quinta-feira, 30 de julho de 2015

TURMA DA MÔNICA - LIÇÕES - aprendendo a viver do modo mais difícil

Olá.
Depois de um tempo de letargia, acho que agora as coisas começam a se acertar: estou voltando a fazer textos longos para as postagens do blog. Mais tarde, conto detalhes dos projetos os quais estou atualmente me envolvendo, e que estão tomando muito de meu tempo... Peço paciência por parte dos leitores. Devo ter dito muitas vezes que em breve darei detalhes de meus projetos, mas peço paciência, ainda não é o momento. Os tempos estão bicudos, difíceis, sei disso. Também estou sendo afetado pelos mesmos. Peço apenas... paciência.
Well. O mês de julho pareceu um tanto insípido em matéria de lançamentos de quadrinhos – ao menos, para mim. Nada muito entusiasmante... até agora. Quando julho já está no fim, eis que chega a esperança dos quadrinhos brasileiros: mais um álbum da série Graphic MSP. E temos retorno, turma: os irmãos Cafaggi reinterpretam novamente os principais ícones dos Estúdios Maurício de Sousa. Eis aqui, então, TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES.

Vamos relembrar: a série Graphic MSP, iniciada em outubro de 2012, propõe a reinterpretação dos clássicos personagens de Maurício de Sousa por novos talentos das HQ brasileiras – e tal iniciativa vem limpando a barra das nossas sempre incompreendidas Histórias em Quadrinhos Brasileiras. Todos os álbuns tiveram coordenação de Sidney Gusman; todos tem a aprovação do próprio Maurício de Sousa; e todos foram publicados pela editora Panini, há anos casa dos gibis dos estúdios Maurício de Sousa, que tem lançado muitas publicações especiais relacionadas ao cartunista – e, por isso, a companhia tem voado há tempos em céus de brigadeiro (não vá interpretar mal, Magali).
Pela ordem: em outubro de 2012, veio Astronauta– Magnetar, de Danilo Beyruth; em maio de 2013, foi a vez de Turma da Mônica – Laços, de Vítor e Lú Cafaggi (o melhor até agora); em agosto de 2013 veio Chico Bento – Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte; em novembro de 2013, ainda, veio, completando o primeiro ciclo, Piteco – Ingá, de Shiko. Iniciando o segundo ciclo de álbuns, vem: em agosto de 2014, Bidu – Caminhos, de Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho; em dezembro de 2014, Danilo Beyruth continua a sua interpretação do Astronauta em Astronauta – Singularidade; e, em maio de 2015, é a vez de Penadinho – Vida, de Paulo Crumbim e Cristina Eiko. E o segundo ciclo ainda não chegou ao fim, turma: faltam ainda os álbuns da Turma da Mata, do Louco e do Papa-Capim.
Enquanto isso, chegou agora, em julho de 2015 – menos de dois meses depois de Penadinho – Vida – a prometida continuação de Turma da Mônica – Laços, pelos mineiros irmãos Cafaggi (conterrâneos, portanto, dos autores de Bidu – Caminhos). TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES traz de volta os “majors” do universo de Maurício de Sousa – Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali – em uma nova aventura, cheia de humor, drama e generosa quantidade de referências à cultura pop em geral.
Os irmãos Cafaggi ainda aproveitam bem a fama crescente que Turma da Mônica – Laços lhes trouxe. Afinal, o álbum foi aclamado, altamente elogiado – principalmente por este que vos escreve – e faturou quatro HQ MIX, o “Oscar” do Quadrinho Brasileiro. Vítor Cafaggi é de quem mais se tem ouvido falar: os álbuns de seu personagem, Valente, passaram a ser publicados pela Panini. Valente segue em publicação no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, aos domingos. Os dois primeiros álbuns do personagem, Valente Para Sempre e Valente Para Todas, anteriormente lançados de forma independente, ganharam nova edição pela Panini, que ainda publicou os dois álbuns seguintes, Valente por Opção e Valente Para o que Der e Vier. Todos entre 2013 e 2014. Já Lu Cafaggi tem andado sumida: desde a publicação de Mixtape, em 2011, ela não tem mais publicado trabalhos solo, nem atualizado seu blog pessoal, o Los Pantozelos (e faz tempo que Vítor Cafaggi também não atualiza o dele, o Puny Parker). Bem, sejam bem-vindos de volta, irmãos Cafaggi.
Bueno. TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES dá prosseguimento a Laços. Muita gente até estava torcendo o nariz quando anunciaram um novo álbum da Turma da Mônica pelos irmãos Cafaggi – e temiam pelo pior depois que o fraco álbum Astronauta – Singularidade mostrou que as continuações poderiam não ser a melhor ideia. Pelo menos, é o que eu acho. TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES vem desfazer esses temores, porque, acreditem ou não, é um ótimo álbum. Como os outros autores, os irmãos Cafaggi se esmeraram para fazer a melhor HQ brasileira possível, e não ficar a dever para produções de outros países, que conquistam leitores brasileiros com menor esforço.
