domingo, 14 de março de 2010

Superóis - o divertido, o bizarro, o que estava faltando

Olá.
Hoje, o mundo dos super-heróis não lembra quase nada de seus primórdios, quando as histórias do gênero começaram a ser publicadas. Até os anos 80, os super-heróis protagonizavam aventuras realmente divertidas, sempre salvavam o dia no final - seja na mesma edição, ou na próxima edição - e um ser com superpoderes, conseguidos através de forças extraterrestres, insetos radioativos os entidades místicas, acalentava o sonho de todos os garotos. Todo garoto que aspirasse ser desenhista de HQ já deve ter desenvolvido seu próprio super-herói - seja ele com poderes extraordinários, capaz de fazer qualquer coisa, seja sem superpoderes, equiparando-se aos homens comuns, mas ainda assim capaz de grandes feitos para salvar a Terra. AS HQ de super-heróis tinham a pretensão mais de divertir o público do que de fazer pensar.
Nos anos 80, a coisa mudou. O mito dos super-homens de roupa colante, cueca por cima da calça e capazes de qualquer coisa começou a ser fortemente questionado. A culpa é de quem? Podemos apontar aquele barbudo inglês que escreveu sobre uma equipe de super-heróis humanos, demasiados humanos - estou falando de Alan Moore e seu Watchmen. Mas os motivos são bem mais complicados. O que se pode dizer é que não foram as HQ de super-heróis que começaram a questionar esse mito: foi o leitor. Com o passar dos anos, os leitores começaram a ficar mais exigentes. Queriam histórias de boa qualidade.
Com as mudanças ocorridas na forma de pensar do mundo, que assumiu posturas mais violentas e paranóicas, os super-heróis acompanharam a tendência. Histórias de super-heróis não podem ser mais ingênuas: precisam ser mais verossímeis, bem-escritas, com bons desenhos. O público, depois de Batman - O Cavaleiro das Trevas e Watchmen, ficou muito exigente e agora é difícil contentá-lo. Consequentemente, as histórias se tornaram muito mais complicadas, os desenhos mais elaborados e os bravos galantes nem sempre vencem mais. Se eles conseguem derrotar um problema, vem outro atrás bem pior. O mundo não está fácil nem para os super-heróis.
HQs podem ser feitas também para pensar? Claro que podem. Podem transmitir mensagens poderosas? Claro que podem. Mas, antes de tudo, precisam ser divertidas o bastante para que o leitor não pense que perdeu seu tempo folheando cerca de 80 páginas de uma aventura de Batman ou de Homem-Aranha (por exemplo). E é isso que as atuais HQs de super-heróis dificilmente estão sendo: divertidas. Estão, na verdade, muito sisudas e violentas. Talvez não por intenção.
É o que eu tenho constatado ao ver os atuais gibis de heróis nas bancas. As sagas são muito quilométricas e complicadas, estendendo-se por muitas e muitas revistas publicadas ao mesmo tempo, e os heróis clássicos vivem aventuras extremamente dramáticas e violentas. Por isso, nem me interesso em acompanhar essas sagas. Nem compro mais revistas de heróis. Nem me interessa qual vai ser o próximo perrengue pelo qual o Superman, ou o Capitão América, ou os X-Men, ou o Batman, ou quem quer que seja, vai passar.
Os tempos românticos nunca mais voltarão. Aquele mundo simples, despreocupado, que podíamos entender e assimilar numa boa. Mas também, essa geração que hoje exige que histórias de super-heróis tenham a densidade dos roteiros do Alan Moore ou do Neil Gaiman. A sofisticação acabou redundando em monotonia. Pior: que consideram que as melhores histórias são aquelas em que o herói não se dá bem no fim! Perdeu toda a graça. As revistas de super-heróis hoje não passam de... revistas. Pelo menos para mim, nenhuma saga que realmente me interesse, que realmente me faça gostar de HQ como outrora. Felizmente, ainda é possível encontrar as histórias clássicas, aquelas que realmente valham a pena.
