domingo, 28 de outubro de 2012

BLUE FIGHTER - o Jaspion made in Brazil

Olá.

Hoje, volto a falar de quadrinhos. E resgatando agora mais um capítulo da história das HQ nacionais do final do século XX.
Hoje, vai ser mais uma das HQ da editora Trama, que ajudou a renovar a fé dos quadrinhistas brasileiros e colocou os programas de computador na ordem do dia de fazer quadrinhos no Brasil. Bom, já falei aqui de várias HQ dessa editora: Godless, U.F.O. Team, Capitão Ninja e Predakonn. Em breve, Lua dos Dragões e Dragonesa. E, se Deus permitir, Holy Avenger.
Hoje o assunto é a série BLUE FIGHTER.

BLUE FIGHTER, a série, foi lançada pela Trama por volta de 1997. Mas a gênese desse quadrinho é anterior. Vamos por partes.

NAGADO
Primeiro, falando do criador do quadrinho, Alexandre Nagado, um dos maiores especialistas em cultura pop japonesa do Brasil. Nascido em 1971, ele, além de escrever textos sobre séries japonesas para diversos veículos de comunicação, também é roteirista e desenhista.
Foi em 1986, aos 15 anos, que ele começou a desenhar, tendo aulas no estúdio-escola Núcleo de Artes, com o professor Ismael dos Santos. Sua primeira HQ profissional, depois de algum tempo publicando ilustrações em diversos meios, foi uma história do quinteto japonês Flashman, publicada na revista Jaspion, da editora Abril, em 1990 – embora os heróis dessa revista fossem criados no Japão, na revista da Abril se publicava histórias produzidas por brasileiros. Nagado escreveria ainda muitas histórias com os famosos heróis tokusatsu japoneses (aquelas séries com atores, de heróis com armaduras ou grupos de uniformizados [super sentai], tipo Power Rangers, que faziam sucesso nos anos 90).
A partir de 1992, ele escreveria matérias informativas para a revista Herói, a mais prestigiada publicação informativa sobre cultura pop. Entre 1994 e 1996, ele escreveu roteiros para a revista Street Fighter, da editora Escala, com os famosos personagens do célebre jogo de luta dos videogames (houve uma fase dessa revista em que as histórias eram produzidas no Brasil - anteriormente, a publicação tinha material exclusivamente estrangeiro). Foi nessa revista que iniciou a parceria entre Nagado e o versátil artista Arthur Garcia. Em 1995, ele coordena, pela editora Escala, a revista Master Comics, misto de revista informativa e gibi, pois publicava também histórias em quadrinhos. Foi na Master Comics que nasceu Blue Fighter. Infelizmente, a Master Comics, uma revista muito promissora naquela época, só durou três números.
Foi em 1997 que Nagado teve a chance de retomar a saga do Blue Fighter, e o fez para a Trama. Aguardem mais detalhes no decorrer da matéria.
Para a Escala, Nagado ainda coordenaria as publicações Desenhe e Publique Mangá (2000) e Mangá X (2002). Em 2000, ele começa a colaborar para o site Omelete, com matérias sobre cultura pop.
Em 2003, é lançada, pela editora Via Lettera, a coletânea Mangá Tropical, organizada por Alexandre Nagado, com histórias curtas de temática brasileira produzidas, em estilo mangá, por diversos artistas brasileiros, como Marcelo Cassaro, Érica Awano, Fábio Yabu, Daniel HDR e o próprio Nagado. E, em 2007, após passar algum tempo colaborando para diversas empresas e fazendo trabalhos esporádicos, atividade que até hoje mantém seu sustento, pela mesma Via Lettera, Nagado publica o Almanaque da Cultura Pop Japonesa. Em 2008, ele viaja para o Japão, para cumprir um programa de intercâmbio patrocinado pelo governo japonês, em comemoração ao centenário da imigração japonesa no Brasil.
Também dá, ainda, para acessar seu blog: http://nagado.blogspot.com.br/.

