terça-feira, 28 de outubro de 2008

História das Histórias em Quadrinhos - 8a. Parte

Olá.
A História das HQ chega aos anos 90, uma das décadas mais movimentadas de todas. Confiram:



DÉCADA DE 90Apesar da crise econômica, os mercados norte-americano e japonês consolidam-se (a partir do final da década de 90 é que os mangás se tornam populares no ocidente, ainda mais quando estes são lançados no modo de leitura japonês, invertido, que foi prontamente aprovado pelos fãs ocidentais – anteriormente, as edições ocidentais dos mangás japoneses eram “flipadas”, adaptadas ao modo ocidental de leitura). As HQ infantis, populares nas décadas anteriores, declinam: a tendência, agora, são as HQ para o público adulto. Nas HQ de super-heróis, ocorrem inovações nos tradicionais universos: a “era do chamariz” abre novas tendências. A hipervalorização da arte, com influência dos mangás, e o “quadrinho autoral” (os direitos sobre os personagens sob total controle de seus criadores, o que antes não acontecia, visto que eram as editoras que detinham esses direitos) caracterizam a chamada Era Image, que inicia-se em 1992. No entanto, essas novas características contribuíram para a criação de uma “bolha especulativa” no mercado de HQ, pois muitos fãs chegavam a comprar muitos exemplares de uma mesma revista, para revender depois mais caro. A “bolha especulativa”, que inclusive foi incentivada pelas editoras, minou o mercado de HQ, que só recupera o fôlego no início do século XXI. Destaques da década:
· 1990 – Nos EUA, Frank Miller lança duas séries, escritas por ele, pela editora Dark Horse: Liberdade, um sonho americano (a primeira aventura da personagem Martha Washington, desenhada por Dave Gibbons) e Hard Boiled – À Queima Roupa (com Geoff Darrow); Hate (Ódio!), de Peter Bagge; Baby Blues (Zoé e Zezé), de Rick Kirkman e Jerry Scott; Madman Comics, de Mike Allred; Estréia a premiada adaptação cinematográfica de Dick Tracy, por Warren Beatty. O cinema volta seus olhos, cada vez mais, às HQ, mas a explosão das adaptações ocorre, mesmo, no século XXI; No Japão, aparecem: Crayon Shin-Chan, de Yoshito Usui, Yu Yu Hakusho, de Yoshihiro Togashi (o autor também é conhecido por ter se casado com Naoko Takeuchi, a criadora de Sailor Moon), Gunnm – Battle Angel Alita, de Yukito Kishiro, Sanctuary, de Sho Fimimura e Ryoichi Ikegami, Crows, de Hiroshi Takahashi (o mais famoso mangá sobre delinquência juvenil) Slam Dunk, de Takehiko Inoue (mangá que incentivou a prática do basquete no Japão), e Den-ei Shojo (Video Girl Ai), de Masakasu Katsura;· 1991 – Nos EUA, Livros da Magia, escrito por Neil Gaiman (considerada por muitos a obra que inspirou a criação do personagem literário Harry Potter, de J. K. Rowling); Rob Liefeld, hoje considerado por muitos fãs o pior desenhista do mundo, desenha X-Force no. 1 para a Marvel, revista que foi muito vendida, num jogo de marketing similar ao do Homem-Aranha de Todd McFarlane; Frank Miller inicia Sin City, sua obra-prima e criação mais ambiciosa, pela editora Dark Horse; Pela mesma editora, sai The Mask (O Máskara), de Mike Richardson (o personagem ganha adaptação cinematográfica em 1994, por Chuck Russell); Na Inglaterra, Do Inferno, de Alan Moore e Eddie Campbell, na revista Taboo (em 2001, a obra ganha adaptação cinematográfica, por Albert e Allen Hughes);· 1992 – Nos EUA, inicia-se, pela DC, a saga A Queda do Morcego, na qual o Batman é aleijado (mas volta a andar posteriormente); é fundada a editora Image Comics, a partir de um desentendimento (envolvendo direitos autorais de personagens) entre a Marvel e alguns de seus desenhistas mais consagrados: Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liefeld, Marc Silvestri, Erik Larsen, Jim Valentino e Whilce Portacio. A editora tem como princípios fundamentais: a arte de grande impacto (a editora revela artistas como J. Scott Campbell e Greg Capullo), as obras autorais, a não-interferência dos integrantes na criação dos outros e o não-pertencimento total dos personagens pela empresa (cada desenhista possui seu próprio estúdio e, em casos mais avançados, sua própria editora, caso de Jim Lee, que criou a Wildstorm, e Marc Silvestri, criador da Top Cow [Cyber Force, Codinome: Stryke Force, Witchblade e The Darkness]). Além disso, a Image chama roteiristas famosos, como Alan Moore e Neil Gaiman, para desenvolver trabalhos de seus principais personagens - para contornar o problema dos roteiros primários. No entanto, com