domingo, 29 de janeiro de 2012

A VIDA DE CHICO XAVIER EM QUADRINHOS - Franco de Rosa, o workaholic das HQB

Olá.

Na última postagem, falei sobre o filme Chico Xavier, que lançou, no início deste século XXI, uma luz sobre a figura do mais famoso médium do Brasil. O filme, como muitos já devem saber, foi baseado no livro As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior. Bem, eu não li esse livro, mas tenho outro material para afirmar que o que foi retratado no filme, sobre Chico Xavier, é verdade: uma HQ.

A VIDA DE CHICO XAVIER EM QUADRINHOS, o livro, foi publicado em 2009, pela Ediouro, perto das comemorações do centenário do nascimento de Chico Xavier. Foi escrito por Franco de Rosa e desenhado pelo mestre Rodolfo Zalla – dois dos nomes mais conhecidos das HQ Brasileiras, e dos quais o momento para falar é propício, visto que nesta segunda, dia 30 de janeiro, é o Dia do Quadrinho Nacional.

FRANCO DE ROSA
Já havia feito, anteriormente, uma explanação sobre a vida e carreira de Rodolfo Zalla. È a vez de falar, então, do autor do livro, Franco de Rosa.
Pode-se dizer que Rosa viveu toda sua vida para as HQ, sobretudo as brasileiras. Ele exerceu todas as atividades possíveis ligadas à nona arte: foi jornalista, cartunista, ilustrador, escritor, redator, produtor gráfico e editor de quadrinhos.
Nascido em São Paulo, em 1956, Franco de Rosa alternou sua infância entre São Paulo e Paraná, por conta da atividade do pai, um jogador de futebol. Para se ter uma ideia, a família de Franco de Rosa morou em mais de 20 cidades diferentes entre esses dois estados! Foi em 1967 que ele teve contato com os gibis da histórica editora Edrel, considerada a pioneira dos “mangás brasileiros” (Franco de Rosa, mais tarde, ficaria amigo do principal editora da Edrel, Minami Keizi).
Foi em 1971 que, ao lado de alguns amigos, ele produziu o seu primeiro fanzine, “Frama”, onde ele atuou como um verdadeiro editor e produtor gráfico – apesar do fanzine ainda ser mimeografado. No ano seguinte, Franco de Rosa descobre o Clube do Gibi, a primeira loja especializada em HQ do Brasil, então fundada por Ademário de Mattos. Foi lá que ele conheceu grandes nomes das HQ brasileiras que se tornariam seus amigos, como Maurício de Souza e Álvaro de Moya, e futuros colaboradores, como Sebastião Seabra.
Foi em 1974 que ele começou suas experiências como artista de HQ – após ter passado quase três anos, de 1972 a 1974, procurando emprego nas editoras paulistanas. Para a editora Saber, desenha “O Praça Atrapalhado”, e as primeiras tiras de “Capitão Caatinga”, com arte de Seabra, para o jornal “Notícias Populares”. A tira foi publicada até 1978. Paralelamente, para o mesmo jornal, Rosa conseguiu aprovar outra tira, “Chucrutz”.
No final dos anos 70, ele consegue, após uma tentativa frustrada de fundar uma agência distribuidora, colaborar com revistas da editora EBAL. Na época, além de desenhar “Chucrutz” e “Praça Atrapalhado”, Rosa desenha vinhetas para o programa de Ana Maria Braga. A colaboração com a EBAL vai até 1982, e inclui seis edições da revista “Klik”, três da “Gripho” e 20 edições (como roteirista) de “Zorro, Capa e Espada” (arte de Seabra).
