segunda-feira, 30 de maio de 2011

PREDAKONN ou como as aparências enganam

Olá.

Hoje, trago a vocês mais uma HQ de Marcelo Cassaro. Nas postagens anteriores, falei sobre a carreira deste que é um dos melhores roteiristas brasileiros; falei de um de seus personagens mais conhecidos, o Capitão Ninja; e resenhei as duas séries baseadas em seu RPG, Invasão: UFO Team e Capitão Ninja. Agora, do universo Invasão, falo do segundo spin-off de UFO Team: PREDAKONN.



Esta edição única, também lançada pela editora Trama por volta de 1998, foi escrita e desenhada por Marcelo Cassaro - o cara, apesar de mandar bem nos desenhos, prefere que outros talentos nacionais desenhem seus roteiros; PREDAKONN, além de constituir uma exceção, é o trabalho mais longo de desenho de Cassaro, que se arriscou pouco no traço desde que se tornou editor de quadrinhos e RPG da então editora Trama, em 1995 - geralmente, apenas algumas aventuras curtas publicadas na revista Dragão Brasil, entre elas as aventuras iniciais de Holy Avenger, que dariam origem à série.

PREDAKONN, deduz-se, faz parte do universo de Invasão porque é estrelada pelos alienígenas da raça metaliana, os principais antagonistas do Capitão Ninja e seus companheiros da NORAD.


OS METALIANOS: QUEM SÂO ELES?

Talvez a raça metaliana faça parte dos mais interessantes personagens já criados pelos quadrinhos. Não apenas pelo seu conceito, mas porque através deles Cassaro pode enviar aos leitores mensagens filosóficas sobre a valorização da vida na Terra e no Universo.

Tradicionalmente, temos a tendência de ver os extraterrestres como ameaças aos terráqueos. Com os metalianos, não é diferente: toda vez que um deles cruza o caminho do Capitão Ninja, é mais como uma ameaça.

Mas, na verdade, os metalianos fazem questão de demonstrar que são a raça mais nobre do universo - em corpo e alma.

Os metalianos são altos, possuem corpos humanóides, cabeça de inseto - alguns possuem antenas, asas ou pinças bucais bem visíveis - e são feitos totalmente de metal - isso fica evidente na pele cromada e brilhante que eles apresentam, de diversas cores e texturas. Por serem de uma constituição física muito diferente do normal - são puro metal (ferro e alunínio), ao invés da grande maioria dos seres vivos, que é constituída principalmente de carbono - , os metalianos não apenas têm uma força e resistência superiores às de qualquer outro ser vivo do universo, mas também sabem valorizar a vida antes de qualquer coisa.

Como manifestação de vida onde ela é mais improvável, os habitantes do distante planeta Metalian são profundamente religiosos, valorizam a longevidade e o saber, e são insetos sociais - não podem se afastar de seu planeta por longos períodos ou suportar grandes períodos de solidão. Até mesmo as naves com as quais eles viajam pelo universo são vivas - são bionaves. Ah, sim: por ter uma vida muito longa - são imunes a doenças - , os metalianos são tidos como imortais, porém eles possuem outras formas de morrer.

Os metalianos também costumam ter desprezo por quem não sabe valorizar a dádiva máxima, que é a vida - e isso, de certa forma, inclui os terráqueos. Apesar de pacifistas, os metalianos são capazes de eliminar quem desrespeita a vida de seus semelhantes - até mesmo pertencentes de outras raças.

Bem. Um metaliano importante já apareceu em UFO Team - é ele que, após fazer contato com a Dra. Abigail Days, agora conhecida como Gladiadora (devido ao simbionte que a Coronel Greenwood fez alojar em seu corpo, que permite criar uma armadura natural), salva o dia ao lutar contra o perverso traktoriano Poder de Fogo; são (aparentemete) metalianos que torturaram e modificaram o organismo da jovem Nicole Margot, como mostrado em Capitão Ninja; e, em diversas histórias do Capitão Ninja, os metalianos cruzam seu caminho, e o aloprado herói só consegue ferir suas peles metálicas porque faz uso de espadas especiais com lâminas super-resistentes.

Ah, sim: e é também um metaliano, o Capitão Kursor Krion, que narra os fatos acontecidos na minissérie Lua dos Dragões, do mesmo Cassaro.


O PREDAKONN

E é o Capitão Krion que divide o estrelato desta edição com sua jovem aprendiz, a metaliana Slanet. Apesar de ter uma cabeça de inseto, Slanet tem um corpo humanóide - e escultural, ainda por cima!!!

