sábado, 28 de outubro de 2017

Livro: LEILA DINIZ (Série Perfis Brasileiros)

Olá.
Hoje, vou trazer para vocês um livro. Faz um tempo que não falo de livros “sérios” aqui no blog, digo, de livros que não tratam de cultura pop. Mas o livro de hoje não é totalmente sério, na verdade: trata-se de uma biografia, em estilo descontraído, de uma personalidade brasileira que, no seu tempo, foi uma figura ousada, e que teve um destino trágico.
Eis aqui: da coleção Perfis Brasileiros, da editora Companhia das Letras, LEILA DINIZ, por Joaquim Ferreira dos Santos.


A COLEÇÃO
Para quem não conhece, é melhor, inicialmente, falar a respeito da coleção a qual este livro faz parte.
A coleção Perfis Brasileiros foi uma iniciativa do jornalista Elio Gaspari e da historiadora Lilia Moritz Schwarcz, e encampada pela tradicional editora Companhia das Letras, que, a partir de 2006, procurou trazer biografias anticonvencionais de grandes personalidades brasileiras e estrangeiras naturalizadas brasileiras – da política, das artes, do comportamento. Isso em uma época em que o mercado de livros biográficos experimentava um aquecimento – as biografias de personalidades estavam sendo muito procuradas por leitores naquele instante.
Bem. A coleção Perfis Brasileiros teve doze títulos publicados, até onde pude identificar, e todos reconhecidos pelo projeto gráfico de capa, com cores berrantes e chamativas. Para escrever os títulos, foram chamados jornalistas e historiadores, verdadeiros especialistas.
Não tive como descobrir a ordem das datas de publicação dos títulos. Mas os homenageados foram os seguintes: General Osório, por Francisco Doratioto; Joaquim Nabuco, por Angela Alonso; José Bonifácio, por Miriam Dolhnikoff; Marechal Rondon, por Todd A. Diacon; Maurício de Nassau, por Evaldo Cabral de Mello; Getúlio Vargas, por Boris Fausto; Castro Alves, por Alberto da Costa e Silva; D. Pedro I, por Isabel Lustosa; D. Pedro II, por José Murilo de Carvalho; Padre Antônio Vieira, por Ronaldo Vainfas; Leila Diniz, por Joaquim Ferreira dos Santos; e Cláudio Manoel da Costa, por Luiza de Mello e Souza.
Não é difícil encontrar alguns desses títulos em livrarias, sebos e bibliotecas, basta ter disposição.

O AUTOR
Agora é a vez de traçar um breve perfil do autor da biografia em questão nesta postagem, Joaquim Ferreira dos Santos, jornalista. E com as fontes que conseguimos reunir em pesquisa prévia na internet – uma vez que nem verbete na Wikipedia ele ganhou ainda.
Joaquim Ferreira dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, em data mantida em segredo. Ele começou sua carreira no jornal Diário de Notícias, em 1969, e nos anos seguintes ocupou cargos em vários veículos de comunicação, como a revista Veja, o Jornal do Brasil, O Dia e O Globo. Neste último, criou uma coluna de notas que ocupou o espaço que antes era do jornalista Zózimo Barrozo do Amaral. Também é cronista, e teve crônicas suas incluídas em antologias de melhores do gênero.
Como jornalista, ele também meio que se especializou no gênero biográfico. Dentre seus vários livros publicados, os mais conhecidos são Feliz 1958 – O Ano que Não Devia Terminar (1997) e Um Homem Chamado Maria (2005), biografia do cronista e compositor pernambucano Antônio Maria. Aliás, sobre Antônio Maria, Joaquim Ferreira dos Santos escreveu mais três livros: Antônio Maria – Noites de Copacabana, O Diário de Antônio Maria e Seja Feliz e Faça os outros Felizes.
Além desses, e, claro, desta biografia de Leila Diniz, publicada em 2008, Joaquim Ferreira dos Santos ainda tem no currículo os títulos: O Que as Mulheres Procuram na Bolsa (2003), Em Busca do Borogodó Perdido (2005), Minhas Amigas (2012) e seu título mais recente, Enquanto Houver Champanhe Há Esperança (2016), a biografia de Zózimo Barrozo do Amaral, publicada pela editora Intrínseca – vários títulos do autor foram publicados pela Companhia das Letras.