A partir de 1979, Franco de Rosa começa a colaborar com a histórica editora Grafipar, de Curitiba (a ponto de se mudar para lá em 1981), escrevendo histórias eróticas e de terror, gêneros em que essa editora era especializada, mas sempre incentivando a produção nacional.
Em 1983, após a falência da Grafipar, Rosa retorna para São Paulo, e com Paulo Paiva (com quem já havia trabalhado, nos anos 70, nas tiras do personagem “Maloca”, que mais tarde, assumido por Paiva, viraria “Maciota”), cria a editora Press editorial, onde assume de vez a função de editor.
Em 1984, Rosa mantém uma coluna sobre HQ no jornal “Folha da Tarde”, de SP.
Em 1991, após uma passagem pela Best, edita para a editora Nova Sampa.
Em 1997, Rosa funda a editora Mythos, atualmente a principal casa publicadora dos quadrinhos da editora italiana Bonelli (de Tex, Zagor, Dylan Dog, etc.). Mas a Mythos também já havia editado, anteriormente, a revista MAD (depois que a publicação saiu da editora Record) e dez números da série Holy Avenger Reloaded, a nova versão da série de Marcelo Cassaro e Érica Awano.
Em 1998, Rosa muda-se para Vinhedo (SP), após sofrer uma tentativa de seqüestro. Com problemas de saúde, sai da editora Mythos e colabora na Editora Escala. Mas foi no mesmo ano que ele, junto com Carlos Mann, funda a Editora Opera Graphica, uma das mais importantes editoras brasileiras de HQ. A Opera Graphica, ligada à loja Comix Book Shop, publicou diversos álbuns, revistas e livros sobre HQ. Além dos álbuns do Príncipe Valente, as revistas do Fantasma, as primeiras edições das séries Sandman e 100 Balas do selo Vertigo da DC Comics, e muitos personagens clássicos pelos selos Opera King e Opera Mundi, a Editora também lançou muitos álbuns de autores nacionais, como: Volúpia, Sombras, Madame Satã: Cassino e Musashi I e II, de Júlio Shimamoto; Paralelas II e A Última Missão, de Watson Portela (este último, homenageando os heróis criados pelo também mestre Eugênio Colonnese; O Espírito da Guerra e Mirza, de Eugênio Colonnese; Lobisomem, de Gedeone Malagola; Calafrio 20 anos, em homenagem à histórica revista de terror dos anos 80; Nosferatus, de Arthur Garcia; e muitos outros. Sem contar os livros: Anos 50 – 50 Anos, de Álvaro de Moya (sobre a Exposição Internacional de HQ de 1951); Sexo, Glamour e Balas (sobre o agente secreto James Bond) e Quando os Macacos Dominavam a Terra (sobre a Franquia Planeta dos Macacos), ambos do jornalista Eduardo Torelli; As Sedutoras dos Quadrinhos, de Fernando Lucchetti; entre outros. Pela mesma òpera Graphica, Franco de Rosa publicou o livro teórico As Taradinhas dos Quadrinhos e organizou o livro Hentai – A Sedução do Mangá. O porém desses álbuns era a tiragem limitada a 1000 exemplares autografados e distribuídos exclusivamente nas lojas da rede Comix Book Shop (era muito comum ver, nas revistas da editora Escala, no início do século XXI, anúncios da rede Comix). A editora, infelizmente, fechou suas portas em 2009.
Atualmente, Franco de Rosa coordena as atividades do estúdio Franco de Rosa (que produz, para a editora Escala, o gibi Didi e Lili Geração Mangá) e ensaia um retorno aos bons tempos da Editora Escala à frente da editora Kalaco, que lançou os belíssimos álbuns de Flash Gordon, Fantasma – a Saga do Casamento, Histórias de Guerra de Rodolfo Zalla e Recruta Zero.

