segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O TEMPO E O VENTO - a trilogia de sete livros - livro, cinema e TV

Olá.
Quanto tempo será que faz desde que escrevi alguma coisa relacionada a televisão? Talvez porque pouco me importe a televisão; não acompanho séries de TV, limitando-me mais aos livros, quadrinhos e internet. Televisão, mesmo, só assisto os noticiários e alguns filmes, portanto é raro os leitores me verem comentar aqui no blog assuntos referentes à televisão. Mas hoje, vou falar de televisão. E de literatura.



Entre os dias 1º e 3 de janeiro de 2014, a Rede Globo veiculou, numa minissérie em três capítulos, a adaptação do livro O TEMPO E O VENTO, de Érico Veríssimo. Em verdade, trata-se de uma versão estendida do filme homônimo, que estreou em setembro de 2013, produção da Globo Filmes em parceria com o Estúdio Nexus, dirigido por Jayme Monjardim – e é o segundo filme desse diretor (o primeiro foi Olga, de 2004).
A adaptação da epopeia da formação do Rio Grande do Sul foi roteirizada pelos escritores Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, ambos gaúchos e entendidos em romances históricos ambientados no estado natal – Ruas é autor de Netto Perde Sua Alma, que gerou o filme homônimo, e de outros romances tematizando a Revolução Farroupilha; e Wierzchowski, a autora de A Casa das Sete Mulheres, que deu origem à aclamada série de TV. Os dois fizeram uma adaptação fiel da obra de Érico Veríssimo, mas com algumas liberdades em relação ao romance.
Bem, este filme nem é, para os que ainda não se inteiraram do assunto, a primeira adaptação da epopeia gaúcha às telas: a primeira adaptação de O TEMPO E O VENTO é de 1967, em forma de novela, pela TV Excelsior; depois, a Globo produziu uma minissérie em 1985.
E, claro, esta adaptação contempla apenas o primeiro livro da trilogia, O Continente. Aah, espere aí, já explico.

OS LIVROS
Para quem não conhece, O TEMPO E O VENTO é uma trilogia literária elaborada entre 1949 e 1962. Érico Veríssimo, autor nascido em Cruz Alta, RS, em 1905 (portanto, conterrâneo de meus colegas Henrique Madeira e Greice Pozzatto, criadores do Cruzaltino), e falecido em Porto Alegre, RS, em 1975, se consagrou nacionalmente com essa obra, composta de sete livros. Sete? Sim, uma “trilogia de sete livros”. É que cada uma de suas três partes – O Continente, O Retrato e O Arquipélago – é dividido em livros menores, devido à extensão da obra (mais de duas mil páginas!). O Continente é dividido em dois livros; O Retrato, também em dois; e O Arquipélago, em três livros. Todos os sete volumes podem ser facilmente encontrados em bibliotecas, livrarias e sebos (os modelos da capa e as editoras que publicaram a saga variam) e são muito cobrados em trabalhos escolares e vestibulares. Érico Veríssimo, pai do cronista Luís Fernando Veríssimo – tão talentoso quanto – escreveu uma quantidade considerável de romances, livros de viagem, contos e livros infantis.
Num outro momento, podemos fazer uma análise mais detalhada de O TEMPO E O VENTO, a série literária. Mas o básico que você precisa saber é que toda a trilogia conta a história do Rio Grande do Sul, desde a segunda metade do século XVIII, com a experiência missioneira, até a renúncia do presidente Getúlio Vargas, em 1945, através da saga da família Terra Cambará, seus homens e mulheres, e da evolução da Vila de Santa Fé. Enquanto os personagens homens vivem baseados na guerra, na morte e na valentia, as mulheres que aparecem na série são fortes e decididas apesar do papel de submissão imposto pela sociedade. O título pode ser explicado da seguinte maneira: o “tempo” se relaciona aos homens, num sentido de passagem, corrosão, destruição, morte – os homens, sempre guerreando e construindo o Estado a sangue, antecipam o trabalho do tempo; já o “vento” se relaciona às mulheres, num sentido de repetição continuidade, permanência – as mulheres retratadas por Veríssimo representam a resistência contra as guerras e o instinto da morte. Desse modo, as mulheres que aparecem na trilogia literária estão entre as mais marcantes personagens femininas da literatura brasileira. É o caso de Ana Terra e Bibiana Terra. Do lado dos homens, o personagem mais marcante é o Capitão Rodrigo Cambará, um arquétipo do homem gaúcho, aguerrido e cheio de vontade de viver – e cujas características psicológicas serão passadas a outros personagens da saga.
