, acabam inevitavelmente
tratando o leitor como se fosse um idiota alienado e... Desculpem.
Bão,
voltando ao quadrinho. PÁTRIA ARMADA # 1 pecou bastante pelo roteiro não
conseguir caracterizar bem os personagens, prejudicando a empatia do leitor com
os mesmos. Na realidade, o desenho de Klebs Junior, com a arte-final de
Wellington Diaz e Nelson Pereira, e cores de Renne Stefani, Carlos Lopez e
Marcio Menyz, deixa tudo mais confuso – em certos momentos, é difícil
identificar corretamente os personagens, exigindo mais leituras para captar
tudo. Difícil saber quando personagens estão do lado dos Legalistas ou dos Federalistas,
ou mesmo o seu tempo de atuação dentro da aventura.
Mas
já dá para estabelecer quem são os personagens: do lado Legalista, ou melhor,
dos “heróis”, temos: o Coronel Samuel Venâncio, o líder de caráter ambíguo,
que, no início da história, acolhe nas fileiras do seu exército a jovem e
rebelde Cristina, que possui o poder de manipular emoções; Cristina submete-se,
contra sua vontade, ao estafante e humilhante treinamento militar, e tem por
colegas outros paranormais, os quais se incluem: o descontraído Rasta, o negro
gigante; o amargurado Zeverildo, o nordestino com pontaria precisa; o ainda
mais amargurado Guari, o índio com poderes elétricos; a maternal Maria da
Graça, a telepata; a descontraída Glória, a velocista; a muito séria Renata, a
superforte e resistente; e o galanteador Teco, o GPS humano.
A
história começa em 1994, no auge da guerra civil. Aliás, sabiam que o nome
original de PÁTRIA ARMADA era Tropa de
Choque 1994? Foi com esse nome que Klebs Junior pretendia lançar a HQ, nos
anos 1990, mais precisamente, no ano 2000, mas o projeto não foi para a frente,
e foi reformulado com o nome PÁTRIA ARMADA BRASIL. Chegou a receber até
financiamento público, através do PROAC – Programa de Ação Cultural do Estado
de São Paulo, mas, no fim, seu lançamento acabou sendo através de financiamento
coletivo.
O
álbum anterior terminou quando o exército invade uma base Federalista, a fim de
desmantelar uma operação dos inimigos, que pretendem detonar uma nova bomba
química em São Paulo. Além de verem um colega seu, o soldado Gustavo, ser morto
a traição pelos federalistas, o exército Legalista descobre que os inimigos
também possuem paranormais em suas fileiras...
A
fuga dos heróis não foi fácil. Eles quase perdem mais colegas durante o combate
com os paranormais Federalistas (que tem toda pinta de vilões de HQ), mas
conseguem, a custo, fugir da base federalista antes de ela explodir por
completo. Agora, a missão do grupo é ir até São Paulo, onde uma bomba química,
disfarçada em uma ambulância, está seguindo, no que pode ser interpretado como
um novo plano sórdido dos Federalistas, desrespeitando um tratado assinado com
os inimigos.
Mas
o caminhão onde eles fogem é cercado pelos inimigos, inclusive pelos Federalistas
paranormais comandados pela repelente Encosto, que possui o poder da
invisibilidade. E o ataque pode significar um trágico fim para mais um dos
soldados Legalistas, que resolve reagir com violência ao momento de desespero...
Bem.
A história principal é entrecortada com tramas paralelas, como o flashback do
passado do atirador Zeverildo (na edição passada, conhecemos o passado do índio
Guari, mas foi difícil saber o nome dele) e um ataque de um grupo de
anarquistas – aparentemente de lado nenhum – a uma antena transmissora de TV.
A
história continua com os mesmos defeitos da edição anterior, mas agora a vida
do leitor ficou mais fácil: já é possível identificar os personagens com mais
clareza. Não era possível saber, por exemplo, que o Guari que vai para a batalha
com o rosto pintado é o mesmo que, em algumas cenas, aparece de rosto limpo. Em
verdade, Guari era semelhante ao finado Gustavo.