A história de PREDAKONN inicia quando Slanet está, a mando do Capitão Krion, explorando um planeta inóspito, quando é atacada por uma estranha criatura. Apesar de não ter sofrido nada - a criatura só se limitou a... lamber o corpo da metaliana... - , Slanet é repreendida pelo seu mestre, e sofre a ameaça de ser dispensada da tripulação de sua bionave.

Tentando entender por que Kursor Krion parecia tão intransigente e arbitrário, Slanet investiga o diário de bordo que o explorador do cosmos mantém, e descobre um fato revelador: certa vez, ao observar a fauna de Metalian, e levando consigo Primária, a rainha e mãe de toda a vida do planeta, a passeio, Kursor e sua bionave são atacados por um feroz dragão espaciais, com rajadas de fogo destruidoras.

Como os votos dosmetalianos inclui defender a sua rainha de todo e qualquer perigo, frente a essa ameaça, Kursor Krion não vê alternativas senão invocar a criatura conhecida como Predakonn. E, através de um ritual - simplesmente abraçar a rainha Primária - , Kursor Krion se transforma em uma horrenda criatura, misto de metaliano e alien (aqueles parasitas dos filmes, de cabeça alongada e mandíbula ejetável), muito mais letal que qualquer outra criatura do universo. E, após executar o dragão de forma extremamente cruel, o Predakonn, cuja existência não é permitida pelo universo além dos casos de emergência, começa a se deteriorar; porém, Primária, que reconheceu a alma de Krion dentro do Predakonn, consegue trazer o metaliano de volta. A experiência, evidentemente, deixa sequelas profundas em Kursor Krion, que preferiu a solidão nas estrelas a ter de despertar novamente o monstro.

Mas... será que ele precisa manter o seu temor? Será que ele precisa mesmo se isolar? Será que, se ele tocar qualquer metaliano novamente, ele é capaz de virar novamente a ameaçadora criatura? Caberá a Slanet fazer com que a verdade entre na cabeça de Krion.

A história de PREDAKONN é de alto nível; não há quase momentos de humor. É uma história filosófica e com uma mensagem escondida. E a arte de Marcelo Cassaro não fica atrás da dos artistas de sua confiança: PREDAKONN permitiu ao artista promover um vôo mais louco. Ele não é apenas criador de personagens, mas de criaturas - destaque para as criaturas com as quais os metalianos interagem ao longo da aventura. E as sequências de ação são bem-feitinhas, apesar de algumas limitações. A arte de Cassaro é ainda mais valorizada pelas cores de Tatiana Bisson (as cores da capa, também de Cassaro, são de Wagner Fukuhara). As letras são de Miriam Tomi. Não fica a dever, portanto, aos quadrinhos europeus, já que são estes os mais especializados em criar histórias com criaturas não-humanas. E mais: ele sabe criar as texturas complexas de um corpo revestido de metal cromado. Principalmente porque os metalianos são os personagens mais difíceis de desenhar que existem!!! Que o digam os artistas que traduziram no papel as loucas ideias de Marcelo Cassaro, como eles devem ter sofrido para reproduzir os metalianos perfeitamente!!!

A revista ainda inclui uma série de ilustrações lindamente pintadas pelo próprio Cassaro, só com metalianos nas mais diversas poses de ação.

Imperdível! Pena, entretanto,que a edição está esgotada há mais de dez anos, de modo que apenas em sebos e revistarias para encontrar esse verdadeiro clássico das HQ nacionais.

Clássico, sim. E subestimado. Poucas vezes, na história das HQ nacionais, tivemos uma história tão bem feita quanto PREDAKONN! E eu ainda tive sorte de encontrar, hein!!!

Para encerrar, um desenho que eu tentei fazer de um metaliano amarelo. Porém, tentando reproduzir as texturas complexas de Cassaro, acho que falhei miseravelmente. Buá!!! Mas agora é tarde para voltar atrás. E vocês, o que acham?
Do universo Invasão, só restaria resenhar a minissérie Killbite, história solo da vampira adolescente favorita do Capitão Ninja. Porém, além de eu não ter encontrado, essa minissérie só teve uma das duas edições previstas lançadas em bancas! Esse é um caso de descaso com as HQ nacionais - não foram raras as vezes que uma série foi cancelada antes de chegar ao seu final. Buá!!!

Até mais!

2 comentários:

Milton Soares disse...

E aí Rafael! Legal o teu blog! Através do blog do Núcleo sempre dou uma conferida por aqui também. Agora gostaria de te convidar oficialmente a visitar também o meu recém nascido blog:
http://miltoons.blogspot.com/
Sempre que quiser ou puder dá uma clicadinha lá!
Abraço,
Milton.

Bruno disse...

Muito bacana a resenha.
Procurei bastante por um scan desta HQ,mas não encontrei.
Será que tem como você scanear a revista para apreciarmos?