sábado, 13 de setembro de 2014

Xaxado pela HQM - Eis nossa memória a Cedraz

Olá.
Na última quinta-feira, dia 11 de setembro – 13º aniversário dos atentados às Torres Gêmeas de Nova York – os quadrinhos brasileiros, como já noticiado aqui no blog, perderam um de seus maiores lutadores da causa, Antônio Cedraz, falecido após lutar contra um câncer no intestino.
Desde 1998, quando Cedraz começou a publicar as tiras de seu personagem mais importante, Xaxado, o cartunista baiano dedicou muitos de seus esforços para o licenciamento e a divulgação do personagem, tipicamente brasileiro. Até hoje, o pequeno nordestino e seus amigos apareceram em inúmeras publicações, independentes ou apoiadas por editoras. Na parte independente, Cedraz chegou a criar uma editora própria, a Editora Cedraz.

Vale lembrar que, anterior a Xaxado, Cedraz publicou outros personagens, como Zé Bola, Joinha, Sabino e Pipoca, cada um com seu núcleo de amiguinhos. Com o sucesso de Xaxado, Cedraz praticamente largou de mão seus outros personagens, voltados à vida urbana, para se dedicar a esse personagem voltado ao Nordeste rural, de secas e esperança de chuva, de desigualdade social e vida simples, de folclore e lendas. A pegada nacionalista garantiu o sucesso duradouro de Xaxado pelo Brasil.
Da grande quantidade de material referente a Xaxado, entre livrinhos de histórias ilustradas, coletâneas de tiras e pequenos álbuns temáticos, podemos destacar, inclusive, o álbum especial 1000 Tiras de Quadrinhos, publicado inicialmente de forma independente e republicado posteriormente pela editora Martin Claret. Mas eu tenho aqui algo de relevância: os quatro números do gibi do personagem, lançados pela editora HQM em parceria com a Editora Cedraz, em 2010.
Desses gibis, já havia falado no blog, porém não cheguei a aprofundá-los em resenhas, mais noticiar a chegada dos mesmos em bancas. Hoje isso muda.
Vale ressaltar: Cedraz contava com uma equipe de produção para auxiliar na confecção das tiras de jornal, das histórias longas e das ilustrações. O gibi só seria viável com o auxílio dessa equipe, mas Cedraz, além de escrever, desenhar e colorir as histórias, supervisionava os trabalhos da equipe.
A HQM, na época, também publicava em bancas o novo gibi do personagem Senninha. Hoje, a editora praticamente parou de investir em publicações brasileiras – seu carro-chefe é a série estrangeira The Walking Dead. Oh, que chances o quadrinho brasileiro tem diante dos “blockbusters” estrangeiros?
Bão. Os quatro gibis contavam com a seguinte equipe de produção: roteiros de Antônio Cedraz e Tom S. Figueiredo; Desenhos e Arte-Final de Antônio Cedraz, Sidney Falcão e Mariel Viana; Cores de Vítor Souza e Antônio Cedraz; Colaboração de Fábio Maltez e Marcos Franco. Além de histórias longas e tiras de quadrinhos, o gibi também contava com páginas de passatempos, curiosidades e anúncios para licenciamento do personagem e de produtos da Editora Cedraz. Todos os números tinham preço de capa de R$ 2,90 e 36 páginas cada.
E, em todas as histórias, transparece a riqueza cultural do Nordeste brasileiro, com fartas doses de humor, crítica social, consciência ecológica, folclore nacional e um pouco de crítica à política, através das pequenas aventuras de Xaxado, o bom menino, e seus amigos Zé Pequeno, o preguiçoso, Marieta, a intelectual, Marinês, a ecologista, Arturzinho, o “mini-coroné”, Capiba, o aspirante a cantor, o padre e outros. As aventuras não se limitam apenas à pequena vila do interior onde eles vivem; volta e meia, os personagens podem ser vistos na cidade grande ou em espaços imaginários, povoados de lendas brasileiras, como sacis, mulas-sem-cabeça e caiporas. Impossível não lembrar do Chico Bento de Maurício de Sousa.
Vejamos então as histórias de cada gibi, priorizando, aqui, todas as histórias de mais de uma página.

