domingo, 7 de junho de 2015

PENADINHO - VIDA - Amor após a vida após a morte

Olá.
Devido aos planos que tive para as últimas postagens, um assunto do qual eu queria tratar foi sendo empurrado para mais adiante. Hoje não dá mais para adiar – não enquanto o assunto em questão ainda estiver no mercado.
Hoje, vou falar novamente de quadrinhos. Hoje vou falar de quadrinhos brasileiros. Hoje vou falar de Graphic MSP, que é o que vem limpando a barra do sempre mal falado quadrinho brasileiro. Hoje vou falar do mais recente lançamento do selo. Hoje vou falar de PENADINHO – VIDA.

NOS CAPÍTULOS ANTERIORES...
Vamos rememorar rapidinho: em outubro de 2012, saiu o primeiro álbum da mais intrigante iniciativa dos Estúdios Maurício de Sousa, que há anos vem encantando gerações com a Turma da Mônica. Desde a série MSP 50 (três volumes entre 2009 e 2011), em que artistas foram convidados a reinterpretar os clássicos personagens de Maurício à sua maneira, até o álbum Mônica(s), de 2013, que contou até com artistas internacionais, passando pelo também álbum Ouro da Casa, de 2012, artistas brasileiros estão oferecendo aos leitores outra visão do universo de Maurício de Sousa – e com autorização e supervisão do próprio e de Sidney Gusman, o editor do site Universo HQ.
A iniciativa mais destacada do Estúdio, que voa em céus de brigadeiro desde que passou a publicar seus gibis e álbuns pela Panini, é a série Graphic MSP, onde os personagens estrelam histórias mais adultas que os gibis de linha. E a série ainda contribui para aumentar a fama de talentos das HQ nacionais que até então só contavam com eles mesmos para divulgar sua arte.
Começou em outubro de 2012, com Astronauta – Magnetar, de Danilo Beyruth. Veio, depois, em maio de 2013, Turma da Mônica – Laços, dos irmãos Vítor e Lu Cafaggi; em agosto de 2013, veio Chico Bento – Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte; e, completando a primeira leva, em novembro de 2013, Piteco – Ingá, de Shiko. Ainda no final de 2013, é anunciado o início do segundo ciclo de álbuns da série, que previa seis álbuns – número ampliado posteriormente para sete. Já saíram: em agosto de 2014, Bidu – Caminhos, de Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, e, em dezembro de 2014, Astronauta – Singularidade (continuação de Magnetar), de Danilo Beyruth.
E agora, em maio de 2015, é lançado o primeiro álbum do presente ano, PENADINHO – VIDA, de Paulo Crumbim e Cristina Eiko.
E chegou atropelando: estava previsto que o álbum seguinte a Astronauta – Singularidade seria o do Louco, por Rogério Coelho, mas problemas fora do controle da Panini, a publicadora dos álbuns, e o autor, atrasaram o lançamento.
Ainda estão previstos, além do Louco por Rogério Coelho, álbuns do Papa Capim, por Marcela Godoy e Renato Guedes, da Turma da Mata, por Roger Cruz, Artur Fujita e Davi Calil (originalmente, seria Greg Tocchini quem integraria o projeto, mas ele foi responsável pela primeira baixa na iniciativa), e a continuação de Turma da Mônica – Laços, pelos irmãos Cafaggi.
E, já que falamos nos gibis de linha da Maurício de Sousa produções: recentemente, foi noticiado que, a partir de agora, com a numeração dos gibis de linha reiniciando (elas alcançaram o número 100, pela Panini, em maio) as histórias serão creditadas! É uma antiga reivindicação dos quadrinhistas brasileiros, que vem desde que as histórias dos quadrinhos Disney, publicadas no Brasil pela editora Abril, começaram a creditar os autores.