Olha, a opinião é a minha, não é a de vocês. No meu ponto de vista, o mercado de super-heróis acabou. Se salva mesmo pelas adaptações cinematográficas.

NO CINEMA
Pois é. Até no universo infantil, onde a ingenuidade do gênero estaria resguardada, acontece de os heróis serem questionados quanto à sua superutilidade para a sociedade. Vejam por exemplo Os Incríveis da Disney Pixar. Nesse filme, os super-heróis são questionados quando, ao salvarem o mundo, acabam causando estragos, assim eles são obrigados a se aposentarem. Faz eco a Watchmen, recentemente adaptado para o cinema.
É. Mesmo as adaptações cinematográficas, quando retratam os heróis como eles foram concebidos, não agradam a todos. Nem os fãs antigos. Os novos fãs até pode ser.
Ah, mas felizmente podemos encontrar bons exemplos de histórias de super-heróis onde aquela ingenuidade, aquela fantasia delirante que agradava de verdade, aquele gostinho de infância feliz, pode ser resgatada.
Um bom exemplo é um dos melhores filmes de herói que eu já assisti na vida: SKY HIGH.

SKY HIGH - SUPER ESCOLA DE HERÓIS
Este filme, disponível em DVD e que já passou na TV, é um dos mais divertidos que eu já assisti! Numa era de adaptações insossas de heróis clássicos, é sempre bom ver que há gente disposta a recuperar aquela era de ingenuidade, de diversão descompromissada.
Para quem não conhece, SKY HIGH foi produzido nos EUA em 2005 pelos estúdios Disney (claro!) e pela produtora Gunn Filmes, com direção de Mike Mitchell - roteiro de Paul Hernandez, Robert Schooley e Mark McCorkle.
É um filme divertido - lembra uma versão com super-heróis de High School Musical - , mas que também faz pensar. A tônica do filme é levar para o mundo dos super-heróis o "sistema de castas" das escolas, muito comum nos EUA, onde alunos são classificados como "populares" ou "perdedores". Esse sistema também existe em alguns colégios do Brasil: alunos podem ser excluídos pelo sistema, mesmo possuindo talento: geralmente os populares são os mais fortes, os mais bonitos, os que tem maior aptidão com esporte, os que seguem as tendências da moda. Ser bom em xadrez, matemática ou ciências geralmente não é garantia de popularidade: você pode ser tachado de "nerd", e portanto excluído. Isso é bem retratado em filmes, desenhos e etc.
No caso de SKY HIGH, o discurso está na forma de um sistema que classifica os seres com superpoderes como "heróis", portanto os populares, e os "ajudantes", que só servem como braço-direito dos heróis, portanto dificilmente serão lembrados pelos fãs.
O filme se passa em um mundo onde super-heróis são populares e sempre salvam o dia. E existe uma instituição, a Sky High do título, especializada em treinar os jovens com superpoderes para se tornarem heróis. Sky High fica numa plataforma orbital, pairando sob a estratosfera terrestre, portanto longe dos olhos dos humanos comuns.
É para lá que vai estudar o personagem principal do filme, o deslumbrado e ingênuo Will Stronghold (Michael Angarano). Ele é o filho de dois super-heróis, Comandante (Kurt Russel), dono de superforça, e Jetstream (Kelly Preston), capaz de voar. Ambos ganham a vida, civilmente, como corretores de imóveis, e por serem heróis, capazes de fazer qualquer coisa - até mesmo ir à Itália buscar uma pizza para jantar na mesma noite - possuem um ego que só pode se carregado num caminhão - ainda bem que são super-heróis. Will, por ser filho dos super-heróis mais famosos do mundo, logo vê que todos tem grande expectativa para com ele. Só tem um problema: até a entrada no colégio, Will não desenvolveu poder nenhum!
Junto com ele, matricula-se em Sky High Layla Williams (Danielle Panabaker), uma garota que possui o poder de controlar as plantas - mas, meio hippie e pacifista, acredita que os poderes só podem ser usados quando necessário. Will e Layla são amigos de infância, e a garota possui uma paixão secreta pelo garotão. O acesso a Sky High é feito através de ônibus voadores, sendo um dos pilotos especializados para isso o falastrão Ron Wilson (Kevin Hefferman), que possui orgulho pelo que faz, e que, assim como Will, nunca desenvolveu poder nenhum.