O HERÓI
Como já dito, BLUE FIGHTER nasceu nas páginas da revista Master Comics, da editora Escala, em 1995. Esse herói dividia o espaço da revista com Aton – O Cavaleiro da Estrela, de Rodrigo de Góes e Martinez, e Pulsar, de Arthur Garcia. BLUE FIGHTER era inteiramente escrito e desenhado por Nagado, desde já incorporando as influências do mangá e dos tokusatsus.
Os tokusatsus faziam muito sucesso no Brasil nos anos 80, e cativavam tanto pela ação, com os heróis usando armaduras especiais para combater monstros e ameaças espaciais para defender a Terra, quanto pela ingenuidade dos roteiros. Jaspion, Jiraya, Changeman, Flashman, Spielvan, a franquia Kamen Rider, a franquia Power Rangers (produzida nos EUA a partir do original japonês)... séries que, às vezes, eram fracasso no Japão, mas faziam sucesso no ocidente, apesar dos efeitos especiais e da qualidade técnica irregular (era visível, às vezes, os zíperes nas roupas dos atores). E diz se não é divertido contatar que o ponto alto dessas séries é quando os heróis casavam seus veículos para formar um robô gigante para detonar o monstro do dia. Bem, essa foi a principal influência de Nagado, que quis integrar a BLUE FIGHTER os elementos das séries as quais ele era fã.
Foi, então, na Master Comics, em capítulos de oito páginas, que começaram as aventuras de Domon, um instrutor de artes marciais que, após ganhar um torneio secreto de luta, é capturado e transformado, por um empresário inescrupuloso chamado Kronan, dono de uma corporação chamada Atlas, em uma máquina assassina, o Blue Fighter do título. Porém, após ser usado para fins mesquinhos, a mente condicionada do Blue Fighter entra em colapso, e resiste ao controle mental de Kronan. Agora foragido, Domon precisa lutar contra as criaturas de Kronan para não ser capturado novamente – e, de preferência, acabar com o vilão antes que ele utilize suas criaturas para dominar o mundo.
O problema do BLUE FIGHTER original é que a série, contínua e em preto-e-branco, foi interrompida com o cancelamento da Master Comics, ainda em 1995, no terceiro capítulo. Em 1997, Nagado teve a chance de terminar a série, quando, com o sucesso que já faziam as séries Godless e U.F.O. Team da Trama, ele procurou o editor de quadrinhos da editora, Marcelo Cassaro, e apresentou o projeto. Entretanto, Nagado resolveu optar por recontar a história desde o início, ao invés de retomá-la de onde ela havia parado, para não restringir o universo de leitores aos que acompanharam a série na Master Comics. E, desta vez, Nagado seria o roteirista, apenas; a arte ficaria com Arthur Garcia (desenhos), Sílvio Spotti (arte-final), Miriam Tomi (letras) e o pessoal do Núcleo de Artes (cores). Foram Garcia e Spotti quem desenharam também todas as capas deste trabalho que foi dedicado ao mangaká japonês Shotaro Ishinomori, criador das séries Kamen Rider e Cyborg 009.
Foi mais ou menos a partir de BLUE FIGHTER que Garcia, cujos desenhos eram até então influenciados pelos comics norte-americanos, incorpora em seu traço as influências dos mangás. Quer dizer, muito embora ele já tenha experimentado algo semelhante quando desenhou para a revista Street Fighter. E Nagado trabalhou em família em BLUE FIGHTER: além de que Garcia já era seu parceiro de HQs, Nagado trabalharia novamente com o pessoal do Núcleo de Artes e com Ismael dos Santos, seu mestre.
Uma vez, eu fiz aqui, no blog, uma referência a Blue Fighter – e, em comentário, levei uma “mijada” do Sílvio Spotti, por ter esquecido de creditá-lo como artista da série... Pois bem, desta vez não esqueci disso, Sr. Spotti.

