sábado, 12 de março de 2011

AFRO SAMURAI - a vingança é um prato que se come frio!

Olá.
Nesta sexta feira, uma notícia abalou o mundo: um violento terremoto, seguido de um tsunami, arrasou cidades da costa leste do Japão. Quer dizer, já não basta o mundo ainda não ter se recuperado dos terremotos do Chile e do Haiti, e ainda, aqui no Brasil, não termos nos recuperado das enchentes da região serrana do Rio de Janeiro, de São Paulo e do município de São Lourenço, aqui no RS, agora sobrevém mais uma catástrofe natural!
E justo quando eu ia falar de mangá japonês! Coincidência ou não.

Bem, mas deixando de lado, pelo menos um instante, as catástrofes naturais, hoje vou falar de mais um herói negro das HQ que conheci recentemente. Este, desta vez, foi criado no Japão.
Estou falando de AFRO SAMURAI, um dos mais curiosos personagens dos mangás japoneses.
AFRO SAMURAI foi criado por Takashi Okazaki e publicado pela primeira vez em 1999, no Japão, na revista independente Nou Nou Hau, criada pelo próprio Okazaki e mais um grupo de amigos. Este mangá pode ser classificado como um doujinshi, ou fanzine, uma HQ "marginal". E os dez capítulos publicados foram posteriormente reunidos em dois volumes tankoubon (livro).
Este mangá ganhou notoriedade, mesmo, depois que ganhou uma versão em anime, co-produção japonesa e americana, em 2007, pelo estúdio Gonzo. Mas do anime eu falarei depois: agora, vou falar do mangá.
AFRO SAMURAI nasceu do interesse de Okazaki pela cultura hip-hop. Por isso, seu protagonista é negro, fugindo do estereótipo "caucasiano" da grande maioria dos personagens japoneses. Bem, como sugere, AFRO SAMURAI combina a cultura hip-hop com as sagas dos samurais, criando assim um dos mangás mais violentos e politicamente incorretos desde Blade of the Immortal.
AFRO SAMURAI foi lançado no Brasil, sem muito alarde, pela editora Panini Comics.
Trata da jornada de violência do protagonista, Afro, em busca de vingança.
AFRO SAMURAI se passa em um Japão "feudal e pós apocalíptico", ou seja, um mundo que combina o violento Japão do tempo dos samurais com a tecnologia de hoje - embora os personagens ajam e se vistam como no Japão da era Edo, se observa que eles também usam objetos modernos como telefones celulares, binóculos especiais para enxergar no escuro, metralhadoras e até robôs.
Nesse mundo, existe a lenda da existência de dois guerreiros muito poderosos - o "número um", que controla o mundo secretamente, e o "número dois", o único capaz de desafiá-lo. Esses guerreiros são conhecidos através das bandanas numeradas e incrivelmente compridas que eles portam na cabeça - e, toda vez que um guerreiro com uma dessas bandanas mata o titular, ele assume o seu lugar, sendo o "dois" ou o "um". Somente o possuidor da faixa de "número dois" tem o direito de desafiar o "número um" para um combate de vida ou morte.
Bem. Afro, o personagem principal, é filho do antigo "número um", e que teve a infelicidade de, quando criança, presenciar seu pai ser assassinado em combate por um pistoleiro que possuía a faixa número dois, e que vencendo-o, assume o posto de "número um". Desde então, Afro cresce tomado pelo sentimento de vingança. Ele se torna um exímio espadachim, de cabelo armadão (seu nome, Afro, foi dado pelo seu mestre por causa do estilo do cabelo, obviamente) e de pouca conversa. E é ele quem atualmente detém o título de "número dois".
Afro não é exatamente um modelo de conduta. Ele é violento, fala pouco, e não está nem aí para a justiça e para pessoas indefesas: a única coisa que o motiva a lutar é o sentimento de ódio contra o "número um" e a vingança contra seu pai. Logo, ele não se incomoda em retalhar, com sua espada comprida, todos os mercenários e inimigos bizarros que cruzam seu caminho. E se nessa jornada ele vitimar inocentes e destruir todos os lugares por onde passa, paciência. Ah: e ele nem está preocupado em assumir o controle do mundo, ele quer apenas vingar o pai.
Afro é acompanhado de um estranho ninja, também afro-descendente de cabelo armadão, de linguajar irônico e que, aparentemente, só o herói consegue enxergar. Esse ninja, que nem se preocupa em dizer quem é, parece servir apenas para guiar o herói até o esconderijo do "número um" e pegar no seu pé.
Na sua jornada até o esconderijo do "número um" - o Monte Sumeru, no meio do mundo - Afro baterá de frente com inimigos bizarros, um mais depravado que o outro.
No início da história, Afro está sendo caçado pelos chamados Monges do Vazio, um grupo de velhos barbudos moradores das montanhas Tecchisen - são cinco, todos identificados por números, e mais o grandalhão Rokutaro - que comandam mercenários de todas as partes para tentar acabar com Afro. Eles foram contratados para proteger o "número um", mas na verdade almejam apenas a faixa do "numero dois" para desafiar o "número um" e tomar seu lugar no domínio do mundo.