O cenário principal de O TEMPO E O VENTO é a cidade fictícia de Santa Fé, fundada no final do século XVIII, como um povoado; mais tarde, é elevada à categoria de Vila, e depois de Cidade, antes mesmo da Proclamação da República, em 1889. Santa Fé é o retrato ficcional de como se deu a evolução política, urbana e social do Rio Grande do Sul, do domínio ao crepúsculo do poder dos grandes estancieiros e suas relações com trabalhadores e escravos, passando pela transformação do papel da mulher no Rio Grande do Sul.
Bem, a parte mais conhecida da trilogia literária é O Continente, por causa do recorte de tempo maior – a trama se desenvolve do século XVIII até 1895, época da Revolução Federalista no RS. O Retrato e O Arquipélago tem um recorte de tempo menor – a história de O Retrato vai de 1895 a 1930, época da República Velha no RS; e O Arquipélago, que já retrata a desintegração da família Terra Cambará, vai de 1930 a 1945. Por alguma razão, O Retrato e O Arquipélago são ignorados pelas adaptações literárias e pelos leitores, de forma geral.
E a adaptação mais recente, como não poderia deixar de ser, contempla apenas O Continente, que mostra a formação e a consolidação da família Terra Cambará.
O Continente é dividido em sete capítulos: A Fonte, Ana Terra, Um Certo Capitão Rodrigo, A Teiniaguá, A Guerra, Ismália Caré e O Sobrado. Este último, ao longo do livro, é dividido em sete capítulos menores, que entremeiam cada um dos capítulos maiores. Ana Terra e Um Certo Capitão Rodrigo são os trechos mais famosos – tanto que foram também lançados em livros separados.

FINALMENTE, O FILME (E A SÉRIE DE TV)
O filme. Na época da produção, iniciada em 2011, o filme foi rodado em Bagé, RS, onde foi construída a cidade cenográfica que representa a vila de Santa Fé. Mas também foram construídos cenários como a Missão Jesuítica de São Miguel, onde a saga tem início, e a fazenda da família de Ana Terra. Como em todo filme padrão Globo, o filme conta com um grande elenco de estrelas globais, quase todos talentosos e superconhecidos, e cada personagem é interpretado por diversos atores, de acordo com a idade e a época. Logo, alguns dos atores tem aparições breves no filme.
Bem. O filme já começa com uma liberdade poética. O livro se inicia em 1895, no contexto da Revolução Federalista, quando o sobrado onde residem os Terra Cambará está sitiado pelos seus inimigos, a família Amaral. O conflito entre as famílias Terra Cambará e Amaral é o principal motor da trama – esse conflito inicia meio que por um motivo fútil em Um Certo Capitão Rodrigo, e, durante toda a saga, ambas as famílias assumem ideologias políticas opostas. Aí o filme começa com um recurso que não existe no livro: a velha Bibiana Terra (Fernanda Montenegro), quase totalmente caduca e alojada em seu quarto no sobrado, recebe a visita do fantasma de seu falecido marido, Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda). E esta começa a contar para ele a história da família.
A primeira parte do flashback contempla a primeira parte do livro, A Fonte, que conta a história de Pedro Missioneiro (na infância, interpretado por Matheus Costa), filho de uma índia estuprada por bandeirantes, que é acolhido na Missão de São Miguel, e se torna pupilo do Padre Alonzo (Cesar Troncoso). Pedro, com grande talento para a música, ganha do padre o principal símbolo da família Terra Cambará: um punhal de cabo e bainha de prata. Quando a Missão é atacada e destruída por invasores portugueses, Pedro foge montado em um cavalo baio.