EIS OS AUTORES
PENADINHO – VIDA ganhou vida através do traço de dois autores independentes que atuam de forma, digamos assim, discreta: apesar de já fazerem algum sucesso, seus nomes não são muito citados em muitas mídias.
Assim como Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, Paulo Crumbim e Cristina Eiko Yamamoto não participaram, anteriormente, da série Graphic MSP, assim como os outros autores.
O casal faz quadrinhos conjuntamente desde 2010. Em comum, os dois tinham a paixão por HQ e a vontade de trabalhar no ramo – e nas animações. Crumbim, nascido em Santos, SP, é formado em publicidade; Eiko, nascida em São Paulo, é formada em Design Digital.
Ambos se conheceram em um estúdio de animação – os nomes de ambos constam nos créditos dos filmes de animação Asterix e os Vikings (apesar de ser uma produção francesa, teve parte de sua animação feita aqui no Brasil) e Uma História de Amor e Fúria (este sim, 100% brasileiro).
Desde 2010, Crumbim e Eiko produzem a série de HQ Quadrinhos A2, que conta, de forma surreal e bem-humorada, o cotidiano dos dois – com a inserção de elementos fantásticos em estilo que, segundo a crítica, lembra Scott Pilgrim. Quadrinhos A2 já rendeu três álbuns, lançados de forma independente: Quadrinhos A2 – Primeira Temporada saiu em novembro de 2011; Segunda Temporada saiu em novembro de 2012; e Terceira Temporada saiu em novembro de 2013.
Nesse meio tempo, em outubro de 2012, Crumbim lançou um álbum solo, Gnut, com as aventuras de um simpático alienígena.
Apesar de atualmente estarem desatualizados, os sites oficiais dos autores ainda podem ser visitados: www.quadrinhosa2.com/ e www.gnutcomics.com/.

EIS O PERSONAGEM
O escolhido para o trabalho pelo casal Crumbim e Eiko foi o Penadinho, o fantasminha criado por Maurício de Sousa em 1963, para o suplemento infantil do jornal Folha de S. Paulo. Mas o anteriormente chamado apenas de Fantasminha só recebeu o nome no ano seguinte. Mas já apresentava a forma consagrada através dos anos: o de “lençol branco” vivo, rechonchudo e com cabeça em forma de porongo (o fruto que, aqui no Rio Grande do Sul, se usa para fazer cuias de chimarrão).
Penadinho insere-se no gênero do quadrinho terrir, ou seja, o terror humorístico. Sendo uma série feita para crianças, o terrir não tem nada de assustador, apesar de utilizar monstros e criaturas sobrenaturais. Elas são tiradas d elemento gótico para serem satirizadas. Claro que o representante mais notório do gênero é o Gasparzinho de Sy Reitt e Joe Oriolo. Certamente, o Fantasminha Camarada deve ter servido de inspiração para Maurício de Sousa dar vida ao Penadinho.
Mas, ao contrário de Gasparzinho, a principal diversão de Penadinho é assustar pessoas. E o faz do modo “antigo”: aparecendo e fazendo “bu”, por vezes de modo escandaloso – nada de correntes para acentuar o efeito. A credulidade das pessoas faz o resto. Tem quem sequer se assuste – ainda mais hoje em dia, em que há coisas muito mais assustadoras que “um fantasma boboca”. Mas os sustos são a fonte de alimento de Gasparzinho e seus amigos.
Penadinho, como o próprio nome diz, é uma alma penada, cujo destino é atormentar os vivos. E ele é a alma de alguém que já morreu, tanto que mora em um cemitério, em local nunca especificado, mas evidente que esse cemitério fica no Brasil. Se bem que pode ser em qualquer parte do mundo, já que a tira, como as demais do universo de Maurício de Sousa, foi exportada – nos EUA, Penadinho é conhecido como Bug a Boo. E teve uma história em prosa publicada em um livro infantil, escrito por Maurício, nos anos 1960, lançado pela editora FTD. Em 2015, a série de livros infantis de Maurício deverá ser relançada pela WMF Martins Fontes.