Com relação à arte, LIÇÕES traz algumas mudanças sutis e quase imperceptíveis com relação a Laços. Por exemplo, na parte da aparência dos personagens, as orelhas de Mônica e Magali ficam mais aparentes por baixo do cabelo, mas, no mais, a aparência dos personagens continua a mesma de Laços, então, esqueçam a Mônica dos cabelos de banana e do dentão para fora da boca. A maior dessas mudanças é a maior integração entre os autores: em Laços, Vítor Cafaggi fez a maior parte do trabalho na arte, enquanto Lú teve três espaços, todos de flashback. Em LIÇÕES, o espaço de Lú ficou maior: há mais cenas de flashback, e mais intervenções da irmã Cafaggi. É fácil perceber a diferença entre um e outro: Vítor é o que tem a arte mais “completa”, mais luminosa, fluida como a de um  desenho animado, enquanto Lú tem o traço mais difuso, como que feito a lápis pastel, sem arte-final a nanquim – e destila fofura com suas versões “jardim de infância” da turminha da Mônica. Ambos dividem o trabalho de colorização com Paula Markiewicz.
O roteiro é talvez o mais bem escrito. Vítor e Lú praticamente superaram seu próprio trabalho em Laços. Numa trama cujo motor maior é o drama infantil, os irmãos incluem vários personagens do universo da Rua do Limoeiro, onde residem Mônica e seus amigos, que não haviam aparecido, mesmo que de relance, em Laços, como Marina, Dudu, Quinzinho, Ricardinho e Tonhão; fazem referências a alguns dos momentos mais icônicos da carreira da Turma da Mônica, como a célebre adaptação da peça Romeu e Julieta de William Shakespeare, feita em 1978; e incluem, ainda, referências escondidas à cultura pop. Se o maior momento de Laços foi a inclusão indireta da turma da Luluzinha na trama, em LIÇÕES podemos encontrar, além de uma breve aparição de Luluzinha e turma, a participação especial indireta das Princesas da Disney, uma menção ao universo de Calvin e Haroldo de Bill Watterson e outros personagens famosos. Basta procurar.
E a carga dramática é grande, pois a trama ainda inclui um contundente retrato do bullying na vida escolar.
Eu disse: vida escolar. Porque a trama foca um aspecto que não é comum no universo regular de Maurício de Sousa: a vida escolar de Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. É bem raro, nos gibis, ver os quatro personagens indo à escola: é mais comum vê-los na rua, brincando, visto que os quatro têm entre seis e sete anos de idade. A vida escolar é mais comum nas histórias do Chico Bento, nas da Turma da Mônica não. E isso que as referências à educação e o uso dos personagens em campanhas educativas é bem frequente.
Bem. TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES tem seu título com um sentido bem amplo. Significa tanto as lições aprendidas na escola quanto uma lição de vida. No caso, uma dura lição a ser aprendida por conta de uma grave travessura infantil. Que criança nunca teve medo de ser punida por não ter feito a tarefa da escola? Eu ainda não conheci nenhuma, nem como estudante, nem como professor. Que tivesse preguiça de fazer a tarefa, já, mas que nunca teve medo, ao menos uma vez, da punição por não ter feito a tarefa, não.
Bem. O álbum começa em uma tarde chuvosa de domingo: Cebolinha, o garoto troca-letras e com apenas cinco fios de cabelo na cabeça, é visto tramando outro plano para derrotar a Mônica, e se tornar o dono da rua; Cascão, o sujinho, está escondido embaixo da cama, temendo possíveis goteiras no quarto; Mônica, a superforte, a menina do coelhinho azul, espera, impaciente, a chuva passar para promover uma festinha na piscina; e Magali, a comilona, além de ter comido toda a comida da festa, usa o sumiço do gato de estimação como desculpa para flautear. Em comum, os quatro fizeram algo imperdoável: esqueceram de fazer a lição de casa.
E, quando reparam no erro que cometeram, já no pátio do colégio, é tarde, o medo de levar uma bronca da professora é grande, e só há uma solução: fugir da escola e se esconder no clubinho até o fim da aula. Mas a fuga acaba muito mal: Cebolinha, na hora se ajudar Mônica a pular o muro da escola, não consegue segurá-la e, por consequência, a menina cai e quebra um braço.
Os pais das quatro crianças são chamados à escola, que já lhes impôs uma suspensão. Na conversa, os pais das crianças (que, aliás, ganham um grande espaço no trama), por sugestão da diretora, resolvem que elas devem ocupar o tempo livre com outras atividades extracurriculares. Mas o duro é o castigo que os próprios pais impõem às crianças.
Mônica é matriculada em uma nova escola; Cebolinha vai para a fonoaudióloga, para aprender a falar corretamente; Cascão é matriculado (para seu horror) em uma escola de natação; e Magali, em uma escolinha de etiqueta. Pior de tudo é que Mônica é quem mais sente o peso da mudança: ficará até o final da próxima semana sem poder ver os amiguinhos, incomunicável.
