domingo, 11 de abril de 2010

Livro: A INSÔNIA DO VAMPIRO

Olá.
Na última postagem, eu havia escrito sobre o livro O Vampiro que Descobriu o Brasil, de Ivan Jaf. Trata-se de um livro que combinava a História do Brasil com histórias de vampiros, numa combinação surpreendente.
Pois hoje, vou resenhar mais um dos livros de vampiro deste autor. O livro de hoje se chama A INSÔNIA DO VAMPIRO.

A reedição deste livro, junto com a d'O Vampiro que Descobriu o Brasil, inaugurou uma nova série da editora Ática, chamada Memórias de Sangue, que inclui ainda os livros Um Vampiro Apaixonado Na Corte de D. João e As Revoltas do Vampiro, todos escritos por Jaf. São livros onde vampiros presenciam os principais fatos da história do Brasil. Mas esta edição que vocês estão vendo foi publicada em 2009, pela editora Abril Educação. As ilustrações são de Marcelo Campos, quadrinhista brasileiro que faz parte da primeira leva de brasileiros que desenhou para editoras do exterior, no início dos anos 90 - por isso, a influência dos comics é evidente nas ilustrações. Ainda mais que Jaf também é roteirista de HQ - já publicou trabalhos na Itália, e adaptou para os quadrinhos obras da literatura - O Guarani e O Cortiço, ambos lançados pela mesma editora Ática em 2009.
Bem. A INSÔNIA DO VAMPIRO - Sangue, terror e lágrimas na Lisboa do século XVIII parte de um ponto de partida diferente. Mas é uma história de terror muito eficiente.
O começo soa irônico e divertido: um vampiro de mais de 500 anos que reside aqui no Brasil está sofrendo de insônia - como vampiro, é um ser noturno, que fica acordado durante à noite; mas, durante o dia, fica rolando em seu caixão, sem conseguir dormir. A insônia, preocupante para nós mortais, é ainda mais para um vampiro, já que ele, imortal, tem todo o tempo do mundo para praticamente tudo.
Desesperado, o vampiro - cujo nome não é identificado - vai procurar uma psicanalista, que também é vampira - afinal, ele não pode se tratar com um psicanalista humasna, sob o risco de matá-lo de susto. E, deitado em um divã-caixão, o nosso narrador vai contando sua história. Quer dizer, a pedido da psicanalista, ele conta a sua história misturada à de outros personagens. Tudo para procurar os motivos da sua insônia.
A história do vampiro recua a Portugal, mais precisamente Lisboa, no século XVIII, uma época onde a Igreja Católica era a força dominante e, consequentemente, Portugal era o país mais religioso, conservador e carola de toda a Europa - na época, circulavam com força as idéias do iluminismo, o movimento intelectual que pregava o uso da razão. Não por acaso, o nosso vampiro segue o ideário iluminista, enquanto que os portugueses ainda eram apegados a rituais católicos não raro insanos.
Pois foi nesse ambiente que o nosso vampiro conhece seu amigo, o também vampiro Raimundo Pascoal, que possui uma mentalidade bastante diferente. Religioso - teria sido ele, segundo Jaf, que começou o mito do sebastianismo (crença no retorno do rei D. Sebastião de Portugal, que desapareceu durante a guerra contra os mouros na Península Ibérica, voltaria para restabelecer a glória do país) - , ainda ligado às pessoas que amou durante a vida - como à noiva com a qual não chegou a casar por ter sido mordido por um vampiro espanhol - e tendo em mente a idéia de constituir uma família, Raimundo acaba cometendo uma loucura, que gera sérias consequências: ao presenciar o nascimento de uma criança, filho de um casal humilde mas muito religioso, Raimundo decide morder a criança e transformá-la em vampiro. O que irrita demais o seu amigo iluminista, já que Raimundo acaba transgredindo as regras da tradição vampírica.
No entanto, os efeitos não são exatamente os esperados. A criança se comportou normalmente, porém o fato de ter chorado sangue e de ter bebido o próprio sangue após sofrer uma sangria despertam suspeitas - e a família começa a acreditar que o menino é filho do demônio. Ah: o tal menino possui um irmão gêmeo, normal por não ter sido mordido, e desde a loucura de Raimundo, está sendo vigiado pelos dois vampiros.
