domingo, 6 de novembro de 2011

O BOM & VELHO FAROESTE - saquem suas armas!

Olá.
Hoje, tentando superar uns problemas de ordem pessoal que me deixaram chateado nos últimos dias, volto a falar de gibi. E gibi da editora Júpiter 2, do insistente José Salles.
Quem conhece o trabalho que ele vem desenvolvendo, sabe que os gibis publicados pela casa variam de qualidade, mesmo sendo todos trabalhos brasileiros. Mas o de hoje é material da mais alta qualidade.
Foi em 2008 que Salles começou a publicar, pela ainda SM Editora (Antigo nome da Júpiter 2) o gibi O BOM & VELHO FAROESTE.
O projeto destina-se ao resgate, ou melhor, trazer a público para as novas gerações, um gênero que fazia a alegria dos leitores de quadrinhos do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos entre os anos 50 e 70: o faroeste.

Nessas décadas do século passado, o faroeste estava em alta por conta da sempre vilã Hollywood. Digo vilã por duas razões: primeira, porque os faroestes, é consenso entre cinéfilos, especialistas e historiadores, não reflete toda a realidade da história da colonização da metade oeste dos Estados Unidos – historiadores questionam, por exemplo, a suposta vida de violência vivida nas pequenas cidades do inóspito “velho oeste” e o tratamento que os colonizadores brancos dispensaram aos indígenas, os verdadeiros donos do território; e, segunda, porque Hollywood exportou esses filmes para o restante do mundo, e eles fizeram a cabeça de gerações de jovens em muitos países, inclusive o Brasil – e, consequentemente, a nossa realidade histórica foi meio deixada de lado, relegada aos bancos escolares.
Talvez não tivéssemos um passado histórico tão digno de ser transposto para o cinema, em verdadeiras sagas repletas de bandidos, mocinhos, tiroteios, abigeatos (roubo de gado), assalto a bancos, etc, etc. Mas, naquele tempo, nada disso importava: os cowboys embalavam os sonhos de muitas crianças. O cowboy é o símbolo fundador dos Estados Unidos – no sentido como eles próprios concebem.
Mas há de se reconhecer que aqui no Brasil e na Europa o gênero, embora reflita a realidade de um país que não os deles, funcionou muito bem. Principalmente na Europa: os italianos são os responsáveis por ótimos filmes de faroeste e por dar uma sobrevida ao gênero nos quadrinhos – alguém pensou em Bonelli Comics?
Sim. Ainda hoje, um dos gibis que mais tem pintado nas bancas é o do Tex, publicação da Bonelli Comics. E, junto com ele, vem Zagor, Mágico Vento... Aqui no Brasil, muitos personagens do faroeste fizeram grande sucesso: Lone Ranger (conhecido aqui como Zorro), Red Ryder, Cavaleiro Negro, Tex, Ken Parker, Zorro (o próprio espadachim mascarado), Jonah Hex...
O gênero faroeste hoje está em baixa no cinema – culpa do revisionismo histórico dos anos 70 e 80, que desmitificaram a história da formação dos EUA. Mas quem lê em quadrinhos hoje ainda se encanta – e pode se encantar – de uma época em que era fácil saber quem era bandido e quem era mocinho. De uma época em que sobrevivia mais quem sacasse mais rápido. Em que os índios tinham mais era que serem eliminados pela cavalaria (essa parte mereceu, com louvor, a revisão histórica – os índios não eram vilões, apenas estavam defendendo seu espaço dos inescrupulosos homens brancos). Em que a mocinha sempre acabava nos braços do mocinho, depois de ser ameaçada pelo bandido. Etc, etc, etc.
Bem. O BOM E VELHO FAROESTE é um projeto encampado por José Salles, que escreve os roteiros de algumas histórias das três edições anteriormente lançadas. Porém, não espere muito do faroeste ingênuo do vovô: Salles investe, em seus roteiro, em tramas carregadas de dramaticidade e violência. Vamos conhecer as edições:

O BOM & VELHO FAROESTE 1Lançado em janeiro de 2008, ainda sob o selo SM editora.
Uma história única: O Passado Jamais se Esquece, escrito por Salles e desenhado por Adauto Silva, um dos melhores capistas da editora. Na trama, um forasteiro chega a uma cidade falida do velho oeste, e, após apartar uma confusão provocada por dois arruaceiros em um saloon, dirige-se ao rancho de uma viúva à procura de trabalho. Após salvar a viúva dos mesmo arruaceiros do saloon, o forasteiro fica ajudando na fazenda, e ele e a viúva acabam se apaixonando. Porém, o forasteiro tem um passado terrível – e esse passado, um dia, vem bater violentamente na sua frente, na forma de um velho companheiro em busca de vingança. A trama é ótima, dramática e tem cenas fortes (como a que mostra um velho índio sendo maltratado pelos arruaceiros). E a quadrinização das páginas é bem dinâmica, estilo comics, e valorizada pelo belo traço de Adauto Silva, bem realista e apreciável. Adauto Silva é um veterano em histórias de faroeste e em outros gêneros de quadrinhos. A combinação caiu como uma luva. Ah: Silva também assina a capa e as ilustrações da 3ª. e 4ª. capas. Esta edição tem 36 páginas, contando capa.