Depois, começa a trama de Ana Terra. A moça (Cléo Pires), filha do tropeiro Maneco Terra (Luis Carlos Vasconcellos) e de Henriqueta Terra (Cyria Coentro), e irmã de Antônio Terra (José Henrique Ligabue) vive com a família isolada em um rancho em algum lugar do Rio Grande de São Pedro, por volta de 1777. Até que ela encontra Pedro Missioneiro (na idade adulta, por Martín Rodriguez, dialogando em espanhol) ferido em uma sanga. O índio é acolhido pela família como uma espécie de agregado, e acaba encantando Ana Terra com a música de sua flauta – a moça nunca tinha ouvido música na vida, e por isso desperta em si sentimentos de solidão e inquietude que norteiam a decisão de se entregar ao índio e engravidar dele. Porém, Maneco descobre o caso, e, a pretexto de defender a honra da filha (“honra se lava com sangue”), com a ajuda de Antônio, mata Pedro – sem resistência, pois o índio previra sua própria morte. Ana dá à luz o filho Pedro (Eduardo Correa, na infância), e fica de mal com o pai. Mas, mais tarde, a estância é invadida por bandoleiros castelhanos que matam o pai e o irmão de Ana, destroem e saqueiam a estância e estupram Ana. Mas ela salvara a tempo o pequeno Pedro, e ambos, acompanhando uma comitiva de carreteiros, vão para a vila de Santa Fé, fundado pelo estancieiro Ricardo Amaral (José de Abreu). Ana (na idade madura, por Suzana Pires) se torna a parteira do povoado; Pedro cresce e acaba indo para as guerras que se seguem. Os vários sofrimentos de Ana Terra ao longo da vida – a morte do único homem a quem amou,a perda da mãe, a morte dos familiares, as esperas que faz do filho – tornam-na uma mulher forte, e por isso uma das mais admiráveis mulheres da trama.
O flashback seguinte contempla Um Certo Capitão Rodrigo. O bonachão e encrenqueiro Rodrigo Cambará (Lacerda) chega a Santa Fé em 1828, causando alvoroço (eles não esqueceram o famoso trecho do “Buenas e me espalho, nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!”, em que Rodrigo se apresenta, embora no filme o trecho soe muito artificial), mas logo firma amizade com Juvenal Terra (Cris Pereira), filho de Pedro Terra (na idade madura, por Cacá Amaral) e irmão de Bibiana Terra (na adolescência, por Marjorie Estiano). Outro personagem com quem Rodrigo estabelece laços de amizade é o Padre Lara (Zé Adão Barbosa), que tenta convertê-lo, sem sucesso, ao cristianismo. Rodrigo se encanta por Bibiana, e decide se casar com ela. Mas Pedro, um tanto conservador, não gosta do homem, cheio de vontade de viver, que gosta de cantar, falar alto e parece muito devotado a satisfazer seus desejos eróticos e físicos – ou seja, gosta mesmo é de mulheres, de beber e de brigar. Para piorar, Rodrigo faz como inimigos Ricardo Amaral Neto (Paulo Goulart), o manda-chuva do local, e o filho Bento (Leonardo Medeiros), que também está de olho em Bibiana. A tensão entre Bento Amaral e Rodrigo explode durante uma festa no povoado, quando o Capitão, convida Bibiana para dançar, e enfrenta a intervenção de Bento. Os dois acabam duelando, onde Rodrigo, antes de ser gravemente ferido por um tiro de pistola a traição, marca sua inicial, de forma incompleta (“só falta a perninha do ‘R’!”) no rosto de Bento. Depois de recusar a extrema-unção do padre Lara, Rodrigo consegue o que queria: se casar com Bibiana. Em parceria com Juvenal, Rodrigo resolve montar um bolicho (mercadinho). Porém, a vida de “homem sério” não faz muito bem a Rodrigo, tão acostumado a ser um homem livre, como o gaúcho um dia já foi, e vai buscar prazeres em outros lugares. Mas Bibiana permanece-lhe fiel, e sabe que, apesar de tudo, o “seu homem” sempre voltará. Até que, no contexto da Revolução Farroupilha (1835 – 1845), os Cambará e os Amaral ficam de lados opostos no conflito, que termina de modo trágico para Rodrigo. Mas ele consegue levar Ricardo Amaral consigo.