No entanto, esse crime desperta a celeuma nos outros vampiros. Principalmente na intransigente Rosa Loba, líder da congregação de vampiros de Lisboa, e seu assistente, o musculoso Morcegão. Assim, o menino começa a correr perigo: de ser morto ou pelos vampiros de Rosa Loba, ou pela Inquisição católica - já que o barbeiro que fez a sangria do bebê acabou espalhando a notícia para todo mundo.
No entanto, um fato muda o rumo da história: o grande terremoto de 1755, que assolou Lisboa. A cidade acabou sendo completamente destruída. E esse fato permitiu que a Igreja Católica começasse a ser questionada em Portugal, assim como permitiu a ascensão do Marquês de Pombal, o primeiro-ministro do rei D. José I e o déspota esclarecido (líder político que seguia os preceitos do Iluminismo em detrimento à cartilha absolutista) que comandou uma das maiores reformas administrativas em Portugal, no sentido de superar o obscurantismo da religiosidade. Reformas essas que acabaram se refletindo no Brasil, então colônia do império português.
Na tragédia do grande terremoto, o nosso vampiro perde o amigo Raimundo Pascoal, que acabou incinerado pelo sol quando a caverna onde estava sendo mantido refém desmoronou; mas as duas crianças sobrevivem em meio aos escombros - os pais morreram. Nas mãos da Igreja Católica, as crianças - uma humana, outra vampira - recebem tratamentos diferentes, já que a criança vampira foi encontrada bebendo sangue. Mas, como a criança vampira vai desenvolvendo um comportamento normal, as duas não podem mais servir como símbolos, um do bem e outro do mal. Aí, nosso vampiro rapta o bebê vampiro, mas quase não escapa de Rosa Loba e Morcegão, que sobreviveram ao terremoto e quase executam os dois. Quem evita o pior é Clemente, o vampiro que mordeu o nosso vampiro, portanto seu "pai". E é ele quem providencia o destino das duas crianças, que acabam sendo criadas em separado.
O nosso vampiro acompanha o crescimento do garoto vampiro, Vicente, que se desenvolve normalmente, como uma criança mortal, durante a reconstrução de Lisboa. Nada aponta que Vicente seja vampiro...
...até que o agora rapaz descobre sobre seu irmão. E, ao sair para procurá-lo, as consequências são inesperadas.
Nessa procura pelos motivos de sua insônia, o nosso vampiro vai desfiando a vida e os costumes de Portugal no século XVIII, numa verdadeira história de horror. As descrições feitas por Jaf dos costumes fanáticos do povo e das execuções promovidas pela Inquisição Católica - bem como a execução em praça pública, por motivos pessoais e políticos, da família Távora, acusada de ordenar um atentado contra a vida do Rei D. José I, que era amante da esposa de um dos filhos do marquês de Távora - são bem escabrosas. Tudo para mostrar que, em matéria de horror, há algo bem pior que vampiros e lobisomens: a insanidade e o fanatismo da humanidade, capazes de promover coisas muito mais assustadoras que qualquer monstro.
E a história continua, em As Revoltas do Vampiro. Que pretendo resenhar aqui, qualquer dia desses - quando encontrar o livro.

O DESENHO DE HOJE
O desenho de hoje é uma piada que eu contei para minhas turmas na escola. É baseada em uma das esquetes do saudoso programa humorístico Escolinha do Professor Raimundo, e o personagem da piada eu lembro bem, é o saudoso Baltazar da Rocha!
Será que um dia o Chico Anysio volta a encarnar seu melhor personagem, o Professor Raimundo Nonato? Porque recentemente ele voltou a encarnar um personagem clássico, o (coincidência?) vampiro brasileiro Bento Carneiro, no programa Zorra Total.
Até mais!

Um comentário:

Thalita Oliveira disse...

Oi Rafael !

Adorei a sua resenha !

Nossa ela me ajudou muito cara -q , é que eu pensei em escrever sobre esse livro, só que fiquei com medo de soltar spoilers demais, então resolvi dar uma pesquisada e acabei encontrando a sua resenha (: ai tive uma ideia mais ou menos sobre o que deveria ou não escrever XD.

Então muito obrigada ^^

Bjim,

Thalita Oliveira

Cantinho de uma garota

P.S ~ adorei a tirinha no final *000000* hahaha'