Como bom representante do gênero terrir, Penadinho é cercado de personagens típicos desse universo – alguns um tanto díspares para um cemitério brasileiro. Tem um vampiro, o azarado Zé Vampir, elegante porém atrapalhado, e que enfrenta agruras para poder sugar sangue de suas vítimas; Frank, um Frankenstein com força enorme, bom coração e mentalidade de criança (o cientista louco que o criou, seu pai, também vive nos arredores do cemitério); Muminho, uma legítima múmia egípcia que sabe-se lá como foi trazida ao cemitério, cheia de manias e que não gosta de sujar suas faixas; Cranicola, um crânio falante, inteligente e cujo maior complexo é não poder sair do lugar por conta própria sem depender de alguém para ser transportado; o lobisomem atrapalhado, que só posteriormente foi batizado como Lobi – e cuja aparência mudou bastante; Alminha, também fantasminha, a “alma gêmea” de Penadinho – sua namorada, entenderam?; um fantasminha bebê que entrou posteriormente (por isso, não sei o nome dele – quem puder, me ajude nos comentários); e a Dona Morte, em sua clássica representação, rosto cadavérico, de capuz e foice na mão, mas cheia de manias como uma trabalhadora comum. Esqueçam a gatinha de roupa gótica do galhofeiro Neil Gaiman.
Aliás, algumas das melhores histórias de Penadinho, apesar de levar seu nome, são as em que ele não tem o protagonismo, e sim a Dona Morte: no melhor estilo do Spirit de Will Eisner, são contadas as trajetórias de pessoas comuns, com hábitos excêntricos, desde que sua mania se desenvolveu até quando encontraram a morte e viraram fantasmas. E foram muitos os casos: um cara que odiava árvores, outro que odiava cães, um cleptomaníaco compulsivo, um que viveu a vida toda na pressa, um que aproveitou a morte para colher autógrafos de ídolos mortos... dentre os casos que me lembro, quando lia os gibis da Mônica. A presença da Dona Morte é constante, no final das historinhas.
Há, ainda, dois personagens recorrentes nestas histórias: a Dona Cegonha, o símbolo do renascimento, cujo trabalho é conduzir as almas a reencarnar em outro corpo (nem sempre com o resultado esperado); e o Diabo, e seus asseclas, cujo trabalho é fazer as almas receberem a condenação por seus pecados em vida. Isto é, se as almas não forem conduzidas, pela Dona Morte, ao Paraíso, ao Purgatório... ou ficarem no limbo, mesmo, fazendo companhia ao Penadinho e seus amigos no cemitério.
Penadinho também tem um gibi próprio, almanaque bimestral das melhores histórias pela Panini, e uma compilação de tiras pela L&PM Pocket.

EIS O ÁLBUM
Crumbim e Eiko, em PENADINHO – VIDA, constroem um enredo que combina terror leve, uma história de amor, questões filosóficas, referências a filmes e outras mídias do universo do terror, tudo em um traço sombrio, porém “fofo”, feito a quatro mãos. O roteiro foi escrito conjuntamente, e os desenhos também: Crumbim desenha e colore, Eiko faz a arte-final e a assistência.
Tal como os outros álbuns do Graphic MSP, os autores interpretam os personagens à sua maneira, mas mantendo as características consagradas, às quais os antigos fãs estão acostumados. Penadinho perde apenas a cabeça de porongo e tem as mãos e pés reduzidos – ele flutua, ao invés de andar, como faz nas HQ normais; Frank ganha traços “fofos”, que contrastam com a aparência frankensteiniana; Muminho ganha uma maior aparência de morto-vivo, com rosto cadavérico embaixo das faixas e tudo; Zé Vampir é reduzido a um boneco de formas minimalistas, mas mantém a personalidade irônica e bem-humorada; Cranicola é desenhado como um crânio, mesmo, de formas mais realistas; Alminha troca a aparência rechonchuda e o cabelo chanel por um vestido, um cabelo esvoaçante, enfim, uma aparência mais de alma penada; Dona Cegonha é uma cegonha realista – não tem nem o boné com o qual aparece nos gibis de linha; e a Dona Morte, sua aparência mais assustadora. A grande surpresa é a forma como Lobi é inserido na história.