Por Sky High circulam jovens com os mais variáveis tipos de poderes: desde poderes bizarros, como cuspe ácido e se transformar em uma bola, até os mais comunzinhos, como superforça ou raios congelantes. Três bons exemplos de poderes "comuns" são: Lash (Jake Sandvig), que pode esticar o corpo, Speed (Will Harris), que possui supervelocidade, ambos os valentões da instituição; e a arrogante Penny (as gêmeas Malika e Kadijah Haqq), que pode criar cópias de si mesma. Esses três, apesar de serem classificados como heróis, são na verdade protótipos de vilões.
Após a recepção pela diretora Powers (Lynda Carter), que possui o poder de se tranformar em um globo de energia, os calouros começam a ser classificados como "heróis" ou "ajudantes", e cada um tem uma classe específica. Quem comanda a classificação é o irônico e intransigente treinador Boomer (Bruce Campbell), que possui supervoz. Ele vai testando um por um, até chegar em Will. E, como Will não possui poderes, foi logo classificado como ajudante.
Na classe dos ajudante, estudam com Will e Layla (que foi classificada como ajudante por ter questionado o prof. Boomer): Zach (Nicholas Braun), um trapalhão cujo poder é brilhar no escuro; Ethan (Dee Jay Daniels), que possui o poder de derreter, é é constantemente abusado por Lash e Speed; e Magenta (Kelly Vitz), que se transforma em porquinho-da-índia. O professor da classe dos ajudantes é o tímido Sr. Garoto (Dave Foley), o ex-ajudante do Comandante - mas que nunca é lembrado pelo próprio. Um outro professor que atua na escola, na classe dos heróis, é o Sr. Medula (Kevin McDonald), cientista maluco dono de um supercérebro.
Dentre as aulas ministradas em Sky High, há as exclusivas dos ajudantes, como uso de superferramentas, aulas de troca de uniforme, e aulas exclusivas dos heróis, como missões de salvamento - essa aula é uma verdadeira prática esportiva: num dos momentos do filme, Will e um colega têm de lutar juntos contra Lash e Speed para salvar um boneco (representando um cidadão) de ser triturado na máquina antes do tempo acabar! Ah: a sala de detenção é uma sala especial, de paredes totalmente brancas, que bloqueia os superpoderes das pessoas punidas - logo, fugas são impensáveis.
No início, Will não conta aos pais que foi colocado na classe dos ajudantes - além do pai ter tido uma alta expectativa em relação ao filho, mostra a ele a sala secreta da casa, onde o Comandante e Jetstream guardam os troféus de batalha deles. O mais importante desses troféus é uma estranha arma que pertenceu a um vilão conhecido como Dor Mortal - que desapareceu misteriosamentena batalha onde o Comandante também conheceu Jetstream. Mas, ao saber sobre a classificação do filho, Comandante fica frustrado - no entanto, Will defende os amigos.
Mais tarde, no entanto, Will desperta seus poderes. Ah, sim, uma coisa que eu esqueci de contar: tão logo ele entra em Sky High, Will ganha um arqui-inimigo, Warren Peace (Steven Strait), filho de uma heroína e de um vilão - o pai foi preso pelo Comandante, daí o ódio de Warren, que atira fogo pelas mãos, por Will. E foi justamente num dos rompantes de fúria de Warren que Will desperta superforça. É o bastante para que Will, além de ser reclassificado, veja o sucesso lhe subir à cabeça - embora não queira, acaba desprezando seus amigos ajudantes, como fazem os "heróis". E a reclassificação ainda permite que o garotão se aproxime de Gwen Grayson (Mary Elizabeth Winstead), a garota mais popular do colégio, que é tecnopata - pode controlar a tecnologia com a mente - e têm a capacidade de cativar todos à sua volta - ou quase todos. Por causa de Gwen, Will até esquece de Layla, que sofre em silêncio.