A VIDA DE CHICO XAVIER EM QUADRINHOS
Como eu disse, a biografia quadrinizada de Chico Xavier foi lançada pela Ediouro em 2009. A capa da edição original vocês puderam ver acima. Essa edição, atualmente, está esgotada. Porém, em 2010, pelo selo Pocket Ouro da mesma editora, saiu uma edição de bolso da obra, aproveitando a onda gerada pelo lançamento do filme. Capa abaixo:
Bem. É, basicamente, a vida do médium Chico Xavier, narrada de forma cronológica e cuidadosamente pesquisada. A narrativa seqüencial começa com uma cena de um homem que passa um tempo desconsolado após a morte da esposa, mas que recupera a força para viver depois de ter recebido uma carta psicografada do médium. A história introdutória, não se sabe se ela é real, mas é um exemplo do poder que as cartas de Chico Xavier exerciam sobre as almas desesperadas.
Bem. A partir daí, Franco de Rosa começa a narrar a vida de Chico Xavier. Quem assistiu o filme vai reconhecer algumas das passagens da HQ: a infância do médium, quando ele era maltratado pela madrinha e as primeiras visões da alma da mãe falecida; de quando Chico vai morar com a madrasta Cidália; sua juventude, quando ele começou a trabalhar, quando ele descobriu o espiritismo a partir da sessão de cura da irmã, e seus primeiros contatos com Emmanuel, seu guia espiritual; a publicação dos primeiros livros, cuja renda era revertida a instituições de caridade; a doença nos olhos que o fez ficar parcialmente cego; a sua fama se espalhando rapidamente, os elogios e os ataques; a reconstituição de um dos crimes cujo acusado foi inocentado por uma carta psicografada do médium (o caso pode ser reconhecido no filme, porém os nomes dos envolvidos foram trocados); a participação do médium nos programas “Pinga-Fogo” da TV Tupi (onde também foi relatada a história do avião, quando Chico gritava de medo e foi repreendido por Emmanuel); e o livro termina com a desencarnação do médium em 30 de junho de 2002, durante as comemorações da vitória da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo. Tudo isso, entremeado com algumas curiosidades que não foram incluídas no filme – como quando o espírito da mãe de Chico recomenda a ele que procure a “Água da Paz” para se acalmar dos ataques recebidos.
Bem. O roteiro da HQ apela para o lado mais emocional – mas em nenhum momento critica o personagem. As falas dos personagens parecem fraquinhas e pouco inspiradas, e os quadros parecem servir mais para ilustrar as legendas na parte superior dos quadros. Não tem por pretensão divulgar o espiritismo, embora haja ensinamentos espíritas embutidos. E, em se tratando de uma personalidade espírita, Rosa evita, por exemplo, o termo “morrer” – ele prefere “desencarnar”.
Já a arte de Rodolfo Zalla continua a mesma que os brasileiros estão acostumados a ver. Um traço realista, em preto-e-branco com aplicações de lapisado cinza. A arte de Rodolfo Zalla é mais funcional no preto-e-branco – e não possui os vícios observados no álbum “Lula – Luís Inácio Brasileiro da Silva”: Zalla não altera os rostos ou idades dos personagens a cada página. Ele soube aqui respeitar as mudanças da aparência dos personagens com o tempo, e não colocou um personagem com aparência mais velha em uma página, e mais jovem na página seguinte. Em se tratando de Chico Xavier, o trabalho foi bastante cuidadoso. E não que se trate da primeira vez que Zalla trabalhou com biografias quadrinizadas – ele já fizera algo similar entre os anos 70 e 90, nos livros didáticos e nas revistas da EBAL.
A HQ ocupa 42 páginas das 96 da edição da Pocket Ouro. O restante é ocupado por textos extras muito interessantes: um com mais detalhes da vida do médium, e algumas frases dele mesmo; um texto explicativo sobre o espiritismo, a psicografia e uma breve biografia do seu fundador, o francês Allan Kardec; algumas amostras de poemas psicografados por Chico Xavier; uma cronologia da vida do médium, que confirma o que foi apresentado na HQ; curiosidades adicionais; e – como a Ediouro também é dona do Grupo Coquetel, a maior editora de palavras-cruzadas do Brasil – um caça-palavras sobre Chico Xavier. É pena que as biografias dos autores também tenham sido muito breves.
Para quem admira Chico Xavier, vale a pena dar uma olhada – embora a leitura seja rápida e descompromissada. Dá para ler o livro em menos de uma hora.

Para encerrar: mais um desenho em clima de espiritismo. Desta vez, um pequeno retrato da perigosa “brincadeira do copo”, onde supostamente espíritos se manifestam para fazer perguntas. Mediunidade amadora – e, por isso, perigosa. É, já ouvi falar de algumas tragédias que aconteceram depois da brincadeira do copo, mas também não posso confirmar se são todas verdadeiras.
É isso aí.
Feliz dia do Quadrinho Brasileiro a todos! (amanhã, dia 30 de janeiro).
Até mais!

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