É claro que Afro, que também pode assumir um estado "demoníaco" quando entra em batalha, retalha todos eles - mesmo gravemente ferido. O ápice da série se dá com a grande batalha de Afro e o exército dos Monges do Vazio no templo das montanhas Tecchisen. Ele é um verdadeiro exército de um homem só.
Mas os Monges do Vazio não são os únicos que querem a pele escura de Afro. Dentre os outros personagens da série, também estão: o bem-humorado ronin Shichigoro, que Afro acaba matando em batalha bem na frente do filhinho daquele, Kotaro; o nojento e depravado Gorokube, um mercenário de armadura que se utiliza de uma grande metralhadora - e, que junto com Afro, promove uma verdadeira chacina em um festival em uma vila; o observador Kougansai Takimoto, um samurai baixinho e de muita paciência que parece só observar o inevitável avanço do herói até o Monte Sumeru (contratado para proteger o "número um", Takimoto também não pode morrer); Daruman-sensei, um monstruoso cientista que habita uma espécie de armadura que o faz parecer um boneco daruma, e que até constrói um andróide poderoso, à imagem e semelhança do pai do herói, o Afrodróide; e temos o mais perigoso adversário de Afro, o misterioso Kuma, um samurai que usa na cabeça uma grande cabeça de urso de pelúcia, e que, no decorrer da série, revela ser uma pessoa ligada ao passado do herói - e também movido por vingança. Ah, e também a delicada O-Sachi, uma mocinha religiosa, curandeira de uma comunidade religiosa - mas que, sob seu quimono, esconde uma assassina cruel.
Falando no passado de Afro, também vislumbramos, ao longo da saga, os flashbacks do passado do herói, onde são mostrados: como ele foi treinado e recebeu seu nome; a amizade de seus colegas de treinamento, o corajoso Jinnosuke, o intelectual Kazuma e o histriônico Big Boy; sua paixão por Otsuru, umaprotegida do mestre; e de quando ele precisou matar o próprio mestre para obter a faixa do "número dois" que estava em poder deste. E de como ele deixou todo e qualquer sentimento humano - ele acabou presenciando a morte de seus amigos - em nome de sua vingança. O título de "número dois", na verdade, é uma maldição.
Bem. Nem é preciso dizer que AFRO SAMURAI é um festival de sangue, lutas, membros decepados e mortes. O mais impressionante: a arte de Okazaki é em preto em branco, mas os jorros de sangue são em vermelho.
Na verdade, AFRO SAMURAI não é exatamente um primor de mangá: o roteiro deixa muitas pontas soltas, e o herói não possui nenhum sentimento, tornando Afro, um cara raso feito um pires, um dos personagens menos carismáticos dos mangás. Na realidade, nem um pouquinho carismático. Afinal, só alguém com pouquíssima ou nenhuma alma pode jogar para o ar os melhores valores de um ser humano - a amizade, o companheirismo, o amor e a gratidão - em nome da vingança. Sem falar que a história é extremamente violenta e politicamente incorreta, e não acrescenta nada à nossa experiência pessoal. E muita gente pode ter dificuldade para entender o último capítulo do mangá.
A arte também é outro ponto polêmico: Okazaki tem um traço detalhado e bonito, que realmente passa toda a ação exigida pelo enredo da série. Mas seria melhor que não fosse tão suja: os desenhos são tão cobertos de cinzas e preto que mal dá para distinguir os detalhes dos personagens - apesar de transmitir o tom sombrio e hostil exigido pelo roteiro. É preciso apurar o olhar para descobrir o que está acontecendo em uma determinada cena.
Talvez o grande mérito deste mangá seja o próprio conceito: um herói negro, mesmo que anti-herói, é algo que a gente não vê todos os dias no mundo dos mangás. Ainda mais portando uma espada de samurai.
Bem, mas eis aí AFRO SAMURAI. A edição brasileira possui uma boa tradução e diagramação - mas a impressão deixou um pouco a desejar, e muitos fãs já reclamaram da fragilidade dos dois volumes. A tradução também foi feita por tradutores diferentes: o volume 1 foi traduzido por Karen Kazumi Hayashida; e o 2, por Eduardo Tanaka. Para quem quiser conferir, os dois volumes ainda podem ser encontrados com alguma facilidade nos sebos e lojas virtuais. Cada um ao preço de R$ 9,90.
Na próxima postagem: AFRO SAMURAI, o anime.
Sabe-se lá se, com a tragédia no Japão, falar de AFRO SAMURAI foi uma boa escolha.
Para encerrar, um desenho meu do herói Afro. O que tem de melhor nele, mesmo, é o cabelo, que parece uma labareda, e a faixa exageradamente comprida (como é que a espada não enrosca nela durante as batalhas?).
Até mais!

Um comentário:

Guilherme Hollweg disse...

Afro Samurai realmente é um anime muito legal. Em relação ao mangá, ainda não tive tempo de dar uma olhada nele e decidir se agrego a série a minha coleção ou não.

Mas pelo visto, é um ótimo mangá, vou dar uma lidinha nele no pc antes de comprar.

Valeu a postagem Grasel.


Guiga Hollweg