É no trecho seguinte que fica evidente a diferença entre o filme e a série de TV: minutos a mais. É que, na versão para a TV, Jayme Monjardim optou por incluir trechos que ficaram de fora da edição final do filme, e que contemplam o trecho A Teiniaguá. A casa e as terras da família Terra são tomadas por um “estrangeiro”, Aguinaldo Silva (Carlos Cunha), que constrói, em 1845, um belo sobrado – o mesmo onde o filme começa.Para lá se muda com a neta, Luzia (Mayana Moura), a "teiniaguá" do título - referência ao ser mitológico do folclore gaúcho, também conhecido como Salamanca do Jarau, a princesa moura que vira um lagarto com uma pedra preciosa na cabeça, que leva os homens à perdição. Os primos Florêncio (Rafael Cardoso), filho de Juvenal, e Bolívar (Igor Rickli), filho de Bibiana, se encantam pela moça “com modos de cidade”. Bibiana (Janaína Kremer, na idade madura), por sua vez, vê num possível casamento de um deles com a moça a chance de recuperar as terras que eram de sua família. Quem se casa com Luzia é Bolívar, mas esse casamento não é feliz, pois Luzia é masoquista – sente prazer com o sofrimento alheio, e por isso tortura psicologicamente o marido. Luzia e Bolívar tem um filho, Licurgo. Mas o casamento tem um fim trágico: após uma viagem a Porto Alegre, que estava atacada por uma epidemia de cólera-morbo (motivada pela mulher, que quis ficar só pra ver o sofrimento dos doentes nas ruas), Bolívar e Luzia são colocados em uma quarentena forçada por Bento Amaral. Bolívar acaba brigando com a esposa por causa de um desentendimento dela com Bibiana, e, ao tentar romper a quarentena, o rapaz, destroçado psicologicamente, é morto pelos capangas de Amaral.
Depois, o filme pula os trechos correspondentes aos capítulos A Guerra e Ismália Caré, que mostram o desenvolvimento psicológico de Licurgo. Em A Guerra, seria mostrado o conflito silencioso entre Bibiana e Luzia – esta, morrendo aos poucos por causa de uma doença, tem suas tentativas de se casar de novo frustradas pela sogra, que, além de perceber a doença mental da nora, objetiva que, com a morte de Luzia, o neto Licurgo acabe herdando a propriedade sozinho. E, em Ismália Caré, é mostrado os conflitos pessoais de Licurgo, noiva de Alice Terra, filha de Florêncio, objeto da paixão da futura cunhada, Maria Valéria, e dividido entre o casamento e as amarras sexuais que o prendem a Ismália Caré, a filha de um agregado pobre de uma fazenda vizinha, a do Angico. Em Ismália Caré, também é mostrado como Licurgo adere à causa do republicanismo e liberta seus escravos, levando a um novo conflito com os Amaral, que, evidentemente, fica do lado oposto.
O filme vai direto aos acontecimentos mostrados em O Sobrado. Licurgo (Marat Descartes) ainda comanda a defesa do sobrado sitiado, enquanto Alice Terra (Elisa Volpatto) está em trabalho de parto. O bebê nasce morto, e é enterrado no porão. Meio por alto, é mostrada a paixão secreta de Maria Valéria (Vanessa Lóes) por Licurgo. E o final melancólico do livro é substituído, no filme, por um final mais romântico, “padrão globo”.