Crumbim e Eiko ainda criam personagens exclusivos para o álbum. E eles conduzem uma das melhores histórias – apesar dos “pecadilhos” – desde Turma da Mônica – Laços e Bidu – Caminhos.
A tônica de PENADINHO – VIDA é a vida após a morte. Mas com pesadas questões filosóficas: quanto duraria, em realidade, a “vida após a morte”? O que aconteceria se alguma coisa, de repente, determinasse uma segunda passagem – da vida após a morte para outra vida? Desse modo, teríamos mesmo a eternidade para resolvermos os assuntos que deixamos pendentes tanto na antiga vida quanto na pós-vida?
Bueno. A introdução de PENADINHO – VIDA tem dois acontecimentos paralelos. No primeiro, dois entregadores vão à casa de um estranho senhor, para entregar umas caixas – folhetos de propaganda que ele mandou imprimir. O tal senhor, chamado Sr. Crowley (referência ao ocultista britânico Aleister Crowley, certamente), é um velho morto-vivo, sempre cercado de moscas, produtor de perfumes – o ingrediente usado para tal é que é seu segredo mais sórdido – e especialista em “trazer de volta as pessoas amadas” de quem lhe consulta, “vivas ou mortas”. Ele tem duas criaturas a seu serviço, os esquisitos Amaimon e Pazuzu (referência ao filme O Exorcista), responsáveis por serviços gerais, desde distribuir os tais panfletos até coletar almas perdidas. Sim: Amaimon e Pazuzu são entidades sobrenaturais – praticamente demônios – que andam pela cidade vestindo chamativas roupas de garoto. Enquanto Amaimon é tranquilo e conformado, Pazuzu é reclamão e mal-humorado pelo contrato eterno que deve prestar ao Sr. Crowley.
O segundo acontecimento se dá no cemitério onde Penadinho vive. Ele, Frank, Zé Vampir, Muminho, Cranicola e Alminha estão brincando de esconde-esconde no cemitério – Lobi ainda não faz parte do grupo, mas aparecerá até o fim do álbum. Até que, quando é a vez de Penadinho procurar os amigos, a Dona Cegonha aparece, com uma notícia nada animadora ao fantasminha: Alminha vai ser a próxima a reencarnar – e, consequentemente, vai ser separada dos amigos.
Ocorre que Penadinho nunca confessou a Alminha que ela é o grande amor de sua pós-vida – apesar de o sentimento ser recíproco. O fantasminha sabe que aquela será sua única oportunidade, pois Dona Cegonha a buscará ao amanhecer – até então, acreditava que teria a eternidade toda para isso. Em boa parte do álbum, Penadinho reluta em admitir que ama Alminha, mesmo com a insistência de Zé Vampir em fazê-lo confessar. E o fantasminha decide levar a “quase” namorada para sair. Mas Alminha está emburrada, já que Penadinho nunca cumpriu as promessas que fizera de levá-la para ao menos um passeio. Na discussão, Penadinho se afasta de Alminha.
Aí, ela é abordada por Amaimon e Pazuzu, que, após chegarem simpáticos e até contarem-lhe uma historinha, capturam-na e a prendem numa garrafa. E Alminha é levada até o Sr. Crowley - mas,–antes, Amaimon e Pazuzu resolvem parar numa sorveteria.
De volta ao cemitério, o triste Penadinho recebe a notícia, através dos amigos, do desaparecimento de Alminha. E decide ir atrás dela. Zé Vampir, Muminho e Frank vão junto – Cranicola fica no cemitério.