O pior de tudo: na antiga escola, Mônica havia sido escalada para viver o papel principal feminino em uma adaptação de Romeu e Julieta, onde ia fazer par com o bonitinho Ricardinho. Cebolinha, por sua vez, quer muito o papel principal, mas é impedido pela coordenadora da peça por conta de sua, digamos, dificuldade na fala – algo o qual o menino não se conforma. A ausência de Mônica também afeta os outros.
Na nova escola, Mônica, com o braço engessado e o coelhinho de pelúcia Sansão como única companhia conhecida, tem grandes dificuldades de se enturmar com as outras crianças. Nessa escola, o excêntrico Xaveco é o aluno mais popular. Mas o pior de tudo: há um menino grandalhão e mal-encarado que se diverte atormentando crianças, e sem falar. E, numa de suas investidas, o menino toma Sansão da menina, o que afeta seu astral.
Cebolinha, a princípio, fica contente pela ausência de Mônica, pois assim ele tem mais chances de se tornar o dono do pedaço: mas as perspectivas mudam no momento em que o mal-encarado Tonhão cruza o caminho do menino e de Cascão. Ele resolve atormentar os dois, obrigando Cebolinha a fazer a sua tarefa da escola, por vingança dos anos todos em que Cebolinha “empurrou” a Mônica para bater no grandalhão. Pior: Tonhão não sente o menor remorso. Chega a socar o rosto de Cebolinha e ainda falar a seus capangas, na maior, que pretende fazer coisas ainda piores. Cebolinha e Cascão são obrigados a se esconder no banheiro na hora do recreio.
Cascão vive seu maior pesadelo: encarar uma piscina cheia de água, na escola de natação. Mas isso ele consegue tirar de letra: Cascão simplesmente vai ao banheiro da escola de natação, foge pela janela e vai se esconder na rua até a aula terminar.
Magali, por sua vez, vive uma vida tormentosa na escolinha de etiqueta: está praticamente inadequada frente à pouco tolerante professora de “princesas” – é a Gata Borralheira do grupo. Tudo porque Magali coloca o próprio estômago antes das boas maneiras, o que lhe vale gozações por parte das colegas da escolinha (aqui que estão escondidas as referências visíveis às Princesas Disney). Mas sua vida tem uma mudança no momento em que, numa ida à padaria, Magali acaba conhecendo – e se apaixonando – pelo ajudante de padeiro Quinzinho.
Na escola, Mônica conhece o menino Dudu, o amiguinho da Magali que não gosta de comer. E o menininho se torna uma peça-chave na trama, pois através dele Mônica pode enviar uma mensagem para Magali.
Ainda, de relance, aparece o personagem Titi, sua namorada Aninha, a desenhista Marina (como substituta de Mônica na peça escolar) e as meninas da Rua das Pitangueiras, personagens recentes do universo de Maurício de Sousa – são as novas rivais de Mônica e amigos.
A tensão fica por conta de o leitor tentar descobrir: como os personagens vão resolver os problemas os quais se encontram? Conseguirão os quatro suportar essa semana difícil até o sábado, quando terminará o castigo de Mônica? Conseguirá Mônica encontrar motivação para encarar o menino briguento e recuperar o Sansão? Conseguirá Cebolinha escapar de Tonhão e conseguir o papel de Romeu na peça da escola? Conseguirá Cascão enfrentar a piscina, na hora em que o pai dele for assistir sua aula? E Magali, conseguirá reunir coragem para ao menos falar com Quinzinho? E, principalmente... conseguirá Cebolinha ao menos entrar em contato com Mônica? Da resolução de uma destas tramas, dependerá as outras.
É difícil o leitor não se identificar com alguma das tramas apresentadas neste volume. Por isso, o veredito do Estúdio Rafelipe é: TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES é o melhor álbum da série Graphic MSP! Conseguiu, portanto, superar Turma da Mônica – Laços! Parabéns aos irmãos Cafaggi!
Mas nem tudo são flores: algumas das tramas apresentadas acabaram ficando em aberto, ao término do álbum. Alguns personagens secundários não foram aproveitados convenientemente. Ficou mais ou menos como aconteceu com o mendigo que apareceu em Laços. Fica a sensação de que ficou faltando alguma coisa. Por isso, defendo desde já: Turma da Mônica, pelos irmãos Cafaggi, merece um terceiro volume, amarrando as pontas soltas! Se resolverem criar um terceiro ciclo de Graphic MSP, já sabem: há de ter um terceiro volume de Turma da Mônica – pelos irmãos Cafaggi, claro.
Se os resultados deste segundo ciclo de Graphic MSP estão, segundo a crítica, sendo superestimados por conta da menor qualidade dos álbuns, TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES talvez consiga recuperar o prestígio perdido.
Eis, então, o ranking geral de classificação pessoal da série Graphic MSP até o momento (e apresentando mudanças com relação ao ranking anterior, baseado numa reanalisada de toda a série):