Um elemento do qual o filme não prescinde é os vários momentos em que se ouve o vento soprando, indicando mudanças na vida das personagens femininas (tal como no livro, onde as principais memórias delas vem em dias de vento). Do lado masculino, o punhal de prata ainda exerce importância simbólica. Mas, para caber em cerca de duas horas, o filme teve de fazer cortes em trechos do romance e em personagens. Por exemplo: Ana Terra tem outro irmão, Horácio, e uma cunhada que também sobrevive ao massacre do bando de castelhanos; em Um Certo Capitão Rodrigo, é mostrada a chegada de imigrantes alemães a Santa Fé, e o envolvimento do Capitão com uma imigrante, Helga; em A Teiniaguá, temos a presença de um médico alemão, o Dr. Winter, que, além de cronista dos costumes do povoado, tem um interesse especial pela “doença” de Luzia (é ele quem compara Luzia à Teiniaguá). E a família Caré, gente sem eira nem beira que faz um contraponto social aos outros personagens, também ficou de fora.
Há outros personagens que fazem apenas aparições muito breves no filme. É o caso de Chimango, que tem uma grande importância em A Guerra, um peão bonachão e conhecedor de lendas, histórias e sabedoria popular, é o principal “professor” de Licurgo. Achar Chimango no filme é difícil, de tão idiossincrática que ficou sua aparição.
Outro personagem que faz uma meteórica aparição é Rodrigo Cambará, o bisneto (Kaic Crescente), ainda um menino: ele terá importância nos segmentos seguintes da Trilogia literária, O Retrato e O Arquipélago.
Quem tiver oportunidade, leia o romance inteiro e depois assista o filme para comparar. Dá pra dizer que O TEMPO E O VENTO, o filme, é cerca de 65% fiel a O Continente. O livro é mais completo, certamente. Mas até que é um filme bonito, com belíssimas imagens, valorizado muito mais pelos momentos sem a trilha sonora de fundo, só com os ruídos dos cascos dos cavalos e do vento, bem gravado, emocionante. E, se vocês acharem que Thiago Lacerda convence como o Capitão Rodrigo, assim como Mayana Moura como a masoquista Luzia, é bem interpretado.
A versão para a TV contou com uma belíssima abertura semi-animada. Quem pode ver, viu. Quem não pode ver, aguarde uma próxima oportunidade para visualizar – ou procure no YouTube.
O TEMPO E O VENTO já está disponível em DVD. Com os minutos a mais mostrados na série de TV? Acho que não. Mas vamos esperar mais um pouco.
Ah: quem quiser ver mais imagens do filme, acessem o site oficial: www.otempoeoventoofilme.com/.
Para encerrar: os desenhos de hoje. Eis aqui uns desenhos antigos que fiz sobre a História do RS, para um trabalho de Pós-Graduação. O tema era o período das charqueadas no RS – as fábricas artesanais de carne-seca, ou charque, base da economia gaúcha ligada à pecuária nos séculos XVIII e XVI, e motor de eventos maiores como a Revolução Farroupilha.
O TEMPO E O VENTO não retrata a era das charqueadas. Mas faz parte da História do RS.
No primeiro desenho, o modo como se caçava o gado selvagem para a extração do couro (a pecuária, introduzida no Continente de São Pedro pelos padres Jesuítas espanhóis e depois amplamente explorada pelos portugueses que ocuparam o território, destinava-se inicialmente à extração do couro. Como o território ainda era pouco povoado, não havia mercado para a carne, que era descartada, e as reses mortas apodreciam nos campos. Só mais tarde é que foi introduzida a técnica de charqueamento da carne – numa época em que não havia geladeira, salgar a carne e secá-la ao sol era a melhor maneira de conservá-la por longos períodos. Sem falar que a venda de charque para outros estados do Brasil constituiu a base para a economia gaúcha nos séculos XVIII e XIX).
E, no segundo, um retratinho do trabalho da charqueada, nas mãos dos escravos negros, submetidos a uma jornada de trabalho estafante, pouco higiênica e, bem, escrava. Relações sociais e de trabalho e técnicas “primitivas” que, felizmente, foram superadas com o correr do tempo.
Em breve, mais filme pra vocês. Faz tempo que encontrei outros assuntos para tratar aqui que não sejam quadrinhos.

Até mais!

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