A BIOGRAFADA
Bão. Agora passemos a falar a respeito da musa do feminismo brasileiro, Leila Roque Diniz (1945 – 1972). Não que ela fosse ativista, partidária da tendência conhecida na época de Women’s Lib, que queimasse sutiãs e gritasse slogans raivosos, como suas “colegas” da época. Não, ela não fez nada disso – em público. Ela meio que fez como Rê Bordosa: enquanto as feministas teorizavam, ela barbarizou. Ela provocou uma revolução nos costumes das mulheres de sua época, mas do seu jeito: escancarando sua vida sexual plenamente ativa, regida apenas pelo prazer e pelo compromisso com os próprios valores; ousando bastante em uma época em que as mulheres haviam recém começado a deixar as pernas expostas sob as saias; e cultivando uma boca suja, um linguajar que, antes de tudo, expressava sua espontaneidade. Por conta disso, em vida, ela foi perseguida, até praticamente chegar um momento em que todos os setores influentes da sociedade brasileira se voltaram contra ela. E teve um destino comum ao de boa parte das personalidades mundiais: teve um momento de glória, depois sofreu duras críticas e perseguições, e, no fim, só teve seu valor reconhecido depois que morreu de forma trágica. Mas ela não podia dizer que seus breves 27 anos de vida não foram bem vividos.
Well: eu pergunto agora às novas gerações que lidam em smartphones, principalmente às mocinhas que se enfiam dentro de shorts de jeans, com bolsos de fora ou não, e parafraseando uma fala do personagem Waldir, d’A Trilogia do Acidente (detetive Diomedes) de Lourenço Mutarelli: vocês sabem quem foi, e ouso dizer, continua sendo Leila Diniz? Não? Ora, ora.
Bem, para começar, Leila Diniz foi atriz e modelo. Muitos costumam lembrar dela por causa da ousadia em se deixar fotografar de biquíni... grávida. Outros, por causa de uma entrevista cheia de palavrões que ela deu para um jornal. Well: é muito pouco, em verdade, para traçar um perfil completo daquela que uma vez foi a sex symbol nacional, e hoje se encontra em um patamar similar ao de outras revolucionárias brasileiras, como Anita Garibaldi, Pagu, Tarsila do Amaral, Maria Esther Bueno... Mas vamos com calma.
Leila Diniz já havia ganho quatro biografias em livro, e mais três em forma de filme (um encenado e dois documentários), antes deste LEILA DINIZ – UMA REVOLUÇÃO NA PRAIA (nome completo da obra), publicado em 2008 dentro da coleção Perfis Brasileiros da Editora Companhia das Letras. Joaquim Ferreira dos Santos teve a honra de ter conhecido pessoalmente o objeto de sua biografia, ainda viva. E seu maior mérito foi o de fazer também um exercício de micro-história, traçando não apenas o perfil e os feitos de Leila Diniz, mas também explicando como era a época em que ela viveu, e como eram os costumes femininos que ela ousou confrontar para alcançar um nobre objetivo: a “felicidade no poder”. Ou seja: ela “apenas” quis uma maior liberdade para a mulher de sua época se expressar e amar à maneira dela própria, e não somente da forma como os homens, e as mulheres que replicavam o pensamento desses homens, achavam que deveria ser.
Bom: Leila Diniz nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, em 25 de março de 1945, ano em que terminavam a Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo de Getúlio Vargas. Sua infância foi um tanto difícil: seu pai, Newton Diniz, bancário e militante comunista, vivia um casamento conturbado com Ernestina, a mãe biológica de Leila; esta, sofrendo de tuberculose, foi internada em uma clínica, e, durante algum tempo, Leila e seus irmãos mais velhos, Elio e Eli, conviveram com a nova mulher do pai, a professora Isaura. Com esta, o sr. Newton teve mais duas filhas, Regina e Lígia. Leila passa parte de infância acreditando que Isaura é sua mãe, até que, anos depois, ficou sabendo da verdade, e passa posteriormente a morar com a mãe biológica. Mas não por muito tempo: ela passa boa parte do tempo indo e voltando por diversas casas. Mas teve suas alegrias infantis, e recebeu educação: sua formação incluía a ideologia comunista do pai e as teorias educacionais da escola de Summerhill, que davam plena liberdade para o aluno fazer suas próprias descobertas. Essas teorias foram úteis quando Leila trabalhou, por um breve período, como professora de creche, antes de enveredar para a carreira de atriz. No colégio que frequentou, no entanto, não foi muito boa aluna: ela entrou no Instituto Souza Aguiar em 1957, escola de disciplina rígida, já que era regido por freiras, mas abandona a escola em 1963, com um boletim cheio de notas vermelhas. E, desde a infância, quando começou a fazer terapia psicológica, até o fim da vida, cultivou o hábito de manter diários, que, por si só, constituem ótimas fontes para compreender seu modo de pensar. Esses diários, até hoje, permanecem inéditos ao público, pelo que consta, em poder de uma de suas grandes amigas, a atriz Marieta Severo, e ainda não foram liberados. Para ter contato com o pensamento de Leila Diniz, ainda nos resta, de acessível, tudo o que foi publicado a seu respeito na imprensa, incluso entrevistas que ela deu para diversas revistas, como Manchete e Realidade.
