segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

PÁTRIA ARMADA 2 - Ainda não é tarde para evitar um insucesso...

Olá.
Estamos nos dias da festa popular mais típica do Brasil, o Carnaval. Mas o que tenho para falar hoje não é relacionado ao Carnaval, mas a um assunto mais sério. Vamos falar de quadrinho brasileiro. Lançamento recente.
Há mais de um ano, em dezembro de 2014, o veterano quadrinhista brasileiro Klebs Junior lançava sua nova empreitada artístico-comercial: o primeiro volume da série em três partes PÁTRIA ARMADA. Que inclusive ganhou uma indicação ao HQ MIX, o "Oscar" das HQ brasileiras.
E, um ano depois, em dezembro de 2015, quase exatamente um ano depois, Klebs Junior consegue lançar a segunda parte! PÁTRIA ARMADA # 2, enquanto escrevo, ainda está disponível nas bancas e livrarias!

Vamos relembrar rapidamente. Klebs Junior, quadrinhista veterano com trabalhos para editoras estrangeiras no currículo, já lançou vários projetos de HQs autoriais que, no entanto, nunca foram levados até o fim – por causa da conhecida dificuldade do quadrinhista brasileiro emplacar projetos próprios junto ao mercado e ao público, diante dos comics e dos mangás. Fundou, com colegas, a Escola de Artes Impacto Quadrinhos, que, mais tarde, se tornou o Instituto dos Quadrinhos, e agora não é apenas uma escola de artes, como também uma editora.
O primeiro grande projeto de Klebs Junior e colegas, sob o selo Instituto dos Quadrinhos, foi PÁTRIA ARMADA, viabilizado através de campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) no site Catarse. A bem-sucedida campanha viabilizou o lançamento do primeiro volume. E o Instituto dos Quadrinhos não parou por aí.
Em 2015, o Instituto lançou mais três álbuns nacionais, todos de ex-alunos da instituição: Nikkei – Implacável Natureza Mestiça, de Guilherme Raffide e Leandro Casco; Aurora, de Felipe Folgosi e Leno Carvalho; e O Caminho, de Roberto de Souza. Além, é claro, de PÁTRIA ARMADA # 2. E estão prometidos mais álbuns sob o selo Instituto dos Quadrinhos...
Bem. PÁTRIA ARMADA é ambientado em uma realidade alternativa do Brasil. Combinando política, ficção científica e guerra, traz uma realidade brasileira diferente: em que o Regime Militar (1964 – 1985) não aconteceu; foi abortado, mas isso resultou em uma guerra civil entre os Legalistas, defensores da democracia, e o Federalistas, que querem instaurar uma ditadura militar. Tal conflito resultou na detonação de duas bombas químicas em duas grandes capitais brasileiras, que mataram pessoas e contaminaram muitas outras – e os contaminados, com o tempo, se tornaram paranormais, ou melhor, ganharam superpoderes. E esses seres superpoderosos estão sendo aproveitados nas fileiras de ambos os exércitos...
Até aqui, Klebs Junior já nos convida a questionar: teria sido o Golpe de 1964 um mal que veio para o bem? Estamos, amigos, em tempos em que já não sabemos mais em quem acreditar quando se trata de História: de um lado, os “esquerdistas” defendendo que o Regime Militar não trouxe nada de bom ao Brasil de hoje; de outro, os “direitistas”, defendendo que o Regime Militar foi um mal necessário. Tão necessário, que há gente, nos dias de hoje, defendendo o retorno doo militares ao poder, afinal, “a democracia não serviu pra nada, naquele tempo sim havia mais respeito às instituições, mais patriotismo...”, e por aí vai. Eu prefiro não me posicionar quanto ao assunto, li tantos argumentos, de ambos os lados, e não sei mais em quem acreditar; do lado de quem acabe me posicionando, acabo sempre me dando muito mal ao entrar em discussões com a gente estúpida das redes sociais, que, ao defenderem suas posições, acabam inevitavelmente tratando o leitor como se fosse um idiota alienado e... Desculpem.
Bão, voltando ao quadrinho. PÁTRIA ARMADA # 1 pecou bastante pelo roteiro não conseguir caracterizar bem os personagens, prejudicando a empatia do leitor com os mesmos. Na realidade, o desenho de Klebs Junior, com a arte-final de Wellington Diaz e Nelson Pereira, e cores de Renne Stefani, Carlos Lopez e Marcio Menyz, deixa tudo mais confuso – em certos momentos, é difícil identificar corretamente os personagens, exigindo mais leituras para captar tudo. Difícil saber quando personagens estão do lado dos Legalistas ou dos Federalistas, ou mesmo o seu tempo de atuação dentro da aventura.
Mas já dá para estabelecer quem são os personagens: do lado Legalista, ou melhor, dos “heróis”, temos: o Coronel Samuel Venâncio, o líder de caráter ambíguo, que, no início da história, acolhe nas fileiras do seu exército a jovem e rebelde Cristina, que possui o poder de manipular emoções; Cristina submete-se, contra sua vontade, ao estafante e humilhante treinamento militar, e tem por colegas outros paranormais, os quais se incluem: o descontraído Rasta, o negro gigante; o amargurado Zeverildo, o nordestino com pontaria precisa; o ainda mais amargurado Guari, o índio com poderes elétricos; a maternal Maria da Graça, a telepata; a descontraída Glória, a velocista; a muito séria Renata, a superforte e resistente; e o galanteador Teco, o GPS humano.
A história começa em 1994, no auge da guerra civil. Aliás, sabiam que o nome original de PÁTRIA ARMADA era Tropa de Choque 1994? Foi com esse nome que Klebs Junior pretendia lançar a HQ, nos anos 1990, mais precisamente, no ano 2000, mas o projeto não foi para a frente, e foi reformulado com o nome PÁTRIA ARMADA BRASIL. Chegou a receber até financiamento público, através do PROAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, mas, no fim, seu lançamento acabou sendo através de financiamento coletivo.
