terça-feira, 8 de outubro de 2013

Livro: ARSÈNE LUPIN - LADRÃO DE CASACA

Olá.

Hoje, falarei de livro – livro de literatura. Depois de tanto tempo falando de quadrinhos, finalmente volto a falar de livro. Até porque os gibis que estou esperando chegarem às bancas estão muito atrasados, estou estranhando. E, quando os gibis demoram a chegar, começo a ficar estressado. E tenho que pensar rápido em um bom assunto para preencher o espaço deste blog. Felizmente, li este livro há pouco tempo, e estava na fila de assuntos reservados. Tem outros na fila ainda, esperando a oportunidade.
O livro de hoje é de um personagem que há algum tempo estava fora de catálogo, apesar de ter uma grande reputação na literatura policial.

O personagem se chama – pretensamente – Arsène Lupin (se não estou errado, a pronúncia é “Arsín Lupân”).
(crédito da imagem acima: site www.coolfrenchcomics.com/)
O personagem, um dos anti-heróis mais conhecidos da literatura mundial, foi criado pelo escritor e jornalista francês Maurice Marie Émile Leblanc, em 1905. Maurice Leblanc, nascido em Rouen, em 1864, e falecido em Perpignan, em 1941, enquanto exercia a atividade de repórter em diversos periódicos franceses, tentara se consagrar como escritor desde os 21 anos, depois de abandonar o curso de Direito e frustrar os planos de sua família, até receber uma encomenda de Pierre Lafitte, editor da revista Je Sais Tout, para criar um romance de aventura que respondesse ao grande sucesso que fazia o detetive Sherlock Holmes, do escritor inglês Sir Arthur Conan Doyle. Desde jovem dono de uma notável imaginação, Leblanc deu vida a Arsène Lupin, o charmoso ladrão que se tornaria o principal patrimônio do romance policial francês – assim como Holmes é o principal patrimônio da literatura policial da Inglaterra. Ao todo, Leblanc escreveu cerca de 20 livros com o personagem, entre romances e coletâneas de contos.
Arsène Lupin já ganhou diversos filmes, peças de teatro e séries de TV. Dentre os vários filmes (principalmente os que ganharam citação na Wikipedia e no Imdb), destaques para o filme francês de 1937, Arsène Lupin Détective; o filme estadunidense de 1938, Arsène Lupin Returns, dirigido por George Fitzmaurice; o também produzido nos EUA Arsène Lupin, de 1932, dirigido por George Fitzmaurice; a produção francesa de 1956, Les Aventures d’Arsène Lupin, dirigida por Jacques Becher; o também francês filme de 1962, Arsène Lupin Contre Arsène Lupin, de Édouard Molinaro; e o mais recente, de 2004, Arsène Lupin, co-produção franco-belga dirigida por Jean-Paul Salomé.
Arsène Lupin inspirou até mesmo um mangá japonês, Lupin III, iniciado em 1967, por Monkey Punch (Kazuhiko Kato), que já ganhou várias adaptações em anime – algumas já passaram no Brasil. Lupin III gira em torno de um descendente do Arsène Lupin original – a título de informação. A influência do personagem de Leblanc foi tão grande que vários personagens seguem os passos dele – é o caso do famigerado mangá (e anime) Mouse, que também gira em torno de um superladrão e suas sensuais capangas.
Bão. Antes de Arsène Lupin, houve outro superladrão na literatura, que certamente influenciou o trabalho de Leblanc: Raffles, criado em 1890 pelo inglês E. W. Hornmung. Assim como Arsène Lupin, Raffles também era um mestre em disfarces; e assim como Sherlock Holmes, também tinha um parceiro de crimes.
Bem. Para começar, Arsène Lupin é um ladrão charmoso, um gentleman, mestre dos disfarces e capaz de fazer roubos espetaculares, apenas pelo prazer do desafio – tanto que poucas vezes ele fica com o que roubou. E olha que ele se diz capaz de roubar qualquer coisa. Ninguém sabe seu verdadeiro nome, seu passado – ele mal se dá ao trabalho de contar sua vida. Ele tem muitos conhecimentos de medicina, artes marciais e sabe se infiltrar entre a sociedade francesa para obter pistas sobre tesouros a serem surrupiados debaixo do nariz de seus donos. Tem seus capangas, que o auxiliam em seus roubos, fria e milimetricamente planejados – mesmo quando ele nem mesmo se encontra no local dos crimes. Em vários momentos, Lupin avisa a vítima em potencial antecipadamente sobre o crime, no sentido de, depois, surpreender as autoridades. Depois do crime cometido, uma das maiores petulâncias de Lupin é justamente jogar a resposta dos enigmas de seus crimes na cara dos policiais estupefatos. E, às vezes, Lupin se dá ao luxo de ajudar a polícia francesa a resolver casos misteriosos e capturar bandidos. Seus principais inimigos, que estão sempre tentando captura-lo – ou ao menos conhecer seus métodos – são o inspetor Ganimard e o detetive inglês Herlock Sholmes (uma ironia ao personagem de Conan Doyle – inicialmente, Leblanc usava nas histórias o nome correto, Sherlock Holmes; sob protestos do próprio Doyle, o francês foi obrigado a mudar o nome do personagem, mas obviamente remetendo ao detetive inglês). Esse “ladrão de casaca”, às vezes, também faz o tipo sedutor, jogando seu charme às mulheres que cruzam seu caminho – algumas delas quase levam o ladrão à perdição.