o passar do tempo, a editora é considerada a principal responsável pela queda da qualidade das HQ - o que não a impediu, no entanto, de ser atualmente uma das maiores editoras de HQ dos EUA, ao lado da Marvel, da DC e da Dark Horse. Primeiras obras da Image Comics, criadas no mesmo ano: Youngblood, de Rob Liefeld, Savage Dragon, de Erik Larsen, e Spawn, de Todd McFarlane (Spawn no. 1 foi a revista independente mais vendida da década. Além disso, o personagem foi adaptado para o cinema em 1997, por Mark A. Z. Dippé); Keno Don Rosa inicia a Saga do Tio Patinhas, uma “biografia” do personagem, em homenagem a Carl Barks, criador do mesmo; Na Espanha, Clara da Noite, de Carlos Trillo, Eduardo Maicas e Jordi Bernet; No Japão, Sailor Moon, de Naoko Takeuchi, série que redefine o conceito do shoujo mangá, particularmente dos mahou shoujo; aparece pela primeira vez o personagem Gon, dentro da série Flash (criada em 1985), de Masashi Tanaka. Esse personagem é o protagonista do mais famoso mangá sem palavras do Japão;· 1993 – Nos EUA, a DC Comics radicaliza: mata seu maior ícone, o Superman (e, posteriormente, o ressuscita), em um evento que mobiliza inclusive a mídia, e, no mesmo ano, transforma o Lanterna Verde Hal Jordan em vilão, na saga Crepúsculo Esmeralda. Ao mesmo tempo, a editora cria o selo Vertigo, de HQ de teor adulto. Sob este selo, saem obras como Sandman, Orquídea Negra, Livros da Magia, Preacher e Transmetropolitan; Estranhos no Paraíso, de Terry Moore; Hellboy, de Mike Mignola (o personagem ganha dois filmes, em 2004 e 2008, ambas por Guillermo Del Toro); Palestina - Uma Nação Ocupada, de Joe Sacco (o maior expoente do chamado Jornalismo em Quadrinhos, já que as histórias se baseiam nos relatos de viagem do autor. Também são de Sacco: Palestina - Na Faixa de Gaza [a segunda parte de seu relato sobre o conflito árabe-israelense], Área de segurança - Gorazde [2000] e The Fixer - Uma História de Sarajevo [2003] [essas duas enfocando a guerra da Bósnia], entre outros);· 1994 – Nos EUA, saem, pela Wildstorm/Image, Wild C.A.T.S. (posteriormente, apenas Wildcats) e G.E.N. 13, ambas de Jim Lee e Brandon Choi; Ao mesmo tempo, Todd McFarlane expande seus negócios com a criação da McFarlane Toys, empresa especializada em fabricar action figures (figuras de ação), bonecos baseados em personagens de HQ e filmes, que chamam a atenção pelo design; Pela DC Comics, sai a megasaga Zero Hora, destinada a resolver problemas de cronologia que permaneceram após a Crise nas Infinitas Terras; Pela Marvel, sai Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross (que, com sua arte quase fotográfica, torna-se o artista de maior destaque dos anos 90); No Japão, Meitantei Conan (Detective Conan), de Gosho Aoyama, Rurouni Kenshin (Samurai X), de Nobuhiro Watsuki, e Mugen no Juunin (Blade, a Lâmina do Imortal), de Hiroaki Samura;· 1995 – Nos EUA, Astro City, de Kurt Busiek, Brent Anderson e Alex Ross; Preacher, de Garth Ennis (o roteirista mais politicamente incorreto da década) e Steve Dillon; Witchblade, de Marc Silvestri; No Japão, Trigun, de Yasuhiro Nightow; B'tX, de Masami Kurumada; estréia o anime Shin Seiki Evangerion (Neon Genesis Evangelion), produzido pelo Estúdio Gainax (escrita e dirigida por Hideaki Anno). Esta série, que posteriormente seria adaptada para mangá por Yoshiyuki Sadamoto, mudou os rumos da animação japonesa, que passou a investir também em séries para o público adulto;· 1996 – Nos EUA, sai, pela DC, O Reino do Amanhã, de Mark Waid e Alex Ross, considerada a melhor minissérie de super-heróis dos anos 90; A Marvel, por sua vez, declara-se falida, ao mesmo tempo que promove o evento Heróis Renascem, onde as revistas dos principais personagens foram desenhadas por alguns de seus ex-artistas, os fundadores da Image Comics: Rob Liefeld, Jim Lee e Whilce Portacio. No entanto, esse evento despertou polêmica, principalmente por parte de Liefeld, cuja arte foi bastante criticada e, devido aos constantes atrasos, sua parte no evento foi assumida por Lee; Ao mesmo tempo, ocorre o evento-chamariz Marvel Vs. DC, quando os personagens das duas editoras são postos para lutar uns contra os outros - sendo que alguns dos embates têm seu vencedor decidido pelos leitores, e outros pelos roteiristas (concomitante a esse evento, Marvel e DC lançam a série Amálgama, de revistas com personagens criados a partir da fusão de heróis das duas editoras); Bone, de Jeff Smith; Big Guy and Rusty the