O álbum anterior terminou quando o exército invade uma base Federalista, a fim de desmantelar uma operação dos inimigos, que pretendem detonar uma nova bomba química em São Paulo. Além de verem um colega seu, o soldado Gustavo, ser morto a traição pelos federalistas, o exército Legalista descobre que os inimigos também possuem paranormais em suas fileiras...
A fuga dos heróis não foi fácil. Eles quase perdem mais colegas durante o combate com os paranormais Federalistas (que tem toda pinta de vilões de HQ), mas conseguem, a custo, fugir da base federalista antes de ela explodir por completo. Agora, a missão do grupo é ir até São Paulo, onde uma bomba química, disfarçada em uma ambulância, está seguindo, no que pode ser interpretado como um novo plano sórdido dos Federalistas, desrespeitando um tratado assinado com os inimigos.
Mas o caminhão onde eles fogem é cercado pelos inimigos, inclusive pelos Federalistas paranormais comandados pela repelente Encosto, que possui o poder da invisibilidade. E o ataque pode significar um trágico fim para mais um dos soldados Legalistas, que resolve reagir com violência ao momento de desespero...
Bem. A história principal é entrecortada com tramas paralelas, como o flashback do passado do atirador Zeverildo (na edição passada, conhecemos o passado do índio Guari, mas foi difícil saber o nome dele) e um ataque de um grupo de anarquistas – aparentemente de lado nenhum – a uma antena transmissora de TV.
A história continua com os mesmos defeitos da edição anterior, mas agora a vida do leitor ficou mais fácil: já é possível identificar os personagens com mais clareza. Não era possível saber, por exemplo, que o Guari que vai para a batalha com o rosto pintado é o mesmo que, em algumas cenas, aparece de rosto limpo. Em verdade, Guari era semelhante ao finado Gustavo.
Já é possível entender melhor o primeiro álbum, mas é preciso ter o # 1 para que a história, globalmente, seja compreendida. Klebs Junior continua na condução do roteiro e da arte; Wellington Diaz e Nelson Pereira na arte-final, e Renne Stefani nas cores. Letras e balões de Gisele Tavarez, e a capa acima é de Rod Reis.
O primeiro álbum da série tinha 52 páginas, contando capa; PÁTRIA ARMADA # 2 tem menos páginas – 44, contando capa. Mas a história ocupa apenas 28, e tem-se a impressão que ela termina muito rápido, deixando o gancho para a vindoura edição # 3.
E ainda inclui, nas páginas restantes, um “arquivo”: homenagens de quadrinhistas brasileiros, entre colegas de Klebs Junior no Instituto dos Quadrinhos e nomes renomados da “indústria”, na forma de interpretações pessoais dos personagens, apresentadas como um arquivo contendo fichas dos personagens. Participam desse caderno especial: Pedro Mauro, Will “Sideralman”, Guilherme Raffide, Baptistão, JB Bastos, Laudo Ferreira Jr., Arabson Assis, Maurício Leone, Fernando Gonzales, Ivan Rodriguez e Mario Cau. E inclui ainda catálogo dos próximos álbuns do Instituto...
PÁTRIA ARMADA # 2 sai por R$ 9,90. O número 3 já está a caminho, e esperamos que realmente venha a público, não aconteça como os outros projetos frustrados de Klebs Junior – como Lilo, o Horror Vivo, lançado por volta de 1998, que ficou em uma só edição. Resta a nós, leitores, apoiarmos este projeto brasileiro. Porque não desistimos nunca!
Para encerrar, não tendo feito nada alusivo ao tema, hoje resolvi, mesmo, divulgar uns rabiscos meus. Tem quadrinhistas aí que, de vez em quando, divulgam páginas de seus cadernos de esboços para o público conhecer seu processo criativo.
Eu resolvi chamar estes meus desenhos de “canetadas”, já que o objetivo básico destes desenhos quaisquer é mesmo gastar algumas canetas de desenho que deixei acumuladas nos meus porta-lápis. Costumo usar canetas descartáveis para as artes-finais de minhas tiras e ilustrações, mas só as jogo fora quando constato que estão realmente vazias. Mas eu troco canetas quando elas ameaçam terminar ou o traço preto fica mais “grosso” e, por consequência, a caneta fica mais pesada para minha mão, e as velhas, então, jazem nos porta-lápis.
São traços de canetas Stabilo 0.4 (corpo laranja), Faber Castell Grip Finepen 0.4 (corpo cinza), Compactor Microline 0.4, Faber Castell CD Marker preto, e outras marcas. E, assim, mostro aos meus 17 leitores meu processo criativo.
Quer dizer, não tão criativo assim: desenho, mesmo, o que e vem à cabeça. É que assumi, para 2016, um compromisso pessoal: não ficar um dia sem desenhar – mesmo estas bobagens que vocês veem aí embaixo, naqueles dias em que não resta mais tempo para desenhar as minhas tiras, produzir o estoque para os blogs da Rede Rafelipe, ou nos intervalos de alguns trabalhos que peguei. 2016 tem tudo para ser um ano diferente dos outros – para melhor. Ao menos para mim.
Vocês entendem? Espero que sim. E espero cumprir este compromisso ingrato – até 31 de dezembro de 2016, todos os dias, tirar algumas horas e fazer desenhos, no intervalo do serviço, nos momentos de solidão, etc. De vez em quando, vou divulgando o resultado desse “compromisso”.
Mais notícias virão com o correr do tempo. E mais novidades na Rede Rafelipe. Fiquem com a gente!

Até mais!

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