Durante a procura na cidade, Frank recebe um dos folhetos do Sr. Crowley, e, então, Penadinho decide consulta-lo. A jornada é feita através de um local assustador, onde até os monstros relutam em atravessar. O mais assustado, em vários momentos, é Muminho – Penadinho está tão determinado que nada o assusta, Zé Vampir leva tudo “na boa” e Frank está praticamente alheio, por conta da mentalidade infantil, mas é útil quando necessário.
Na jornada, os quatro atravessam, de bote, um lago, e, do outro lado do lago, são recepcionados por uma voz assustadora, que os ameaça. Mas, logo, descobrem que o dono da voz, na verdade, é um homem. Um estranho rapaz que vive junto a criaturas assustadoras – ele tem um segredo, que é revelado perto do fim do álbum. O rapaz põe as quatro criaturas a par dos estranhos acontecimentos do local: criaturas estão desaparecendo, sem motivo aparente. As que sobreviveram estão sob a proteção de Mamãe, uma enorme árvore viva, que esconde em seu interior uma mansão. Lá, o chamado “forasteiro” vive com outras criaturas, como a serelepe Pequena e a velha de quatro braços Torta de Mel, a cozinheira.
Dentro da mansão, Penadinho e amigos põem o Forasteiro a par de seus motivos para estar ali, e o rapaz decide ajuda-los. Os conduzem, através de uma passagem secreta, até a mansão do Sr. Crowley, que fica ali próxima. Chegando ali, Frank acaba fazendo bagunça no depósito de Crowley, que, atraído pelo barulho, desce para ver o que acontece. E, ouvindo a história de Penadinho, se dispõe a auxiliá-lo a encontrar Alminha. Que, claro, está com o senhor, aprisionada em um grande jarro, junto com outras almas.
Dentro do jarro, Alminha conhece o simpático Marchimelo, uma companhia para conversar no meio das almas que gemem e gritam em desespero. E consegue manter o controle ali, pois, de algum modo, sabe que Penadinho está vindo salvá-la.
Em comum com Penadinho, o Sr. Crowley também tinha uma paixão não-correspondida, a qual ele só se importou quando já era realmente tarde demais. Por isso, ele se dedica à estranha atividade.
Ao ver o jarro de almas – e saber do uso que Crowley faz delas – Penadinho se irrita, e ameaça Crowley, que, então, liberta três demoninhos ferozes para conter os ânimos do pessoal. Mas esses três demoninhos acabam fazendo, sem querer, o feitiço se voltar contra o feiticeiro, conduzindo ao apoteótico final da narrativa, onde a Dona Morte e a Cegonha marcam presença. Só a Dona Morte pode salvar o Sr. Crowley da confusão que criou. Mas... Será mesmo a última despedida de Penadinho e Alminha... ou haverá uma segunda chance, já que ambos estão entendendo o significado da “vida”, depois disso tudo?
Bem. Apesar da boa condução do principal assunto da história – a busca de Penadinho por Alminha – o álbum peca por seu final, que deixa pontas mal-amarradas nos nós narrativos. Também o aproveitamento dos personagens secundários deixa a desejar. O Sr. Crowley tem o melhor tempo dentro da narrativa, mas é o reclamão Pazuzu que rouba a maior parte das cenas em que está presente, praticamente sufocando o parceiro Amaimon. A personagem Pequena seria muito promissora, se tivesse mais voz ativa na narrativa. Assim como o simpático Marchimelo (referência ao monstro gigante que aparece no final do primeiro filme d’Os Caça-Fantasmas?), que é rapidamente defenestrado após os diálogos com Alminha. E o grande sustentáculo do personagem Forasteiro, além do auxílio que dá aos personagens principais, é o segredo que carrega – só posso revelar que tem algo a ver com a lua cheia, e a aparição de Lobi no álbum. Está certo que o espaço do álbum era limitado – só 84 páginas, contando capa, e ainda tinha de reservar espaço para as páginas de extras – mas, Srs. Crumbim e Eiko, pra que defenestrarem precocemente o Cranicola? Ele não podia ir junto, carregado pelo Frank? Nem ao menos para soltar comentários irônicos?