É até difícil definir corretamente Arsène Lupin, cujas ações variavam de acordo com as conveniências do autor – e do público. Um Robin Hood moderno? Um desafiador cínico da lei?Um elegante duas-caras? Herói ou vilão? As ações de Lupin fazem com que Sherlock Holmes, para os padrões de hoje, pareça politicamente correto (apesar de fazer uso de cocaína), enquanto Lupin seria o “bad boy” do início do século XX.
As novelas de Leblanc têmos mesmos elementos seguidos pelos autores policiais de seu tempo: enredos cheios de detalhes rocambolescos, mistérios a ser resolvidos, elementos que a princípio não fazem muito sentido, mas que se revelam importantes para o desenvolvimento da narrativa, reviravoltas, revelações inesperadas, até a resolução final. Muito embora a linguagem não seja de fácil compreensão, e os enredos até dêem algumas “tropeçadas” no desenvolvimento. E Leblanc ainda faz um retrato da sociedade do início do século XX, um mundo industrializado, vivendo numa belle époque, sem suspeitar que o mundo entraria em seu primeiro grande conflito de grandes proporções – a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).
Os livros de Arsène Lupin foram publicados por diversas editoras brasileiras, como a Vecchi e a Nova Fronteira, e estavam fora de catálogo até 2012, quando a editora L&PM, de Porto Alegre, RS, colocou em sua coleção L&PM Pocket a coletânea Ladrão de Casaca (título original: Arsène Lupin, gentleman chabrioleur) – capa acima – reunindo alguns dos primeiros contos escritos por Leblanc. Publicada originalmente em 1907, dois anos depois que o primeiro conto saiu no Je Sais Tout. Tradução de Paulo Neves.
A presente coletânea reúne nove contos com o personagem, apresentando ao leitor as características que o levaram à fama. Alguns contos são narrados pelo próprio Lupin, outros são narrados pelo próprio Leblanc, que insere-se como personagem, “biógrafo” do ladrão, e outros ainda são narrados em terceira pessoa, com narrador onisciente (“sabedor” das ações e pensamentos dos personagens).
O primeiro, que abre o livro, foi justamente o primeiro conto, publicado em 1905, A Detenção de Arsène Lupin. No conto, a alta sociedade francesa, reunida em um transatlântico, diverte-se até receber a notícia de que Arsène Lupin se encontra a bordo, disfarçado como um passageiro. Qual seria o passageiro suspeito, de acordo com as pistas deixadas em um telegrama? Como Ganimard sabe quem é Lupin? E será que uma mulher pode por mesmo a perder os planos do superladrão?
No segundo conto, Arsène Lupin na Prisão, o ladrão comete um crime, mesmo visivelmente dentro de sua cela. Ele e seus capangas conseguem roubar o castelo de um barão – e Ganimard precisa confrontar o próprio Lupin para tentar entender como este conseguiu.
No terceiro, A Fuga de Arsène Lupin, é relatado como os conhecimentos que o ladrão adquiriu ao longo da carreira – sob diversas identidades falsas – ajudaram-no a fugir da prisão e, ao mesmo tempo, assistir o seu julgamento, sob uma nova identidade. Só lendo para entender – mais uma derrota para Ganimard.
No quarto conto, O Viajante Misterioso, temos um exemplo de como Lupin às vezes auxilia a polícia. No conto, Lupin se depara com um rival de crimes, que, em um trem, o assalta (e a sua parceira de cabine) e até mesmo o amordaça. E o ladrão, que narra a ação de caça ao bandido, fará a justiça a seu modo.
No quinto conto, O Colar da Rainha, é relatado um roubo de uma peça preciosa, e a culpa recai em cima de uma pessoa inocente. E o nome de Lupin só aparece no último parágrafo deste conto.
No sexto conto, O Sete de Copas, Leblanc narra como conheceu Lupin – e foi em uma investigação envolvendo conspirações, traições familiares e um assassinato.
No sétimo conto, O cofre-forte da Sra. Imbert, Lupin relata uma aventura da época em que seu nome ainda não era conhecido. Um relato da única vez em que, apesar de um roubo bem sucedido, ele foi ludibriado, passado para trás.
No oitavo conto, A Pérola Negra, mais uma história de acusação de um crime a um (provável) inocente. Arsène Lupin exercerá seu lado chantagista.
E, fechando a coletânea, Herlock Sholmes Chega Tarde Demais, onde se dá a aparição da “paródia” do famoso detetive inglês. Nela, Lupin é mais uma vez bem-sucedido no roubo de um castelo – apesar de uma conhecida sua quase colocar tudo a perder de novo. Cabe a Sholmes, que chega só depois que o butim é devolvido, esclarecer à vitima como o roubo se deu – com o uso de passagens secretas e um segredo contido em um conjunto de versos.
A coletânea tem 208 páginas, e pode ser facilmente encontrada nas livrarias. Ou adquira pelo site da L&PM (www.lpm.com.br).
É isso aí.
Para encerrar, no já tradicional desenho de hoje, minha interpretação de Arsène Lupin, baseada na figura do logotipo da capa acima. Como Lupin é mestre dos disfarces, encarem o rosto acima como uma das faces com que ele se apresenta ao público. Mas basicamente é o biótipo seguido por muitos ilustradores e atores.
Em breve, consigo trazer mais livros para vocês.
Até mais!

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