O BOM & VELHO FAROESTE 2
Lançado em janeiro de 2011.
Apesar da demora de sair a nova edição, eis aqui mais uma boa trama, que certamente renderia um ótimo filme de faroeste: Sangue Entre Irmãos, nova parceria entre Salles e Silva. Na trama, a saga de dois irmãos que seguem caminhos opostos por conta das circunstâncias: um deles vira bandido, e o outro vira xerife de uma cidade. Isto é o básico para se dizer da trama, que reúne todos os elementos de um bom faroeste dramático: o conflito entre irmãos, inescrupulosos empresários de ferrovias, assaltos a banco, tiroteios, vingança, prisão e a tradicional disputa sobre quem vai ficar com a mocinha. A trama tem muitas reviravoltas, e só lendo para constatar. Já na parte da arte, Adauto Silva desta vez apostou em uma quadrinização mais convencional, estilo fumetti (quadrinhos italianos), e numa arte um pouco mais relaxada que na primeira história. Porém, a peteca não cai em nenhum momento – e o traço de Silva, em certos momentos, emula o do mestre Rodolfo Zalla, também um especialista em faroeste. Capa e ilustrações internas também de Silva. Esta edição tem mais páginas – 48, contando capa.

O BOM & VELHO FAROESTE 3Lançado em junho de 2011.
Nessa edição, uma história inédita, mas produzida há muito tempo atrás. Desta vez, é feito o resgate de um personagem popular no Brasil: o Flecha Ligeira, um mestiço de índio e mulher branca que, montado em seu cavalo Fúria (todo herói de faroeste não pode prescindir de seu fiel e inteligente cavalo) e paramentado como um índio Comanche, defende os indefesos de criminosos. Bem, o personagem, criado nos EUA em 1950 para um programa de rádio e levado aos quadrinhos no mesmo ano (as 55 edições do personagem eram desenhadas por Fred Meagher) era publicado no Brasil, desde 1954, pela editora RGE (atual editora Globo). E, após o cancelamento do gibi nos EUA, em 1956, as histórias do Flecha Ligeira, entretanto, continuaram circulando no Brasil, e desenhadas por artistas brasileiros. E o gibi do Flecha Ligeira da RGE durou até o número 120! A aventura do gibi da Júpiter 2 é inédita – estava programada para sair no número 123, o que não ocorreu devido ao cancelamento do gibi da RGE – e foi produzida por um dos artistas brasileiros envolvidos no projeto: José Menezes, que também assina a capa e o texto complementar onde ele conta os bastidores do gibi do Flecha Ligeira nos EUA e no Brasil. Um Presente para Packy é a aventura, onde Flecha Ligeira, voltando de uma cidade após comprar um presente para seu assistente, Packy, o capataz do rancho do herói, presencia um assalto ao trem onde viajava – ele tem o tal presente roubado. E agora, paramentado, Flecha Ligeira vai atrás da quadrilha. A aventura é ingênua e o roteiro é cheio de deslizes, mas era assim que os faroestes eram há muito tempo atrás. E a arte de Menezes é até legal, mas a arte final sofre um pouco por causa das pinceladas do nanquim. Vale mais pelo resgate histórico. E é a edição mais curta da coleção: 28 páginas, contando capas.

É realmente uma coleção que não pode faltar aos fãs de quadrinhos – de faroeste e de quadrinhos brasileiros. E não adianta chiar porque a realidade retratada nas histórias não é a do Brasil: os tempos eram outros, e os gostos também. E são boas histórias, sim. Muito embora Salles já tenha falhado numa tentativa anterior de escrever um faroeste – o irregular Capitão Macnamara – com estas edições, o nosso editor alternativo brasileiro favorito se redimiu.
Para quem quiser conferir, adquiram seus exemplares com José Salles, pelo e-mail: smeditora@yahoo.com.br. Os preços são: os número 1 e 3, R$ 3,00, e o número 2, R$ 5,00 (porque tem mais páginas). Conheçam outras revistas a Júpiter 2 do blog: http://jupiter2hq.blogspot.com/.
Para encerrar: uma ilustração especial do herói Flecha Ligeira. Perfeito para a ocasião.
Ah, e aguardem: esta semana, uma surpresa para os leitores do blog! Aguardem!
Até mais!

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