XAXADO # 1
Fevereiro de 2010.
Histórias: em Uma Lição Inesquecível, Xaxado e Zé Pequeno resolvem matar aula, e acabam se envolvendo com um estranho velhote que se revela uma ameaça; em Lugar Assim..., o confronto entre a realidade e os sonhos dos nordestinos; em A Pescaria, Arturzinho se aproxima de Zé Pequeno com propósitos que revelam-se escusos; em O Dedo-Duro, Arturzinho conta com uma ajudinha “mitológica” para ganhar no esconde-esconde – mas essa “ajudinha” vai levar a dele depois; em Orelha de Abano, qual seria o verdadeiro motivo para Zé Pequeno brigar com alguém que vem cantar sua namorada Marinês? Em Mãe, Arturzinho recebe uma “carraspana” da Mãe D’Água, a entidade mitológica protetora das águas (a lição que ele recebe também vale pra nós); e em O Som que Semeia a Vida, Xaxado encontra um chapéu e uma sanfona capaz de operar milagres do sertão – participação especial do eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Xaxado, Zé Pequeno, Marinês e Marieta completam o gibi com tirinhas e histórias curtas.

XAXADO # 2
Março de 2010.
Histórias: em O Anão dos Trilhos, Xaxado, em um passeio na cidade grande, enfrenta, numa estação de metrô, uma criatura maligna, porém pouco esperta; em Santa Refeição, o padre estrela uma versão “estendida” de uma anedota popular; em Liberdade, Marinês às voltas com passarinhos – quem é mais feliz? Em Os Pássaros, Xaxado e Zé Pequeno decidem ajudar um passarinho a aprender a voar; e em De Quem é Esse Jegue??, Xaxado e Zé Pequeno numa briga, intermediada pelo Padre, por causa de um jumento muito estranho – e interesseiro. Completam o gibi histórias curtas e tirinhas com Xaxado e Zé Pequeno.

XAXADO # 3
Julho de 2010.
Histórias: em A Princesa e o Dragão, inspirada nos contos de fada e na poesia de cordel (e por isso narrada em rimas), o clássico enredo das lutas entre cavaleiros para salvar uma princesa (Marieta) de um monstro – qual deles vai se dar melhor: Capiba, Zé Pequeno, Arturzinho ou Xaxado? Em Passado Esperança, a turma recebe a visita de uma estranha criatura, que parece ter as melhores intenções; em Bebê Radical, Xaxado passa por um tremendo apuro para levar um bebê para a casa dele; Dengue é uma pequena história de utilidade pública – com o sempre falado tema da prevenção dessa problemática doença através do combate ao mosquito; em Brincadeira de Mau Gosto, Zé Pequeno resolve assustar todo mundo, mas acaba levando a dele; e em Cuidado: Frágil, Zé Pequeno faz de tudo para proteger um espelho. Completam o gibi histórias curtas de Marinês, Zé Pequeno e Xaxado. E estreia uma seção de cartas.

XAXADO # 4
Agosto de 2010.
Histórias: em Uma História da Noite, Marinês ouve de seu avô uma lenda popular sobre a origem da noite e do luar – envolvendo uma história de amor proibido e um apelo ao combate à intolerância racial; em O Eco, Capiba tenta fazer eco no precipício, mas os melhores resultados vem de Marinês; em O Pedido, Zé Pequeno exagera ao formular seu desejo a uma estrela cadente; em Despacho na Encruzilhada, o confronto entre superstição, razão e fome diante de um terreiro de macumba; Segurança no Trânsito tem por gancho um pequeno incidente para informar aos leitores dos perigos do trânsito; e, em A Curiosidade Matou o Gato, Xaxado e seus amigos acabam sendo pegos na “brincadeira” de um malandro. Xaxado e Zé Pequeno completam o gibi com histórias curtas e tiras.

Hoje em dia, para encontrar os gibis, só vasculhando nos sebos e na internet. Não sei dizer agora se é possível, mas dá para olhar no site da editora HQM (www.hqmeditora.com.br) ou no site oficial do Xaxado (www.xaxado.com.br).
Assim, fica nossa homenagem ao saudoso Antônio Cedraz. Se for possível, traremos brevemente outros livros com Xaxado e sua turma para vocês.
Para encerrar, o que tenho de mais regionalista para trazer a vocês são tiras do meu gauchão, o Teixeirão. Estas tiras, que incluem uma versão “reciclada” de uma antiga tira que saiu na revista Quadrante X, são de transição entre o arco de tiras que passou e o atual, cuja publicação já está em curso em http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/
Apoiem o quadrinho nacional! Os nossos cartunistas estão indo mais rápido do que podemos lembrar deles!

Até mais!

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