1º - Turma da Mônica – Lições;
2º - Turma da Mônica – Laços;
3º - Bidu – Caminhos;
4º - Piteco – Ingá;
5º - Penadinho – Vida;
6º - Chico Bento – Pavor Espaciar;
7º - Astronauta – Magnetar;
8º - Astronauta – Singularidade.

Bem. TURMA DA MÔNICA – LIÇÕES inclui, ainda, as indispensáveis páginas de extras, com bastidores da produção, histórico dos personagens que apareceram na trama, biografia atualizada dos autores (com as fotos atualizadas, inclusive), prefácio de Maurício de Sousa e posfácio do diretor, produtor de TV e criador de programas Cao Hamburger, o Sr. “Rá-Tim-Bum”. O álbum está à venda em duas versões: capa dura, a R$ 31,90, e capa cartonada, a R$ 21,90. Não deixem escapar! A crise econômica não é desculpa.
E, segundo informações colhidas da internet, o próximo álbum a sair vai ser o da Turma da Mata, cuja produção, até agora, foi conturbada. Deve sair em setembro.
O Quadrinho Nacional também é bom! E, pelo que estou vendo daqui de Vacaria, RS, o setor editorial não parece estar sendo afetado pela crise econômica que tem afetado o Brasil.
Para encerrar, como já havia feito quando falei de Turma da Mônica – Laços, deixo, como minha ilustração de hoje, um trecho do mais recente arco de minha personagem Letícia, a partir da parte onde parei da última vez.
Enquanto isso, está em curso, no blog da personagem (http://leticiaquadrinhos.blogspot.com.br/), a publicação das páginas da apostila didática Quadrinhos – Conceito e Prática, já disponibilizada anteriormente aqui, e no Blog Educar é Viver (http://orientarpedagogos.blogspot.com.br/). Enquanto isso, me dá tempo para preparar novas tiras da personagem. E dos outros personagens da Rede Rafelipe.
Já à espera do próximo álbum da série Graphic MSP!

Até mais!

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