Sua vida sexual na adolescência foi ativa. Em vida, teve diversos casos amorosos – sua primeira relação sexual foi com o músico Sérgio Ricardo, que ficou conhecido por quebrar um violão no palco durante uma apresentação dos Festivais de Música Brasileira – e foi casada duas vezes. Seu primeiro casamento, muito breve – durou apenas dois anos – foi com o cineasta Domingos de Oliveira, que, apesar da separação, sempre teve respeito pela atriz, tanto que, no ano seguinte à separação, escalou-a para estrelar seu mais pretenso filme, Todas as Mulheres do Mundo, de 1966. O segundo casamento não foi bem um casamento, já que não foi oficializado no papel: ela foi morar, em 1970, com o cineasta Ruy Guerra, com quem teve a única filha, Janaína. E ainda teve breves casos, entre outros, com o também cineasta Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, com Tarso de Castro, uma das principais cabeças do hebdomadário O Pasquim, com o ator Arduíno Colasanti e, pelo que consta, com o diretor Nelson Pereira dos Santos, o precursor do Cinema Novo. E ainda conviveu com o poeta Manuel Bandeira. E ainda teve sua vida salva pelo conservador apresentador de TV Flávio Cavalcanti. E...
Como atriz, ela acumulou diversos trabalhos em cinema, tevê e teatro, e chamando bastante a atenção graças à sua beleza – mas nem todos esses trabalhos foram salvos para a posteridade. Sua estreia como atriz foi em uma peça infantil, Em Busca do Tesouro, em 1964 – e ela quase desistiu: não queria subir ao palco por medo, mas a insistência dos amigos foi maior, selando um destino. A partir daí, não parou mais: atuou em novelas das redes Globo e Excelsior. Na época em que começou a atuar na TV, em 1965, a Globo ainda vivia a fase dos folhetins melodramáticos e afastados da realidade, coordenados pela cubana Glória Magadan, que também era uma especialista em “testes do sofá” (isso consta no livro, sério). Bem: entre outras, Leila atuou em Ilusões Perdidas, Paixões de Outono, O Sheik de Agadir e Anastácia, A Mulher Sem Destino, que marcou a estreia da novelista Janete Clair (é, aquela novela do terremoto que lhe deu um “reset”)porém, nenhuma das novelas em que Leila atuou chegou à posteridade, supostamente seus registros foram destruídos em um incêndio nos arquivos da Globo. Mais tarde, em 1968, Leila troca a carioca Globo pela Rede Excelsior, de São Paulo, e sua última novela foi na Rede Tupi, do Rio de Janeiro. Mas foi no cinema que Leila teve mais trabalhos. Como atriz principal, praticamente só no já citado Todas as Mulheres do Mundo; nos outros, apenas papeis secundários, porém significativos. Atuou em Edu Coração de Ouro (1967), também de Domingos de Oliveira, A Madona de Cedro (1968) e Corisco, o Diabo Loiro (1969), ambos de Carlos Coimbra, Os Paqueras (1968) de Reginaldo Faria, Fome de Amor (1968) e Azyllo Muito Louco (1969), ambos de de Nelson Pereira dos Santos, O Donzelo (1971) de Stefan Wohl, Mãos Vazias (1971), de Luiz Carlos Lacerda... só para citar alguns. Seu último filme, Amor, Carnaval e Sonhos (1972), de Paulo César Saraceni, foi lançado depois da morte da atriz. No teatro, ela teve atuações na revista Tem Banana na Banda, no Teatro Poeira de Ipanema, Sem Asteriscos, na Boate Sucata (ambos em 1970) e no musical Vem de Ré que eu Estou de Primeira, em 1972. E ainda faz parte do júri de calouros nos programas de Flávio Cavalcanti e Sílvio Santos. Ah: mas nenhum desses trabalhos deu dinheiro de verdade para a atriz – no máximo, só ajudavam a pagar as contas. Mas, nos bastidores, ela se divertiu bastante, enquanto entornava copos de cachaça – ela teve problemas com alcoolismo. Sua fase mais divertida foi quando trabalhou com Nelson Pereira dos Santos em sua fase cinematográfica na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. E cultivou amigas leais, como as atrizes Ana Maria Magalhães, Marieta Severo e Betty Faria, que as ajudariam nos momentos de desespero. Aliás, foi ideia de Betty Faria a montagem do espetáculo Sem Asteriscos, realizada um ano depois da polêmica entrevista para O Pasquim (já volto a esta parte), e onde a atriz teve alguma liberdade em falar o que bem entendia.