Boy Robot, de Frank Miller e Geoff Darrow; No Japão, Inu Yasha, de Rumiko Takahashi; Shoujo Kakumei Utena (Utena), de Chiho Saito e Be Papas;Yu-Gi-Oh!, de Kazuki Takahashi, mangá que inspirou o célebre card game; Pokémon estréia nos games, concebido por Satoshi Tajiri e Ken Sugimori. O mangá, produzido por Hidenori Kusaka, seria um dos muitos subprodutos do jogo;· 1997 – Nos EUA, Os Invisíveis, de Grant Morrison; Red Rocket 7, de Mike Allred, misto de ficção científica com a história do rock'n roll; Poder Divino: As Aventuras de Max Faraday, de Jim Lee; No Japão, Wampisu (One Piece), de Eiichiro Oda (série considerada sucessora de Dragon Ball e um dos mangás shounen mais vendidos da atualidade), Hellsing, de Kouta Hirano, Eden, de Hiroki Endo, e Futari Ecchi, de Katsuaki Nakamura, o mangá erótico mais vendido da atualidade;· 1998 – Nos EUA, Planetary, de Warren Ellis e John Cassaday; Balas Perdidas, de David Lapham, tematiza a violência; Cidade de Vidro de Paul Auster, adaptação do romance de Paul Auster feita por Paul Karasik, David Mazzuchelli e Art Spiegelman; Estrada para Perdição, de Max Alan Collins e Richard Pyers Rayner (esta HQ seria adaptada para o cinema em 2002, por Sam Mendes); Danger Girl, de J. Scott Campbell e Andy Hartnell; Na Itália, Estigmas, de Claudio Piersanti e Lorenzo Mattotti; No Japão, Vagabond, de Takehiko Inoue, biografia em mangá do célebre samurai Miyamoto Musashi; Fruits Basket, de Natsuki Takaya; Peach Girl, de Miwa Ueda; Shaman King, de Hiroyuki Takei; Hikaru no Go, de Yumi Hotta e Takeshi Obata, HQ que renovou o interesse dos jovens pelo go, tradicional jogo de tabuleiro japonês; Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi; Tenjho Tenge, de Oh! Great (Oogure Ito), mangá que redefine o gênero shounen de artes marciais; estréia o anime Cowboy Bebop, criado e dirigido por Shinichiro Watanabe, que se torna cult entre os fãs de animação japonesa (no mesmo ano, o anime é adaptado para o mangá, por Yutaka Nanten); Na Coréia do Sul, Ragnarök, de Lee Myung-Jin, HQ que inspirou o célebre jogo de RPG on-line;· 1999 – Nos EUA, 300 (Os 300 de Esparta), de Frank Miller (considerada a última grande obra de Miller, foi adaptada para o cinema m 2007, por Zach Snyder); Alan Moore, em parceria com a Wildstorm, então incorporada à DC Comics, lança o selo America’s Best Comics (ABC), pelo qual saem as seguintes séries, todas escritas pelo autor inglês: Tom Strong (arte de Chris Prouse), Promethea (arte de J. H. Williams III), Top Ten (arte de Gene Ha) e A Liga Extraordinária (arte de Kevin O’Neill; esta HQ ganha adaptação cinematográfica em 2003, por Stephen Norrington); The Authority, de Warren Ellis e Brian Hitch, inaugura a chamada “Era de Concreto” dos super-heróis, caracterizada pelas histórias violentas, sintonizadas com a realidade (principalmente após o 11 de Setembro de 2001); 100 Balas, de Brian Azzarello e Eduardo Risso; The Goon, de Eric Powell; No Japão, Love Hina, de Ken Akamatsu, e Naruto, de Masashi Kishimoto, a série de maior sucesso dos anos 2000.Outros artistas japoneses bastante representativos, basicamente do gênero gekigá, são: Suehiro Maruo, autor de O Vampiro que Ri, e Hideshi Hino, autor de A Serpente Vermelha e Panorama do Inferno, dois dos maiores representantes do gênero ero-guro (mangá erótico-grotesco, subgênero dos mangás de terror); Taiyo Matsumoto, autor de Tekkon Kinkreet (Preto e Branco); e Kia Asamiya, autor de Silent Mobius e Dark Angel, conhecido pelos trabalhos feitos no ocidente, como Batman Mangá. Aliás, é o caminho também traçado por artistas como Yoshitaka Amano, que desenhou alguns arcos de Sandman. Por outro lado, aparecem artistas ocidentais que desenvolvem um traço similar ao japonês. É o caso de Adam Warren (Dirty Pair, Titãs: Pedra, Papel e Tesoura, G.E.N. 13 - Grunge: o Filme, entre outras).
Destaque também para as HQ feministas, feitas exclusivamente por mulheres, questionando o mundo masculino ou mesmo simplesmente analisando o mundo em sua forma peculiar. Nesse gênero, podemos incluir a obra da argentina Maitena Burundarena (Mulheres Alteradas, Mulheres Superadas, Curvas Perigosas).

Em breve: a Última parte da História das HQ chega aos anos 2000.
Já que falamos sobre hipervalorização da arte, este desenho, que eu expus certa vez, fala um pouco sobre esse sórdido trabalho que é o de desenhar. Digam se não é verdade, principalmente nos dias de hoje.

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