A arte é o melhor do álbum, sombria, com momentos luminosos – mas como se fosse iluminada como uma lâmpada – combinando perfeitamente com os personagens. Em uma das páginas, Crumbim e Eiko conseguem uma incrível solução narrativa: resumem a jornada de Penadinho e seus amigos através dos túneis, até o porão do Sr. Crowley, a uma imagem que reproduz uma tela dos antigos games 8-bits – com direito às falas de personagens transformadas em legendas. É bem o estilo do casal, que também tematiza videogames nas histórias dos Quadrinhos A2. Ah: embora os balões sejam evidentemente inseridos por computador, parece que houve melhorias nos softwares, já que nem parecem ter sido feitos no computador. Há balões personalizados para alguns personagens, e, toda vez que eles gritam, as letras são grandes, vermelhas e em negrito. Ah: prestem atenção, também, nas referências a filmes de terror e outras HQ célebres.
E não podem faltar os extras! Introdução de Maurício de Sousa, bastidores da produção e biografia dos autores. E posfácio do cineasta Luiz Bolognesi - “patrão” de Crumbim e Eiko em Uma História de Amor e Fúria. E as duas versões disponíveis: capa dura, a R$ 31,90, e capa cartonada, a R$ 21,90. Que fase... até os álbuns do Graphic MSP estão sendo atingidos pela inflação.
Apesar dos tropeços, já posso considerar PENADINHO – VIDA um dos melhores álbuns da série Graphic MSP. Os últimos álbuns não foram muito bem de crítica, muitos consideram-nos superestimados. Mas a série Graphic MSP ainda cumpre seu papel de livrar a barra do quadrinho brasileiro: além de pouco chegarem às bancas, as melhores HQB disponíveis são conhecidas por poucos.
Well. Até chegar o próximo álbum, já dá para estabelecer o ranking pessoal dos álbuns. Claro que baseado em opinião pessoal deste que vos escreve. Vocês tem os seus? Compartilhem através dos comentários! Por ordem de classificação:
1º) Turma da Mônica – Laços
2º) Bidu – Caminhos
3º) Penadinho – Vida
4º) Piteco – Ingá
5º) Astronauta – Magnetar
6º) Chico Bento – Pavor Espaciar
7º) Astronauta – Singularidade.

PARA ENCERRAR...
...já que tratamos do tema, vou partilhar com vocês uma redescoberta de meus arquivos pessoais.
Nos meus tempos de formação, por volta de 1999 – 2001, também criei um personagem de terrir. Apresento-vos, então, a Fantasmina, a Fantasma adolescente. Aqui, numa ilustração conceitual em linha-clara.
Me baseei em uma fantasma que apareceu em uma história do Penadinho – vejam vocês. E dei vida – curta – a esta personagem, e seus amigos Nuno, o fantasma, e Lobo, o lobisomem. No total, encontrei dez tirinhas da personagem. Para vocês terem uma ideia, eis aqui algumas amostras de páginas dominicais que fiz da Fantasmina. A arte-final foi feita a esferográfica, em letra cursiva.
Eu disse, é do meu período de formação. Fui aprender mais sobre HQ quando fui estudar em Santa Maria, e me juntei ao Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A.. Ali que aperfeiçoei a minha técnica atual.
Bem. Se quiserem, em breve, eu coloco mais páginas de Fantasmina para vocês. Se quiserem, volto a produzir historinhas com a personagem. Pelo menos, digam alguma coisa!
Estaremos no aguardo, agora, do próximo Graphic MSP!

Até mais!

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