O lar da atriz, apesar dos períodos passados em São Paulo, Paraty e Petrópolis, foi mesmo o Rio de Janeiro e sua orla marítima. Por um pouquinho, não seria ela a “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes – Helô Pinheiro passou na frente; embora Leila estivesse mais para a “Garota Papo Firme” do então Rei da Juventude, Roberto Carlos. Leila Diniz sempre gostou de nadar, e nunca abriu mão dessa forma de distração, mesmo quando o governo militar (instaurado em 1964, como todo mundo sabe) começou a pegar no seu pé. Ela circulava muito pelas praias de Copacabana e Ipanema, para onde se muda e passa a morar em 1965, após a separação, e conviveu bastante com as personalidades que circulavam por lá, incluindo a patota d’O Pasquim. E foi em Ipanema que Leila montou, com uma sócia, uma butique, que ajudaria a contornar sua situação financeira difícil.
Quatro momentos foram os divisores de águas na carreira de Leila Diniz. O primeiro foi o já citado filme Todas as Mulheres do Mundo, pelo qual ganha o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Brasília, e pelo qual passou a ser conhecida como sex symbol nacional. Apesar de ser pretensamente um filme filosófico, uma reflexão de Domingos de Oliveira a respeito do amor, na forma de uma descompromissada comédia. Pena que o pessoal engajado do Cinema Novo se impôs e suplantou essa iniciativa.
O segundo momento foi em novembro de 1969, quando Leila Diniz é entrevistada para o 22º número do jornal O Pasquim. Sua entrevista é pontuada por palavrões, estrategicamente substituídos por asteriscos pelos editores (O Pasquim também era muito visado pelo Regime Militar, vocês sabem), e pela exposição franca da visão de mundo da atriz, bem como de suas ideias sobre sexualidade. Foi o suficiente para que praticamente todos os setores influentes da sociedade nacional ficassem contra ela: as feministas, que julgaram que ela fazia o jogo dos homens; os partidários da esquerda, que achavam o papo sobre sexualidade uma alienação; a direita, que a classificou como vagabunda (onde já se viu, uma atriz da Globo falando palavrão abertamente? Ainda mais em época em que moça “direita”, moça que realmente vale a pena ver em sociedade, era a que só fazia sexo depois do casamento); e, claro, a polícia política, que passou a persegui-la. Leila já havia sido presa algumas vezes, e depois solta, por motivos menos graves que a subversão, durante as filmagens de alguns de seus filmes, mas desta vez parecia que não iria escapar da repressão. A Rede Globo não iria mais oferecer trabalho: alegam-se três motivos, sendo verdadeiro apenas um. O primeiro, porque Janete Clair, que havia, afinal, conseguido estabelecer uma nova estética para os folhetins televisivos (livre da cartilha de Magadan) havia afirmado que em suas novelas não haveria papel para prostituta; o segundo, porque a própria Rede Globo havia sido orientada pelo Regime Militar a não dar trabalho para Leila; e o terceiro, alegação da própria Rede Globo, que fora a própria Leila que cuspira no prato em que comera, quando ela largou a emissora e foi para a Excelsior, em busca de melhores vantagens financeiras.
De todo modo, Leila Diniz teve de encarar um júri em rede nacional: os jurados do temido programa Quem Tem Medo da Verdade, da TV Record, a consideraram culpada, mesmo ela tendo chorado em cena. E Leila entrou em depressão – enquanto que uma emenda constitucional decretada pelo Governo Militar, a respeito da publicação de “obscenidades” em veículos de comunicação, acabou conhecida como “Decreto Leila Diniz”.