TRAMA E COMENTÁRIOS
Bão. Como nas publicações da Trama, da mesma época, vemos no novo Blue Fighter os elementos já vistos em Godless, U.F.O. Team e Capitão Ninja: quadros grandes, sequências de ação dinâmicas, páginas-pôsteres, poucos diálogos, presença de mulheres gostosas. O grande defeito da série é que Nagado pôs elementos demais na trama, e nem todos foram usados. Muitas questões ficaram sem resposta, e o final da história ficou muito prejudicado.
Outro grande defeito em Blue Fighter foi Nagado não ter caracterizado a contento os personagens. Não fica totalmente claro se Domon é mesmo um cara “do bem”, raso feito um pires que é. Só temos certeza que Domon é o cara “do bem”, e Kronan é o cara “do mal”. Nem mesmo as motivações de Kronan ficam claras – ele apenas comanda seus projetos e seus monstros, e ponto. As coisas só vão acontecendo, sem maiores explicações. Muita coisa que poderia ter sido explicada não coube nas três edições da série - e olhe que cada edição tem cerca de 28 páginas. Teria sido culpa dos quadros e dos desenhos grandes, que limitaram o espaço da história? O roteiro ficou muito prejudicado. E, desse modo, a série só se salva pela bela arte de Garcia e Spotti.
Bão. BLUE FIGHTER trata da luta entre Domon e Kronan, claro. A história se passa no futuro, em uma colônia terráquea em outra galáxia. Começa no momento em que o Blue Fighter, cuja aparição se faz aos poucos na história, após perpetrar um assassinato, entra em colapso. E aí, começa a história, quando Kronan e sua assistente Julie estão terminando um novo protótipo.
Enquanto isso, em uma floresta, um monstro, Gruman, persegue uma garota fugitiva, que acaba sendo bombardeada pela criatura. Aí, Domon, que se encontrava por acaso no local em companhia de seu parceiro, o coelhinho Tyaggy, intervém, se transforma no Blue Fighter e, após uma breve luta, detona o monstro com o raio que pode lançar de sua mão. E, quando vai acudir a garota, se surpreende: ela é uma andróide!
O nome da garota andróide é Miri, a linda “filha” de um cientista morto poucas horas antes. E ela possui um sistema de auto-conserto e regeneração de tecidos que praticamente a cura depois de sofrer graves ferimentos. Domon a leva para seu apartamento e, depois que ela acorda, ele conta-lhes sua história, de como se tornou Blue Fighter. Mas, pouco depois, Miri, que portava consigo o projeto de um invento do professor assassinado, cobiçado por Kronan, é raptada por um monstro chamado Skark, que pode se transformar em um globo de luz e esticar os braços para golpear à distância. E a única chance de Domon salvar Miri é invadir a torre da Corporação Atlas, onde Kronan já está o esperando... a batalha final está prestes a começar.
O primeiro número da série inclui ainda uma história curta, escrita e desenhada por Nagado (com arte final de Sílvio Spotti), onde é introduzida outra personagem, uma telepata chamada Karin, também foragida da Corporação Atlas. Essa garota faz uma rápida aparição no segundo número da série, mas não volta no último número.
Como já dito, o que mais prejudicou BLUE FIGHTER e tornou o final da série decepcionante, depois de um bom desenvolvimento, foi o uso de elementos que não foram aproveitados. Para que serviu, aliás, introduzir o personagem Byron, que não serviu pra nada além de admirar Karin nua e em animação suspensa numa redoma de vidro na sede da Corporação Atlas e discutir com Julie e Kronan? E que importância teria a tal invenção do professor assasinado? Pelo menos o fofo coelhinho Tyaggy teve alguma utilidade, tentando conter o ataque de Skark. Será que Nagado não leu o que tinha escrito enquanto escrevia o episódio final da série? E por que então, se era para colocar o Byron e a Karin na trama, a série não se estendeu por mais um número? Infelizmente, o que era pra ser uma história promissora terminou mal, muito mal. Nem o final em aberto ajudou.
Assim, BLUE FIGHTER vale mesmo pela arte de Arthur Garcia e Sílvio Spotti. E pelas referências às séries tokusatsu japonesas. Ao menos, valeu a intenção, Sr. Nagado. Sorry.
Para conferir esta série, agora, só procurando nos sebos físicos e virtuais. Como as outras séries da Trama, ela não ganhou republicação. Também dá pra procurar a edição encadernada da série.
É isso aí.
Para encerrar, duas ilustrações do herói Blue Fighter. A primeira vocês viram acima, e já foi publicada aqui no blog. A outra, abaixo, é inédita. É o herói com sua pretensa musa Miri. Sinto que errei em alguma coisa quando desenhava. Bua!
A próxima revista da Trama a ganhar resenha aqui, já anunciando, será Dragonesa. Em breve!
Até mais!

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