Já é
possível entender melhor o primeiro álbum, mas é preciso ter o # 1 para que a história,
globalmente, seja compreendida. Klebs Junior continua na condução do roteiro e
da arte; Wellington Diaz e Nelson Pereira na arte-final, e Renne Stefani nas
cores. Letras e balões de Gisele Tavarez, e a capa acima é de Rod Reis.
O
primeiro álbum da série tinha 52 páginas, contando capa; PÁTRIA ARMADA # 2 tem
menos páginas – 44, contando capa. Mas a história ocupa apenas 28, e tem-se a
impressão que ela termina muito rápido, deixando o gancho para a vindoura
edição # 3.
E
ainda inclui, nas páginas restantes, um “arquivo”: homenagens de quadrinhistas
brasileiros, entre colegas de Klebs Junior no Instituto dos Quadrinhos e nomes
renomados da “indústria”, na forma de interpretações pessoais dos personagens,
apresentadas como um arquivo contendo fichas dos personagens. Participam desse
caderno especial: Pedro Mauro, Will “Sideralman”, Guilherme Raffide, Baptistão,
JB Bastos, Laudo Ferreira Jr., Arabson Assis, Maurício Leone, Fernando
Gonzales, Ivan Rodriguez e Mario Cau. E inclui ainda catálogo dos próximos
álbuns do Instituto...
PÁTRIA
ARMADA # 2 sai por R$ 9,90. O número 3 já está a caminho, e esperamos que
realmente venha a público, não aconteça como os outros projetos frustrados de
Klebs Junior – como Lilo, o Horror Vivo, lançado
por volta de 1998, que ficou em uma só edição. Resta a nós, leitores, apoiarmos
este projeto brasileiro. Porque não desistimos nunca!
Para
encerrar, não tendo feito nada alusivo ao tema, hoje resolvi, mesmo, divulgar
uns rabiscos meus. Tem quadrinhistas aí que, de vez em quando, divulgam páginas
de seus cadernos de esboços para o público conhecer seu processo criativo.
Eu
resolvi chamar estes meus desenhos de “canetadas”, já que o objetivo básico
destes desenhos quaisquer é mesmo gastar algumas canetas de desenho que deixei
acumuladas nos meus porta-lápis. Costumo usar canetas descartáveis para as
artes-finais de minhas tiras e ilustrações, mas só as jogo fora quando constato
que estão realmente vazias. Mas eu troco canetas quando elas ameaçam terminar
ou o traço preto fica mais “grosso” e, por consequência, a caneta fica mais
pesada para minha mão, e as velhas, então, jazem nos porta-lápis.
São
traços de canetas Stabilo 0.4 (corpo laranja), Faber Castell Grip Finepen 0.4
(corpo cinza), Compactor Microline 0.4, Faber Castell CD Marker preto, e outras
marcas. E, assim, mostro aos meus 17 leitores meu processo criativo.
Quer
dizer, não tão criativo assim: desenho, mesmo, o que e vem à cabeça. É que
assumi, para 2016, um compromisso pessoal: não ficar um dia sem desenhar –
mesmo estas bobagens que vocês veem aí embaixo, naqueles dias em que não resta
mais tempo para desenhar as minhas tiras, produzir o estoque para os blogs da
Rede Rafelipe, ou nos intervalos de alguns trabalhos que peguei. 2016 tem tudo
para ser um ano diferente dos outros – para melhor. Ao menos para mim.
Vocês
entendem? Espero que sim. E espero cumprir este compromisso ingrato – até 31 de
dezembro de 2016, todos os dias, tirar algumas horas e fazer desenhos, no
intervalo do serviço, nos momentos de solidão, etc. De vez em quando, vou
divulgando o resultado desse “compromisso”.
Mais
notícias virão com o correr do tempo. E mais novidades na Rede Rafelipe. Fiquem
com a gente!
Até
mais!
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