Enquanto isso, um misterioso supervilão e seu ajudante, o risonho e irritante Stitches (Jim Rash), querem vingança contra o Comandante. E o plano vai, infelizmente, envolver Will.
No decorrer do filme, vemos que Warren não é o grande vilão - apesar da raiva, ele possui um coração sensível, e até mesmo ajuda Layla com seu problema amoroso. Por outro lado, Gwen é portadora de um terrível segredo. E, no baile a ser promovido na escola, as águas vão ficar ainda mais turbulentas, quando descobrirmos que o grande vilão do filme se esconde o tempo todo dentro da escola... e dependerá de Will e da classe dos ajudantes salvar a escola, e de quebra, o mundo.
SKY HIGH possui bastante ação, emoção, efeitos especiais convincentes e humor sob medida. O roteiro, apesar de ser meio ingênuo - afinal, é dirigido ao público infanto-juvenil - , é bem amarrado e os personagens são todos bem aproveitados. E ainda mostra que os super-heróis nem sempre são os que possuem os maiores superpoderes. Um filme descontraído, uma diversão sadia. Algo que realmente faltava no mundo dos super-heróis. Um de meus filmes favoritos!
Até já tive de discutir com um rapaz, lá no Yahoo! Respostas, que xingou o filme. Alguns acusam o filme de deturpar o mundo dos super-heróis. Nada disso! Os super-heróis já foram mais ou menos como retratado no filme. Queiram ou não, essa é a verdade.
E digo mais: SKY HIGH merece uma continuação no cinema. Ou mesmo uma série de TV! Que tal?

SUPERPERRENGUES
Por falar em humor, hoje vou recomendar um site muito divertido: o SuperDickery.com.
Você, que além de criticar o gênero super-herói ainda ri da cara deles, ou que simplesmente procura no gênero o lado mais divertido, este site é para você.
É um site americano, que traz um acervo de capas e imagens bizarras de gibis. Quer dizer, o site lista muitas mancadas cometidas pelas editoras americanas de HQ entre os anos 30 e 80 - os maiores alvos são a DC Comics e a Archie Comics.
São muitos trechos que envolvem máquinas bizarras, humor politicamente incorreto e de duplo sentido, posições "comprometedoras", misoginia, chauvinismo, conotações sexuais, macacos... Se o dr. Fredric Wertham lançou em seu livro A Sedução do Inocente a tese de que o Batman era gay, ele tem aqui bastante material para fundamentar a tese. Muitos trechos envolvem principalmente Batman e Superman. E, diga-se de passagem, se as capas são daquele jeito, imagine como são as histórias...
As ilustrações são separadas por galerias, e todas comentadas - se você não entende bem o inglês, pode achar dificuldade para entender as piadas. Mesmo assim, é legal ver que as editoras, hoje sérias, já foram bem mais divertidas.
Eis aqui um exemplo: Jimmy Olsen, amigo do Superman, se disfarçando de mulher. E que belas pernas, hein? Aliás, a maioria das capas envolvem Jimmy Olsen e Lois Lane - ambos já tiveram suas próprias revistas, respectivamente: Superman's Pal Jimmy Olsen e Superman's Girlfriend Lois Lane.
Acessem http://superdickery.com/ e divirtam-se rindo da cara dos heróis. Ninguém é perfeito, mesmo.
MEU HERÓI!!
E, para encerrar essa superpostagem (supermesmo: é esta a mais longa que já escrevi!), resgato de meus arquivos um super-herói de minha autoria. Ou melhor, nem super-herói ele é: trata-se do HOMEM-LAGARTIXA!
O desenho é tosco, afinal produzi este quadrinho no início de minha carreira. São só oito tiras. É humorístico, e com a situação bizarra de que a repórter que entrevista o personagem também vai subindo, sem saber, as paredes! Profissão de repórter é mesmo cheia de riscos. Entendem por que HQs de super-heróis, antes de tudo, precisam ser divertidas?
Aguardem: em breve, nova aventura dos Super-anões na revista Quadrante X! Mais informações chegarão antes de maio, provável mês de lançamento!
Até mais!

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