O terceiro momento foi em 1970, quando conseguiu trabalho na Rede Tupi do Rio de Janeiro. Na ocasião, foi acolhida pelo polêmico apresentador Flávio Cavalcanti como jurada em seu programa de calouros. O momento exato foi no dia 22 de outubro, quando, para pagar uma aposta com o apresentador, Leila desfilou com um biquíni prateado na Avenida Rio Branco, em pleno horário do almoço. As fotos daquele momento ficaram eternizadas. E Leila quase foi presa no meio do programa do apresentador, mas Cavalcanti conseguiu, estrategicamente, salvar sua pele, fazendo-a escapar escondida durante o intervalo, e acolhendo-a durante alguns dias em sua casa, em Petrópolis, até baixar um pouco a poeira. Convivendo com a família de Cavalcanti, Leila não tinha muito que fazer para se distrair, mas ela conseguiu aguentar.
E o quarto grande momento foi em agosto de 1971, quando o número 121 de uma revista feminina ainda iniciante e algo comedida em suas pautas, chamada Cláudia, da Editora Abril, que só posteriormente se tornaria referência em pautas feministas, escandalizou, tanto quanto a própria Leila Diniz, ao publicar fotos desta no mar, usando biquíni, e ostentando a barriga da gravidez de cinco meses. Acontece que, na época, as grávidas eram obrigadas a esconder a barriga por baixo de batas, por puro pudor e preconceito. Foi muita ousadia tanto de Leila Diniz como da então editora de Cláudia, Maria Helena Malta (amiga da família Diniz), e do fotógrafo Joel Maia, e a iconografia da mulher brasileira “que sabe o que quer” ganhou mais uma bela imagem para a posteridade. Quatro meses depois, Janaína Diniz Guerra nascia, o que foi fator determinante para que Leila Diniz largasse o cigarro e as bebidas alcoólicas. A filha foi a maior alegria da vida de Leila, que sequer largava mão de amamenta-la no seio nos intervalos do trabalho, como vedete e como jurada.
Bem. A vida de Leila foi brutalmente interrompida no dia 14 de junho de 1972: ela havia, um mês antes, pego um avião para a Austrália, com amigos, para participar do Festival de Cinema de Adelaide, representando o Brasil com o filme Mãos Vazias. Porém, na viagem de volta, Diniz foi vítima de um acidente aéreo: por barbeiragem dos pilotos, o avião onde estava caiu nas proximidades de Nova Delhi, na Índia. Apenas cinco passageiros sobreviveram; Leila não estava entre eles. Janaína se encontrava em segurança no Brasil, sob os cuidados de Ana Maria Magalhães.
E, melancolicamente, após sua morte, Leila teve seus feitos reconhecidos e foi endeusada como musa do feminismo. Bem, o mundo mudaria muito desde então e tudo que era chocante na época de Leila Diniz hoje se tornou banal. Hoje ainda há quem se escandalize em ver uma mulher amamentando no seio em público, mas creio que vocês me entenderam.
E, bem: foi a cantora Rita Lee, em uma de suas canções, chamada apropriadamente Todas as Mulheres do Mundo, que afirma em seu refrão: “Toda mulher quer ser amada / Toda mulher quer ser feliz / Toda mulher se faz de doida / Toda mulher é meio Leila Diniz”. Levante a mão quem, dentre as mulheres incluídas entre meus 17 leitores, não concorda.
Além do texto bem-humorado e descontraído do autor, um dos méritos do presente livro foi o caderno iconográfico muito rico em imagens, incluindo as fotos mais célebres, o que torna a leitura desta biografia uma experiência agradável. Que tempos, aqueles.

PARA ENCERRAR...
Ando meio emburrado por esses dias, por causa da situação nacional. Consequentemente, ando meio sem ideias boas para continuar cumprindo meu compromisso de desenhar todos os dias deste ano. E, sem saber ao certo o que colocar, que combinasse com o tema desenvolvido, resolvi, mesmo, redesenhar duas tiras de meus personagens praianos, os Bitifrendis. Adaptadas para um novo formato, que está sendo o mais comum para publicação de tiras na internet. E ambas a respeito de grávidas de biquíni. Uma é da primeira temporada de tiras; outra é da segunda.
Abaixo, eis as tiras originais, para efeito de comparação. E, frise-se: como meu traço mudou desde a década de 2000 até este presente ano. E como minha maneira de lidar com o Photoshop também mudou - digo, o modo como faço retoques nos desenhos escaneados.
Vejam mais tiras dos Bitifrendis em https://bitifrendisblog.blogspot.com.br/.
E ficamos nisso, por hora. Em breve, novidades.

Até mais!

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